segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Arranhando o disco aos 26 anos

Já se sentiu perdido em algum momento próximo ao seu aniversário?
Como se a agulha do tocador de LP de repente parasse e chegasse até a arranhar seu precioso Long Play?
A música parou por um instante.
Um instante crucial daquela faixa.
Talvez o mais importante para a harmonia do ambiente.

Subitamente você para a dança, o sorriso, ou pior, a cantoria.
E repara no ambiente.
A música, como uma ducha fria num dia congelante, te desperta para uma realidade distante da que você figurava enquanto vivia o sonho com o disco.

Antes que você possa voltar a por a agulha no lugar percebe que não há mais volta.
Você já não consegue tirar o olho da bagunça, da poeira, da realidade enferrujada.
Então, o ar que você exala paresse ficar escasso.
Um frio ronda o seu ventre.
A garganta entala.
A saliva se esvai.
E quando a pontada no peito chega, bem, assume a hora o desespero.

'O que eu fiz de minha realidade?' - você se intimida aos prantos vindouros.
A música fantasiava tudo tão bem que nem havia tempo para se preocupar em limpar os móveis, fechar a janela na época da chuva e evitar que papéis importantes em sua vida fossem desperdiçados.

Seria tão mais prático voltar a se concentrar no LP. Mas e o que há de concreto?
E as questões persistem em sua mente já torpe de pensamentos conflituosos.
'Por que me levei até este ponto?'
'Onde estava antes dessa bagunça?'
'Onde estão todos que pareciam estar comigo durante a música?'

Por mais difícil que seja aceitar aquele cenário é de sua responsabilidade.
É sua 'casa'.
É sua vida.

Aos poucos a claridade chega. A vista vai desembaraçando.
Porém, nada que faça tudo aquilo desaparecer. Pelo contrário, a realidade se torna tão lustrosa que você enxerga falhas há bastante tempo existentes por ali.
E compreende o valor do tempo perdido.

Não há memória que atinja o seu objetivo naquele momento: você não vai conseguir num piscar de olhos voltar e evitar o que aconteceu.

Entretanto, num súbito ar otimista que chega aos seus alvéolos, você percebe que ainda tem acesso ao tempo presente e evitar um reforço de um passado desperdiçado.

Não vai ser nada prazeroso limpar essa bagunça toda.
Ninguém disse que ter uma casa seria fácil.
Brincar de Barbie sempre será divertido.
Mas não será a sua vida.

Meu aniversário se aproxima novamente. Como há 26 anos. Muitos dos planos passados foram molhados e apagados. Não têm volta. Aqueles papéis já estão rotos demais para serem reescritos.

Separar o lixo é árduo. Chato. E meio angustiante. 'Por que os deixei se decompor?'
Foram-se.

Há outras chances, claro. Há papéis em estados melhores, ou menos piores.
E há sempre uma reserva de 'Chamequinho' e de caneta 'Compactor' (a Bic anda uma porcaria por isso a mudança necessária - tá vendo como é bom perceber certas coisas?).

Tenho saudades da música. Cantar é sempre tão mais feliz do que por as mãos na vassoura.
Aspirador de pó seria mais rápido, mas em nossas vidas não temos tanta tecnologia quando se trata de recolher momentos passados para a pasta 'Lixeira' de nosso próprio sistema operacional.

Bem, ando com ideias preguiçosas. É tão melhor metaforizar a vida do que vivê-la.
É lasca mesmo.
Então, com licença, preciso me lascar um bocado - afinal, a poeira está aumentando. E há indícios de nova chuva - caso não consiga organizar os móveis daqui até chegar à janela talvez mais papéis sejam perdidos.

2 comentários:

Kati Monteiro disse...

Endie emotiva, triste, saudosa...
Saudosa de coisas que se foram e das que poderiam ter sido.
Mas Endie, os papeis rotos se empilhando nas lixeiras não significam que a mensagem que eles transmitiam não foi absorvida. Eles estavam ali cumprindo um "papel".
Outros virão, com novas mensagens. E precisam de espaço.
"Tenho saudades da música", é possível sentir saudades do presente, ou so do passado?
Senti uma angustia sutil nessa sua frase.

Se cuida! E boa sorte nesse novo ano que ta chegando, os 26!
Beijo

Endie Eloah disse...

Katy, é uma mistura de sentimentos que buscam se abrigar equilibradamente em mim - mas que pelo pouco espaço acabam se acotovelando.

Assumo as angústias predominantes.
Frustrações, diria.

É muito mais fácil para mim, como disse, viver na música, em meu caso, nos sonhos, na fantasia.

Difícil é sempre ter que acordar todos os dias e ver o quanto eu preciso viver mais a realidade.

Mas obrigada pelo apoio de sempre, viu?
;)

Sei que esses 26 anos serão melhores que os 25.
Ah serão!
:)
Beijo!!