domingo, 18 de agosto de 2019

A espera / L'attente

Texto escrito após inspiração do filme "Lembranças de um amor eterno", com Jeremy Irons e Olga Kurylenko. Trilha sonora para inspirar a leitura: 


O que somos senão um infinito de "esperar"?

Esperamos que nosso dia seja bom. Que a chuva não nos pegue de surpresa.
Que a saúde permaneça. Que não percamos o próximo transporte pra casa.
Que o calor diminua. Ou que o frio não seja tão cruel.

Esperamos que a dor desapareça. Que a tristeza se esvaia. De nós ou de alguém.
Que a surpresa seja positiva. Que ao virar do dia, com a cabeça no travesseiro, o desencanto se transforme em "apenas mais um pesadelo".

Esperamos que possamos ser capazes de amar. Que alguém nos ame. Que um outro nos espere. Que a espera não evoque a sensação de "infinito". Que a expectativa seja real. Que seja recíproco.

Esperamos que nossos sonhos se realizem. Que o projeto seja aprovado. Que nossa dedicação seja reconhecida. Que não haja tanta espera pelo resultado almejado. Que o bom pressentimento seja real. Que possamos chorar de alegria com a capacidade da realização.

Esperamos que nossa ignorância seja reduzida. Que o conhecimento nos forneça respostas. Que sejamos exceção em meio aos padrões. Que tenhamos acesso a outras exceções. Que verdades sejam questionadas. Que nossas ideias sejam aceitas. Que as certezas sejam transformadas para não nos aprisionarem em ditaduras mentais e emocionais.

Esperamos que o tempo esteja sempre a nosso favor. Que nossa mortalidade seja prolongada.
Que na morte não nos esqueçam. E que ao final de cada "esperar" haja sempre a possibilidade de um novo "recomeçar".

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Texte écrit après l'inspiration du film "La corrispondenza" avec Jeremy Irons et Olga Kurylenko. Bande sonore pour inspirer la lecture :


Que sommes-nous sinon un infini "d'attendre" ?

Nous espérons que notre journée sera bonne. Que la pluie ne nous prenne pas par surprise.
Que la santé restera. Que l'on ne rate pas le prochain transport de retour.
Que la chaleur sera réduite. Ou que le froid ne soit pas si cruel.

Nous espérons que la douleur disparaîtra. Que la tristesse disparaisse. La nôtre ou de l'autre. Que la surprise sera positive. Qu'au lendemain, avec la tête sur l'oreiller, le désenchantement se transformera en "juste un autre cauchemar".

Nous espérons pouvoir aimer. Que quelqu'un nous aimera.
Qu'un autre nous attendra. Que cette attente n'évoque pas le sentiment de "l'infini".
Que l'attente sera réelle. Que ce sera réciproque.

Nous espérons que nos rêves se réaliseront. Que le projet sera approuvé.
Que notre dévouement sera reconnu. Que l'attente pour le résultat souhaité ne soit pas long.
Que le bon sentiment sera réel. Que l'on pourra pleurer de joie devant la capacité d'accomplissement.

Nous espérons que notre ignorance sera réduite. Que la connaissance nous apportera des réponses.
Que l'on sera l'exception parmi les standards. Que l'on pourra avoir accès à d'autres exceptions.
Que les vérités seront interrogées. Que nos idées seront acceptées. Que les certitudes seront transformées pour ne pas nous emprisonner dans des dictatures mentales et émotionnelles.

Nous espérons que le temps sera toujours en notre faveur. Que notre mortalité sera prolongée.
Que dans la mort personne nous oubliera. Et qu’à la fin de chaque "attente", il existe toujours la possibilité d’un nouveau "recommencer".

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

La lecture angoissante à l'époque des réponses faciles / A leitura angustiante na época de respostas fáceis


A chaque page d'une lecture envisagée, un souffle d'espoir dans l'avenir est éteint. Au lieu de trouver des réponses, un panoplie de nouvelles questions sautent à toute force. L'ignorance est plus claire durant le parcours de chaque nouveau paragraphe. Et comme dit lucidement le formidable provocateur d'une pensée complexe, le philosophe et sociologue Edgar Morin (La Voie, 2011) : l'ignorance ne peut pas être ignorer. Ni encore le fait que notre connaissance est un facteur de cécité. 

Par ailleurs, les livres, et je n'ose pas distinguer les bons et les mauvais (étant donné que c'est quasiment impossible d'évoquer un tel sujet pensant aux mauvaises écritures), les bouquins sont comme la nature, qui peut être dévoillée selon le degrés d'approche envisagé par l'explorateur. Sans compter le fait que par l'intermédiaire de la lecture on s'approche de notre version plus primaire. La version de l'ignorance. Parfois, de la submission au néant intellectuel. En conséquence, pas tous veulent être exposés à une possible (ou probable ?) angoisse rationnelle. 

