domingo, 22 de fevereiro de 2015

Cupcakes da discórdia

Sugestão de trilha sonora: versão de Somewhere only we know (do Keane), com Carrie Mac

Das coisas que vivi, lembro-me mais dos sorrisos que das quedas. Ando numa fase mais fechada para balanços positivos. Quem e o quê devem me interessar são as respostas que me preservam neurônios e não as que os queimam. Porém, a tarefa é árdua e incômoda. Pinçar espinhos fere e deixa arranhões. Falo do meu passado, meu presente e perspectivas futuras.

Não sei se contar pormenores vale a pena. Creio que não. Entretanto, exemplificar, mesmo que genericamente, facilita a compreensão do que vos falo.

Perguntaram-me, durante a semana, se tenho paciência para as pessoas cujo letramento está em nível bem desvantajoso em relação aos presentes na conversa. Minha resposta foi um sorriso. Afinal, pensei comigo, por que não teria paciência com quem precisa de ajuda e tem escassas condições sociais? 

Gosto de pessoas. Sobretudo das que prestam atenção no que falo e que me permitem escutá-la sem qualquer vínculo de avaliação constante e recíproca. Inclusive, neste meu blog, já falei em meu vício (impulso? mania, talvez? Não encontrei palavra que defina) em ser útil. Sobretudo, socialmente falando. 

Não frequento igrejas. Não gosto de me sentir presa a certas obrigações e proselitismos. Sem falsos moralismos, ok? E nem desrespeito quem o faz. Apenas uma escolha pessoal. Mas, apesar disso, aprendi, durante a caminhada, que me faz falta ser mais Endie e menos automática. 

Quando as pessoas que me conhecem falam o meu nome (em geral, tá? Não dá para ser unânime!), elas sorriem. Porque é isso o que, normalmente, transmito: sentimento bom. Autopromoção? Não. Reconhecimento de que meus anos de dedicação ao ato de ser mais humana, do desconhecido ao familiar, seguem valendo a pena.

Valores do bem estão enraizados em mim. Sejam eles cristãos, budistas, ou qualquer outra nomenclatura na qual acreditem. O que me importa, mesmo mesmo, é poder deitar minha cabeça no travesseiro todas as noites (ou na maioria delas) e dormir sem aquela sensação de que estou prejudicando alguém. 

Pegando carona nesse raciocínio, ratifico a ideia de que pessoas e suas histórias me atraem. Adoro escutar. Prestar atenção e dar feedbacks (sejam de sorrisos, palavras ou apenas olhares). Apetece-me ser humana. Só que está difícil. Por quê? Vejamos.

Valores subnutridos estão circulando em nossa sociedade. Subnutridos de amor, saúde e bem-estar. Tem muita coisa errada, invertida e violenta por aí. 

Não gosto de modismos. Não curto assuntos do tipo "todo mundo está fazendo isso". Primeiro que minha mãe me ensinou que eu não sou todo mundo (aliás, sábias mães que nos ensinaram isso). Segundo que não me acrescenta ser mais uma em meio ao padrão da vez. Quero ser reconhecida pelo o que faço de bom (seja na música, no sorriso ou em algum tipo de ajuda), não pelo o que visto, calço, como ou pago.

O texto não é indireta pra alguém. É direta para os alguéns que habitam o mundo e se esquecem de que todos iremos parar debaixo da terrinha lá do cemitério (ou em outro lugar em que as cinzas forem jogadas). Então, para quê me ferir com ferros e fogos sociais? De que adianta o que não me acrescenta?

Das esquinas por onde passei, andei encontrando mais amarguras que saúde. Doentes ambulantes de razão sofrível me provocam a ser mais feliz. Como? Sem fórmulas! Apenas desfrutando das pequenezes que perdemos de vista quando nos entortamos em direção a satisfações alheias. Fácil escapar das armadilhas sociais? Nadinha! Difícil é conciliar saúde e doença em mesmo ambiente. Contaminar-se é coisa de piscar de olhos. 

Perceba-se mais humano e menos padronizado. Ninguém precisa encaixar sua grande massa em fôrma de cupcake. Experimente apreciar pessoas. Conheça o que gosta (de verdade, não aquilo que alguma celebridade disse) e apaixone-se pela criatura que habita a sua massa. É muito bom sorrir para si mesmo e saber-se capaz de coisas maiores do que a (nada sã) filosofia das mentes enlatadas podem querer.