terça-feira, 26 de maio de 2009

You're the Inspiration, ou melhor, You will always be a wonderful inspiration


Ao escutar algumas canções que marcaram minha adolescência de uma maneira bastante especial não pude esquecer-me do grupo que tantas alegrias me trouxe e que por uma grande lástima teve de terminar: o Cultura Voices.

Para se ter uma noção do quão importante ele foi importante para mim, coloco abaixo a "carta de despedida" que fiz aos meus companheiros caríssimos, principalmente ao nosso great friend-teacher-conductor, Flávio Franca.

E ao transcorrer da produção das palavras e sentimentos abaixo, acredito ser redundante dizer que lágrimas de saudades e carinho rolaram em minha face de, à época, menina-moça.

"Carta às cordas vocais (e por que não ao coração?)


Ao som de músicas que para sempre marcarão minha adolescência, escrevo esta carta a todos que tiveram a grande, e única, oportunidade de dividir os sábados, das 11:00 (ou melhor, 11:10) às 13:00 (que nunca terminava realmente às 13:00, mas às 13:05 ou 13:10), com pessoas (às vezes me pergunto se eram anjos) alegres, divertidas, sérias, tímidas, crianças, adultas, idosas, maduras, molecas, mães, pais, filhas e filhos, mas, principalmente, amantes da boa música. Todos eternamente agradecidos ao nosso maior, e mais amigável, tutor musical: Flávio Franca.

Sopranos (primeiras – e corajosas -, segundas- que na hora “H” sempre se tornavam primeiras), Contraltos (as vozes preferidas de Flávio – tá, eu perdôo desta vez) e Contraltinos (os anjinhos – que Djanete me perdoe por utilizar-me de uma palavra quase patenteada por ela), Tenores (bem, quando tinha Tenor), Barítonos (os sociáveis – já que cantavam com os Tenores e com os Baixos) e Baixos (os vozes de cangaceiros, monstros do Lago Ness, e de mariaches – mas que nunca fizeram jus aos apelidos) compunham o cenário juntamente com o/a pianista do semestre (quantos não passaram pelas notas do teclado) e as três salas de aula no primeiro andar da Cultura Inglesa de Boa Viagem, que sempre esperavam pelas mãos do seu Cláudio, ou de Fernando, para tirarem suas divisórias – whiteboard. Não esqueçam de organizar as cadeiras (largas e desconfortáveis para uma boa postura coralista – noossa, como se todos a utilizassem).

Flávio entrava nas salas com uma pasta-bolsa (nunca soube definir), cheia de partituras, sempre com um sorriso – nunca demonstrava o cansaço que lhe rendiam as 11 aulas de inglês – saudando a todos os pontuais, e perguntando sobre os atrasados. De quando em vez, nosso conductor trazia o moderno teclado (que muitas, e muitas, vezes funcionou como nossa orquestra), conseguido a duras penas, e colocava-o sobre um “X” um pouco aberto. Difícil não era carregar o teclado, mas montar o “apoio” de partituras, que se chamava Hunter . Bom, não era difícil para todos porque tínhamos a enorme ajuda da nossa colega Lorena que sempre nos dava uma lição. Tudo bem, Beth e eu, uma vez, fizemos um curso intensivo de alguns segundos com o nosso melhor guitarrista Ítalo (que era mais dedicado ao coral que alguns coralistas), mas nossos conhecimentos parecem que não duraram muito tempo. Então, o teacher sentava-se no seu mais recente banco verde-limão giratório, que todos, ou a esmagadora maioria, queriam sentar; e pedia a Moisés para dar algumas notas para aquecer as vozes dos coralistas presentes. Besouros pareciam pairar no ar, cantores de ópera com os seus “Ah” ou “Oh” baixavam nos cantores da vez, fanhosos/as também não escapavam do nosso esquente.

