segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A questão do álcool

Tenho sido questionada, nos últimos tempos em maior intensidade, sobre a minha escolha em não beber. Mesmo dizendo que eu bebo água (de coco ou H2O simples), suco e chá, não me questionam com tanta intensidade a falta de gosto pelo café. Vai ver a bebida alcoólica me tornaria uma pessoa melhor. Ou seria o contrário?

O simples uso do discurso de que "todo mundo faz isso" me repulsa. Enojo piamente a obrigação da estupidez. Não chamo de estúpido quem bebe, mas quem usa o argumento descabido de fazer algo por uma suposta falta de opção social. Estúpido, segundo um dos significados no dicionário Michaelis, é quem falta discernimento. E este último substantivo parece estar bastante carente no mercado das relações humanas.

Desde cedo, lembro-me escutar de minha mãe que haveria de ser provocada pela minha opção em ser mais saudável. Nunca sofri por isso. Sempre levei numa boa, apesar de qualquer casual insistência. Mas os tempos mais contemporâneos andam clamando por insistências pueris. Estamos na era dos resolvidos. Todos sabem o que é melhor para você, para a política, para o amor, para a dor, menos para suas próprias lombrigas.

Brincadeira à parte, criar expectativas não é muito diferente dos tempos em que criávamos, em nossas infâncias pré-adolescentes, os nossos bichinhos eletrônicos (os 'tamagoshis'). A diferença é que alguns não parecem querer admitir que alimentar um aparato tecnológico é bastante diferente de querer alimentar a vida alheia.

Por isso, peço aos que me questionam brutalmente a minha 'falta de gosto até pelo vinho em Paris': Não me alimentem o enjoo pela vida alheia. Busco a preocupação externa como quem busca apenas um contexto a ser lido sem falsas pretensões. Porém, se me pegam para anticristo por prescindir de uns goles de álcool para curtir melhor a vida, sinto-lhes dizer, mas é melhor pegarem os seus copos inebriantes de ilusões e se afastarem para não perderem o sentido da minha presença em suas vidas.

Faço diferente porque me apetece. E se não lhes apetece, sinto-lhes a franqueza de dispensar, a meu ver, a tristeza da realidade sufocante de medos e angústias abafadas por borbulhas travestidas de felicidade. Minha direção não precisa de aplicativos antimulta.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mito da Caverna (de vidro)

Confesso que a minha timidez me atrapalha bastante (ao menos para os que desconheço), mas hoje ela parece ter esvanecido subitamente. Provavelmente o propósito da situação (e do local) fez com que a minha melhor 'arma' (meu sorriso) despertasse aproximações importantes, para o meu trabalho e para a minha caminhada diária de reflexões.
Numa tarde chuvosa, numa sala de vidro, cercada por um verde frio e envolvente, em um dos lugares preferidos de Brasília (talvez por ceder tão bem espaço à cultura), vejo-me aprendendo a viver melhor em sociedade. Fui para trabalhar para uma revista, voltei para trabalhar a minha vida.
"Não quero que me aplaudam porque eu sou uma pessoa com deficiência. Eu quero ser aplaudida por dançar bem e não por causa da minha limitação física".
A dançarina contemporânea, com simpatia firme e nordestina, confessou aos presentes o que podemos começar a perceber ao redor. Perceber que o mundo não é só feito de BBBs, de quem deixou a peça íntima de fora (sem querer querendo muito), ou de seriados e novelas com tendências cada vez mais sanguinárias.
Não quero polemizar. Ou talvez o queira, se polemizar significa propor uma reflexão (afinal, a contemporaneidade adora uma polêmica).
O que de fato é importante? Seguir na linha do "é assim mesmo e nunca vai ter jeito"? Ou pensar que se pode usar, de verdade, os seus neurônios para escutar quem está do seu lado (no trabalho, na vizinhança, na comunidade) e buscar soluções para problemas que persistem desde que o mundo estabeleceu o conceito de "status quo"?
Não resolvi o problema das novas colegas que conheci hoje. Não salvei o mundo e nem conquistei a paz mundial (o complexo das misses). Mas me vi feliz em ter consciência de algumas de minhas potencialidades nesse mundo de extraordinários (cada qual com os seus selfies melhores que os outros, mesmo cometendo crimes de terceiro grau contra a língua portuguesa - "não mim invegi, naisça di novu").
Sozinha? Nada! Tem gente que quer fazer algo, como eu quero. Sem superpoderes. Apenas aproveitando melhor os dias.
Até porque eu prefiro sair da caverna de Platão a ficar nela, que ainda é alimentada a doses cavalares de mitos.