quinta-feira, 21 de maio de 2015

Meros menos humanos

Gritos constantes, raivas desconcertantes
Vísceras expostas, cuspes de sangue
Turbilhão de ideias desorganizadas
De quê adiantam?
Para quê tão frequentemente se adiantam?

Das etiquetas de grife que clamam por atenção
Às falhas humanas que se expõem
Sem risco de se desafortunarem
Ganham sentido de bons valores
Pura ilusão!

De destruição em destruição
Agressão em agressão
Sinto a pena sangrar
Em cada palavra a desgarrar da mente
Que mente para não lacrimejar

Enquanto corações amam dilacerar
Cérebros cercam a próxima vítima
Sem piedade, torcem por serem temidos
Odiados, odiosos e apodrecidos
Em marcha robótica a um futuro presente insuportável

Na terra que outrora brotava flor
Dor de fato passo a carregar

E mesmo que o fruto escasso do amor
Se desfaça em mil pedaços em meio ao chão
Sem adubo certo
Ou sem boa iluminação
Rezo, peço, penso
Que bom que tal mal
Tal pesado e cortante mal
Não atingiu a todos

Apenas aos muitos tolos
Que pensam serem mais que humanos
Quando, de fato, são menos humanos
Meros menos humanos
Cada vez mais, menos humanos

domingo, 10 de maio de 2015

Homenagem às canções (ou O desejo de aventuras e fartas emoções)

Canções
Tais provas de vivacidade
Pedem apenas ouvidos levemente atentos
Enquanto nos herdam horas, dias e memórias
Sempre prontas a nos despertar

Os sentimentos que se sacrificam por elas
Valem tanto a pena quanto a pena que rabisca lembranças carregadas
Por anos, séculos, milênios de paradoxo emocional
Tais notas em maior ou menor, em sustenido ou bemol
Sétimas, quintas e oitavadas
Que nos fazem carregar fardos
Ou abraços imaginários
Beijos vívidos
Lágrimas a causarem curtos circuitos internos
Nos levando, relevando e nos entregando a paixões
Imaginadas, vividas, cantadas
Postas em figuras aparentemente abstratas
Daquelas que sobem, pausam e descem
Em partituras ou cifras
Tentativas, enfim, de organizar aquilo que nos denuncia
Pelo sorriso tentado a se esconder
Pela maré ocular a escorrer
Pelo brilho eterno de se projetar numa canção

Em um mundo de sangue, carne, força e poder
Esquecemos da liberdade de escolher ser
Apenas por instantes
Preciosos instantes
Amantes, amigos,
Pais e filhos,
Pedras de gelo,
Mármores gelados,
Corações livres ou apertados,
Sorridentes ou careados,
Com direito a reincidências futuras

Afinal, para quê servem as canções
se não para serem repetidas até se impregnarem
em nossas hemácias, nervos ou leucócitos?
De sorrir ou de chorar
De pensar ou respirar
Canções podem nem ser soluções
Mas certamente nos herdam boas aventuras, fartas emoções


Um álbum que me despertou coragem a escrever o texto acima. 
Porque meus melhores estalos mentais vêm através de canções.
Stages, álbum recém-lançado, fez lembrar-me de uma das minhas maiores
inspirações como cantora: canções de musicais.