Pronto!? Mãos à obra! Flávio ajeitava a primeira partitura no Hunter que daqui a pouco, quando virasse a primeira página, iria diretamente ao chão de carpete azul, e dificilmente voltava (só quando repetíamos a música, ou Carolzinha dava uma de assistente de partitura : P ). Sopranos, com a melodia, começavam sem relembrar a canção mesmo, direto; tinham que tê-la na ponta da língua. E tome comentários de Yang e Endie sobre o não repasso das letras. Outras línguas, às vezes (estou pegando leve quanto ao tempo) rolavam soltas, geralmente vindas dos Contraltos e Baixos (coincidentemente de Késia e Daniel). Algumas vozes agudas femininas insistiam em ser Xororós ou buzinas, e até sirenes de bombeiros. Flávio mudava a posição do banquinho para as Contraltos e os Contraltinos (Andrezinho e Felipe – os anjinhos do “No bis domine”). As sopranos começavam a conversar. “Olha a feira!” – dizia o teacher. Paravam, ou começavam a falar pianíssimo. As vozes da avó da rainha Elizabeth davam vez aos tenores. Flávio cantava com eles, ou melhor, com ele (o grande Guila – que incrivelmente, após vários semestres sem freqüentar o coro, sabia as letras de cor e salteado) e acabava cobrindo a voz dele (às vezes me pergunto como será a voz de Guila cantando – brincadeirinha teacher : P ). Papais Noéis acordem! Os baixos começavam a cantar, ou melhor, literalmente a acordar. “Não, eu quero voz de folha!” – resmungava o condutor, se utilizando de uma das várias definições de vozes do seu vocabulário musical.

Preparados? Todos começam a se ajeitar na cadeira. Mas teacher, standing ou sentado? – algumas sopranos perguntavam. Standing para o ensaio final da música em questão, e sentado quando a canção ainda está em vias de se tornar parte do repertório oficial. Geralmente, sopranos, contraltos e contraltinos começavam. E lá vai: “Alls thes sleaves are brown...” Eita “Ss” exagerados. Frases do tipo: “ Ainda vou descobrir quem é”, ou, “ Já sei de onde vêm esses “Ss”, eram anunciadas pelo maestro (que já tivera até uma batuta – a propósito, que fim levara aquela batuta, que lembrava um cano fino cortado especialmente para servir de batuta?). Tá, recomeçava a música e o “s” aparecia mais tímido, longe, já que levara um puxão de orelha. Todos afiados no California Dreaming? “Não teacher! Acho que as sopranos não estão legais neste final!” – eu pensava alto. Tudo bem, vamos passar de novo. Ok! Todo o coro. No final da música apareciam comentários do tipo: “É tá bom!”, “não agüento mais esta música!”, ou “Acho que as sopranos atrapalharam nesta parte” (geralmente comentário vindo dos baixos – que, muitas vezes, insistem em discordar das sopranos ), e “ As contraltos estavam muito fracas” (algumas sopranos resmungavam).

Próxima canção: uma nova, para variar (só que a nova já não era tão nova porque já estava sendo ensaiada aos poucos havia muito tempo, e parecia nunca ficar pronta). Mal a música começava alguém desistia dizendo: “Ah teacher, esta não está legal, é melhor a gente ir para alguma que já conhece” (escutei muito isso vindo das sopranos). “ The moment I wake up... (ou será: the morning I wake up?)”, lá estava a música de Bia, que fora ensaiada muitas vezes, mas nunca do jeito certo, pois quando chegava no “Please darling believe me (...) Belieeve me (...) When I say there’s no (...) Oone buut you (...) Please love me truuue (...) Please love me true ooh (...) Please love me true (...) Pleeease love me true (...) Pleeease love me true (...) Please love me true oh (...) Love me true forever and ever”. Pronto! Raramente se chegava além disso. Sopranos reclamavam dos baixos, que reclamavam das sopranos. Era uma briga boa de quem estava atrasado ou adiantado. Poor Bia, ainda não foi desta vez.

