domingo, 25 de setembro de 2011

Música, orgulho e alegria

Há exatamente um mês eu mudaria o meu rumo, graças a uma oportunidade única da Aliança Francesa do Recife.

Meu sonho seria o mesmo, mas o fôlego no voo seria bem maior.

A música se tornou mais concreta em mim. Eu passava a ser uma vencedora, com certificado e tudo.

Logo no raiar do dia 25 de agosto eu sentia uma brisa diferente. O sol, desde o começo do ano bastante tímido (diria até em crise bipolar), aquecia bem em meio a gotas caídas de um céu grafite.

Não ouvi os Bem-te-vis cantarolarem em minha janela, como o fizeram no chuvoso dia do ensaio em estúdio. Porém, o rouxinol interno não tardou a chegar. Sorriso por dentro e por fora, sentia-me como nunca. Afinal, aquele seria um dia especial que há tanto tempo esperara acontecer. Participar de um festival de música se tornaria realidade.

A ficha, finalmente, caíra logo após o café da manhã.

No Facebook, meu diário de bordo online, eu postava às 8h34:

"Friozinho duplo na barriga: Temperatura de Recife + Festival!
É HOJE!
:D
Segundo meu avô dizia, chuva é sempre bom para varrer as impurezas da humanidade e para trazer boas energias.
Então, beijo me liga, São Pedro! ;) "

O tremilique interno aparecia não por qualquer possível nervosismo, mas pela ansiedade de estar num palco.

Para relaxar um pouco (e inspirar-me) fui ao meu guia espiritual moderno, o YouTube (guia para aquecer o coração com música, risos e inspiração). Lá acalantei-me com a Piaf brasileira: nossa talentosa e adorável Bibi Ferreira. E afim de umas risadas procurei o pessoal dos Barbixas.

Ao aproximar da hora do ensaio no Teatro Barreto Junior sentia-me ainda melhor (seria possível?). Nem uma provável cólica parecia me afetar, assim como qualquer lembrança de um primeiro semestre bastante difícil. O corpo, o espírito, a mente e o ambiente pareciam harmonizados.

Ao chegar no teatro o sorriso se alarga. 'Seria ali o meu aconchego'.

Não desejava o título de campeã. Afinal, eu já era vencedora em reconhecer-me feliz num ambiente no qual me identifico.

Duas candidatas conheceria de cara: Alba e Elisa. Seus ares de divas da MPB não afetariam suas personalidades doces.

A produção apareceu. Milena e Pérola informaram-me sobre os detalhes do ensaio (e um pouco sobre o camarim, logo atrás do palco onde, naquele momento, a banda estava passando o som).

Subi ao palco mais serelepe (por dentro, ao menos) do que uma criança numa loja de brinquedos. Como era legal. 'Eu tenho uma banda só pra mim', pensava. Ensaiei uma, duas vezes. 'É de graça, então eu quero mais uma vez', brincava com os rapazes encantadores e profissionais da banda.

Durante o ensaio via três caras bem animados - que vibravam com minha música. Mal eu sabia que seriam mais 3 candidatos: Deusany, Belfort e Hamilton.

Atrás do palco um extenso espelho com as famosas luzes amarelas. Na estante, logo abaixo, frutas, pães, patês, queijo e Bis. Guardei um deste último para o dia seguinte - 'afinal, chocolate não faz bem à voz quando se vai cantar', lembrei.

Em poucos minutos, as meninas da produção me pediram para escrever em 3 linhas um resumo sobre minha relação com a música. Lascou! Três linhas já eram pouco e em pouco tempo mais ainda. As habilidades da jornalista, lembrando do professor que sempre puxava a orelha para a objetividade minimalista, voltariam velozmente. Não foram 3, mas 4 linhas e meia. Quase nada se comparado às duas páginas que já havia enviado antes à Aliança Francesa. Mas eram a demanda do momento. Inclusive, é bom dizer, fui a mais suscinta de todos. Aliás, tão suscinta que, pela experiência, prefiro caprichar em tempos futuros.

Os outros candidatos chegavam aos poucos. Todos uns amores. Incrível a sintonia. Nada de olhares estranhos, repulsivos ou arrogantes. Cada qual com o seu jeito mais ou menos tímido, engraçado, sério, gracioso. E a harmonia seguiu até a hora da apresentação.

Maquiagens a postos e foi um tal de espírito de mosqueteiros ('um por todos e todos por um'). Uma ajudava na produção visual, o outro no aquecimento vocal, a outra no suprimento de água, o outro na animação, a outra nos conselhos de palco.

Parecíamos amigos de longa data a torcer pelo sucesso alheio.

Os nomes começaram a ser chamados. Um por um, apresentação por apresentação, os que ficavam nos bastidores mandavam energia positiva, dançavam e cantavam com os colegas recém-conhecidos.

"Sete é o número da sorte da minha mãe.
Acabo de adotá-lo para mim também!
7ª cantora a se apresentar no Festival da Canção Francesa, daqui a dois dias!
=D", dissera no Facebook.

A sétima fui eu. Já avisado que queria o microfone paradinho no pedestal (para não haver problemas em recolocá-lo no meio da apresentação).

Depois do meu brevíssimo texto e de um aplauso caloroso da plateia entrei. O coração pulava como milho em panela quente. A música me faria a moça mais feliz do mundo. Os canhões de luz apontados para mim (e os óculos deixados na bolsa - para não atrapalhar o visual) embaçaram a minha visão dos espectadores. Mas eu via a luz. E era a ela que eu me dirigia (sabendo da presença de pessoas, logo abaixo dela, queridíssimas em minha vida).

