sábado, 27 de julho de 2013

É permitido sorrir!

Aos 26 anos descobri o som da minha risada. Aliás, descobri os diferentes tipos de riso em mim.

- Um para quando a situação pede um leve sorriso (normalmente com a emissão de um "Hum-hum" breve).

- Um mais encorpadinho, com dentes à mostra, e tendência variando entre "Ran-Ran-Ran" e "He-He-He".

- E aquela que passou a me caracterizar nos corredores do ambiente de trabalho: a gargalhada. Esta não se compara à da Fafá de Belém, claro. Mas surpreende aos que a escutam pela primeira vez. É alta, aguda e tem um crescendo característico de quem está desfrutando bastante do momento.

É bastante libertador reconhecer-me com o direito de sorrir. Parece algo absurdo ou insignificante a ser pensado. Entretanto, para mim não o é, nem sequer um pouco.

Durante muitos anos de minha vida, fui proibida de sorrir. 

Não, você não leu errado! Isso, de fato, aconteceu.

A mulher vista por muitos como eternamente feliz, serelepe, incapaz de ter problemas de grandes ordens, teve momentos de alegria questionados.

Como isso me doeu (calada, mas doeu)! 

Proibir de fazer uma das coisas que mais amo foi como receber um tiro de fuzil no peito. Feriu, ardeu, incomodou. E deixou cicatrizes. 

E me intimidou. Deixei-me intimidar. 

Não sabia o que fazer. Queria evitar a briga, como fiz durante tantos anos. Odeio brigas, escândalos, barulhos. Odeio.


Porém, tolher-me de experimentar sensações de felicidade foi a maneira mais cruel que poderia ter me castigado por ser quem eu sou. 

O pesar permanece, ainda hoje, enquanto desbravo essas palavras com os leitores. Entretanto, a vontade de compartilhar a ferida é maior do que qualquer orgulho incomodado.

Não quero criar um carrasco, uma figura inimiga digna de desenhos animados. Até porque quem o projetou não fui eu. Ele, simples e (in)felizmente, existiu em parte de minha realidade.

A vontade, então, ao me descobrir capaz de não prender mais risos e demonstrações felizes de viver, é dizer-lhes que nunca hesitem de sorrir. É um bom exercício facial, faz bem às células, contagia e recarrega as energias consumidas em nosso dia a dia.

E gargalhe com gosto! Nem se importe com quem faça caras estranhas. Sinta que pode abraçar o mundo naquele instante em que o seu único desejo é parar o tempo - e dizer para si mesmo que a vida é capaz de ser muito melhor.

Porque, no final do dia, descobrirá que o que realmente vale é permitir-se ser feliz.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Notas baixas (e altas)

Nunca lidei bem com notas baixas. Chorei algumas vezes por ter perdido a oportunidade de ter ficado acima da média.

Foram poucas notas vermelhas. Mas houve.

Também nunca lidei bem com notas abaixo de oito. Afinal, no tempo em que a média era sete, se havia ficado com sete e pouco significava que estava no limite. Por pouco poderia estar abaixo do didaticamente permitido.

Nunca fiquei de recuperação. Nunca. Orgulho inflado no peito há anos. Desde os remotos tempos escolares.

Nerd? Por que não? Se sê-lo é gostar de estudar, então, o sou com honra ao mérito.

Caminhando pela lógica das notas, nunca lidei bem com comentários negativos. Críticas em geral.

Assumo que por trás da minha expressão diplomática, com leve balançar de cabeça e talvez sorriso raso, há uma série de questionamentos do tipo: "você acha de verdade isso?", "Como assim?" ou "Mas você observou direito?".

Não sou imune a críticas. Apenas penso que faço as coisas sob o melhor ângulo. E procuro fazê-las com o passar dos anos.

É difícil, bastante mesmo, ser cutucada. Porém, aos poucos, busco me libertar dessa amarra.

Porém, gostaria de fazer uma colocação necessária .

Por muitos anos de vida, apesar dos pensamentos contrários, o rumo foi seguir algumas críticas. "Sim sim não não" por vários lugares aonde passei.

A menina boa (e boba) deixava-se levar por pensamentos até infundados, a fim de evitar conflitos. Odeio conflitos. Odeio odiar, mas o ódio por conflitos é maior do que minha repulsão vocabular.

E fui, fui, fui e herdei cicatrizes que perduram por hoje e seguirão até o fim de meu ser físico.

Elas perturbam. Sempre que viro um pouco mais os olhos para dentro, elas estão lá. São uma parte de mim.
Carrego comigo, talvez, como desafios. Para me lembrar da ardência que algumas me provocaram.

Cresci acreditando, até há pouco tempo, que as tais críticas eram inconvenientes, mas necessárias. Nem todas, claro, o eram.

Há intenções e intenções. Vinganças em comentários visivelmente pretensiosos aos olhos mais atentos.
Entretanto, a vida só me forneceu uma visão mais clara de certos aspectos viscerais da humanidade quase recentemente.

De qualquer maneira, os olhos verdes (por vezes azulados, a depender da luz) viram coisas que não deveria. Ou, ao menos, deveria ser proibido em algumas épocas da vida.

Chorei muitas vezes. Parei a carreira de chorona desde que comecei a entender que lágrimas nem sempre me fariam vencer as decepções.

Desapontamentos regados a maçãs do rosto úmidas lhe enfraquecem perante o combatente.
Sendo assim, precisei secar um pouco o meu canal lacrimal, sempre pronto para novas defesas.
Aprendi a respirar melhor diante de momentos de angústia. E conheci um tom de voz em mim que nunca havia usado - não em situações difíceis.

Então, mesmo que ainda haja algumas notas baixas no meio da estrada, olhares ou comentários de reprovação por algumas atitudes minhas, sempre terei de lembrar do que realmente importa:
Nunca fiquei de recuperação! Não, espera, isso é importante para a sustentação do título de nerd, ok, mas, Endie, concentre-se! (levar bronca da consciência é lasca, né?)

Bem, o que realmente importa é que as notas vermelhas, azuis, verdes, roxas... estarão lá para lhe mostrar um detalhe do caminho. Não é o caminho todo. Afinal, se não fossem as provas seguintes, o zero amargoso em Física (um trauma carregado até hoje) teria me derrubado para sempre.

E na escola da vida, as provas nos mostram que simplesmente definir-se por elas é limitar a visão de possibilidades do tempo, do espaço e, por que não, do infinito.