Houve muitas músicas que compuseram os nossos sábados tão aguardados (que para muitos eram a diversão séria do final de semana). Ainda me lembro de algumas marcantes de quando entrei no coral, aos 14 anos, até dezembro de 2004 quando o coro se dissolveu, aos meus 19, como Greensleeves, You’re the Inspiration, Intermezzo, Let it be me, Moon River, Scarborough Fair (que um dia ei de terminar), Christmas Medley (que trazia as anjinhas e os papais noéis do coro, principalmente no “angels we have heard on high sweetly singing o’er the plains ... glo...ri-a in excelsis de-o”, que trouxe tantas dores de cabeça à Flávio com o “inecheucis” de alguns coralistas insistentes em errar nesta parte todos os anos), Sabbath Prayer, Cantos Kraó, Let the River Run, Blue Moon, We are the Champions, Happy Day, Silent Night, California Dreamin’ e The Lord’s Prayer. Ainda há aquelas inesquecíveis pelo tédio, ou repulsa, geral que provocaram como Wade in the Water, March with me e Beauty and the Beast (em alguns casos de trauma). E finalmente as ensaiadas mas nunca terminadas, nem apresentadas como I’ll Say a Little Prayer For You, All I Ask of You, Gloria (lembram-se desta?), Henrique V (ou oficialmente Henrique VIII por Flávio) mais conhecido também como “no bis domine”, Bridge Over Troubled Water, Andança e ABC do Sertão(sim havia músicas em português no coro de cultura inglesa), The Sound of Silence, Conquest of Paradise, Turandot e Coro di Schiavi Ebrei ou Va pensiero (esta é das antigas). Além das cantadas pelos solistas como She, Imagine, Somewhere Over the Rainbow, Summertime, Yesterday, Swing Low Sweet Chariot, Don’t let the Sun Go Down On Me, e das canções criadas pelo teacher para esquentar as vozes ou para ajudar os coralistas a acharem o tom certo como Suely Maria Antonieta Rosely Mafalda Marylu Patrícia, O Rei Fernando Sétimo Usava Paletó, e Vem Cá Djanete Vem Cá.

Sei que muitos lembrarão das canções acima e que cantarão em mente, ou em voz alta/baixa mesmo, e que por algum motivo indescritível se sentirão tocados pelo espírito de equipe e família que se criou naquele lugar mágico que com certeza deixará saudades, uma palavra tipicamente brasileira que pode ser compreendida pelos coralistas mais sortudos do mundo, creio eu, por terem um grande pai, um amigo, e um professor e tanto que mesmo se esforçando além de seus limites não foi valorizado pelos bambans e pelas pedritas da vida. Mas não vamos nos aborrecer nesta carta-confissão e sim abrir espaço aos bons e memoráveis sentimentos e recordações, sem viver de passado, mas projetando no futuro amizades tão sólidas e bonitas quanto as conquistadas no Cultura Voices.

Parece que finalmente consegui chegar ao último parágrafo da minha carta iniciada em dezembro de 2004, quase aos prantos, e finalizada (ao menos por enquanto) em maio de 2005, com orgulho. Há muita coisa para ser dita, para ser escrita, mas num mundo em que se vive para, e sem, o tempo tento resumir um pouco do que me fez acreditar que um dia pudesse ser mais que uma cantora de chuveiro ou de Karaokê (instrumento que me fez ser “descoberta” por Flávio fazendo-me entrar no coro em 2000). Não digo adeus, mas até logo pois nada está acabado nesta vida e sim por ser completado, e no nosso caso também contemplado, por todos os participantes e admiradores do Cultura Voices de Sábado, das 11:10 às 13:10, na Cultura Inglesa de Boa Viagem e de Boa Música.


Endie Eloah,
primeira soprano,
06 de Maio de 2005."

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Gandhiando

“Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida.

A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora.

Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.

Daria a capacidade de escolher novos rumos, novos caminhos.

Deixaria, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável.

Além do pão, o trabalho.

Além do trabalho, a ação.

Além da ação o cultivo à amizade.

E, quando tudo mais faltasse, deixaria um segredo:

O de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída”.

Gandhi