Cantar foi sublime. Sensação já experimentada em outras ocasiões, porém não daquele jeito. Afinal, estava cantando como Endie Eloah. Solando. Ouvidos só para mim. Momento incrível de emoção e felicidade.

Aplausos calorosos. Gritos amigos de 'Diva', 'Linda' me preenchiam o coração já vibrante.

Sentei-me junto aos colegas de palco e recebi os primeiros elogios diretos. Vieram os próximos. Todos incrivelmente bons.

Todos foram tão profissionais que percebi a dificuldade do juri em escolher os três primeiros.

Enquanto os jurados estavam lá fora a decidir, ficamos com a apresentação incrível de Franck Rivet (legítimo francês) e com a participação especialíssima do Maestro Spock. Ok, assumo: estava ansiosa. Não via a hora de sabermos os resultados. A ansiedade, porém, se estendia a todos e todas.

No intervalo, aqueles abraços impagáveis! Minha mãe e eterna apoiadora foi a primeira. Seguida da minha avó Amélia, minha tia Nice e minha prima Sheyla. O amigo responsável pela inscrição no Festival, claro, estava radiante. Thiago não parava de iluminar o ambiente. A recém-amiga Viviane me presenteava com o sorriso bastante cativante. E a colega de técnicas vocais, Nalige, representava (e muito bem) a nossa professora queridíssima Dijanete ('anjinha' apresentada pelo eterno amigo e teacher incentivador de voz Flavio Franca).

Muitos não puderam ir. Mas muitos me mandaram luz. Luz essa sentida, de fato, pela amiga aqui. Luz vinda de Recife, de Manaus, de São Paulo e, até, da França.

Jurados retornam. Candidatos sobem ao palco. Coração? A sair pela boca.

Entretanto, algo me confortava. Sentia, de certa forma, que estaria entre as três colocações. Ou pelo menos o desejo era enorme.

Minha mãe, Nadja, tão bem me preparou dias antes, ao dizer que estivesse feliz por estar ali, mas que não ficasse a criar expectativas quanto ao resultado (trabalho psicológico de mãe não tem preço).

Terceiro lugar, Gilson Couto. O moço do Couleur Café (que agitara a plateia e os bastidores).

Segundo lugar, Alba Maria. A diva simpatissíma paraense, com forte presença de palco em La Javanaise.

Primeiro lugar? 'Tu ficou em primeiro, Endie', Milton - o moço, a priori, sério e tímido, que também encantara com La Javanaise.

'Eu? Não, Milton. Tem muita gente boa. Você pode ter ficado também.'

'Não, Endie. Vai ser você.'

Não quis querendo acreditar.

E não é que o danado sabia?

Endie Eloah. Primeiro lugar. (a rima, aqui proposital, selou a minha felicidade)

"‎1º lugar na etapa Regional do Festival da Canção Francesa!
Feliz demais da conta! Trop heureuse pelas vitórias: ter conhecido artistas da mais alta qualidade e simpatia; ter iniciado minha longa caminhada em minha carreira musical; e pela torcida super animada dos amigos e da família!
Rio de Janeiro, aí vou eu para a etapa Nacional (em novembro)!
Eu e a minha mais nova amiga artista: a paraense talentosíssima Alba Maria!
:D", publicaria no Facebook no dia seguinte, às 8h55.

Sensação de alegria, prazer, alívio, emoção, luz, calor e paz. A melhor noite de minha vida.

O carinho dos colegas de palco (todos ganhadores por estarem ali e por imprimirem tamanha união), da banda, da produção e, claro, da família, dos amigos e da plateia foi incalculável.

Foi sublimemente lindo. E me renovei.

Dali, segui a um barzinho com amigos. De lá, travesseiro (mesmo a alma a pedir mais, com o corpo pedindo descanso).

E cá estou. Ainda feliz, claro. Aliás, é uma de minhas fontes de felicidade. Qualquer probleminha: 'Endie, lembra: você ganhou um e vai para outro no fim do ano'.

No YouTube as visitas foram grandes. Sim, publiquei dois vídeos no festival: o da música (Les P'tits Papiers) e do agradecimento emocionado.

E assim vou. Seguindo acreditando no poder da música em mim e na dimensão que ela terá a medida que me tornar mais e mais profissional (e, consequentemente, conhecida).

O meu muito obrigada a todos e todas que proporcionaram a oportunidade de ser quem sou. À família, aos amigos, aos não muy amigos, aos ídolos e a Deus.

No mais, Rio de Janeiro, aí vou eu! :)

Alba-Gilson-e-Eloah-finalistas-do-Festival-da-Canção-Francesa-0443

 

 

Alba, Gilson e eu.

 

Festival turma

Os candidatos: Gilson, Belfort, Alba, Deusany, Helena, Milton, Endie, Leo Zadi, Elisa, Leo Trevas e Hamilton.

2 comentários:

Kati Monteiro disse...

Ontem mesmo mostrei alguns do seus vídeos ao meu namorado...ele ficou impressionado com sua voz, especialmente no medley O Fantasma da Opera.
Continuamos na torcida! E que venha a próxima etapa!
Beijo

Endie Eloah disse...

Muitíssimo obrigada pela torcida, Katy!!
Ainda mais torcida vindo de tão longe! :)
Beijoo!!