D'après la journaliste et écrivaine Samar Yazbek (Les Portes du Néant, p. 25), "nos imperfections nous rendent entiers, songeais-je. Et nous sommes incomplets quand nous sommes entiers". Le contexte de la citation est très particulier. Néanmoins, sa force ne supprime pas le besoin de son emploi dans le présent texte. À cette inquiétude j'ajoute encore Morin et son doigt sur la plaie : "La gigantesque crise planétaire est la crise de l'humanité qui n'arrive pas à accéder à l'humanité" (La Voie, p. 28).

Pour suivre cette pensée déjà troublante, je présente l'un de mes auteurs préférés, le sociologue Dominique Wolton. Selon lui, dans son ouvrage Informer n'est pas communiquer (p.11),“l’enjeu est moins de partager ce que l’on a en commun que d’apprendre à gérer les différences qui nous séparent”. Par l'intermédiare de la connaissance on pourrait aller loin dans le débat. Cependant, il vaut mieux reconnaître d'abord que "nous vivons ainsi dans une société où les solutions que nous voulons apporter aux autres sont devenues nos problèmes" (Morin, 2011).

En outre, Wolton nous rappelle que "l’information accessible est devenue une tyrannie". Or, on observe ce phénomène quotidiennement dans les manifestations sur les canaux de communication digitale, notamment dans les réseaux sociaux. Encore Morin, "le présent n'est perceptible qu'en surface" (La Voie, 2011). De crainte que je reste dans cette surface ordinaire, je reprends le plaisir de la lecture. Afin de continuer à élargir mon champs de questions à propos de cette vie, si effrayante et largement loin d'être résoluble.

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Em cada página de uma leitura almejada, um sopro de esperança no futuro que se extingue. Em vez de encontrar respostas, várias perguntas novas surgem com força total A ignorância é mais clara no decorrer de cada novo parágrafo. E como diz lucidamente o provocador formidável de um pensamento complexo, o filósofo e sociólogo Edgar Morin (La Voie, 2011): a ignorância não pode ser ignorada. Nem ainda o fato de que nosso conhecimento é um fator de cegueira.

Além disso, livros, e não me atrevo a distinguir os bons dos ruins (uma vez que é quase impossível evocar tal assunto pensando nos maus escritos), os livros são como a natureza, que pode ser revelada de acordo com o grau de abordagem previsto pelo explorador. Sem mencionar o fato de que através da leitura nos aproximamos de nossa versão mais primária. A versão da ignorância. Às vezes, da submissão ao nada intelectual. Como resultado, nem todos querem ser expostos a uma possível (ou provável?) angústia racional.

Segundo a jornalista e escritora Samar Yazbek ("Les portes du néant", p. 25), "nossas imperfeições nos tornam inteiros, pensei. E somos incompletos quando estamos inteiros". O contexto da citação é muito particular. No entanto, sua força não elimina a necessidade de seu uso neste texto. À essa angústia, acrescento Morin e seu dedo na ferida: "A gigantesca crise global é a crise da humanidade que não alcança a humanidade" (La Voie, 28).

Para acompanhar esse pensamento já problemático, apresento um dos meus autores favoritos, o sociólogo Dominique Wolton. Segundo ele, em seu livro "Informer n'est pas communiquer" (p.11), "o desafio não é tanto compartilhar o que temos em comum, mas aprender a administrar as diferenças que nos separam". Através do conhecimento, poderíamos ir longe no debate. No entanto, é melhor reconhecer primeiro que "vivemos em uma sociedade onde as soluções que queremos trazer para os outros se tornaram nossos problemas" (Morin, 2011).

Além disso, Wolton nos lembra que "a informação acessível tornou-se uma tirania". Ora, observamos esse fenômeno diariamente em eventos nos canais de comunicação digital, principalmente nas redes sociais. Ainda Morin, "o presente só é perceptível na superfície" (La Voie, 2011). Por medo de permanecer nesta superfície comum, retomo o prazer da leitura. A fim de continuar expandindo meu campo de perguntas sobre esta vida, tão assustadora e longe de ser solucionável.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Condução emocional / Conduite émotionnelle


Jardim Botânico Real - Edimburgo / Jardin Botanique Royal - Edinburgh
O que me paralisa? O que me faz frear tanto ou mesmo pegar as ruas sem saída? O medo que tanto questiono e condeno ou a certeza criada em função das cicatrizes que a pele não deixa escapar? Na estrada, a trilha sonora escancara do que procuro escapar. Entretanto, há pressões atmosféricas que não saúdam bem a rajada de questionamentos sobre os "e se" que mexem na condução do veículo. Mesmo sem experiência no trânsito, por medo (ir)racional encrustado há muitos anos, a necessidade de dirigir se instala. 

Na rodovia, conduzi durante muitos anos próximo ao acostamento, por ser mais seguro em caso de crise potencial. Desejei crises ou as antecipei? Talvez ambas as opções. É mais fácil se apoiar no argumento de problemas em potencial do que experimentar utilizar as curvas da estrada e até arriscar conduzir pela esquerda. A quilometragem alta para quem está acostumada à condução da autoescola, porém, assusta e enfraquece as pernas. Então, assim, mesmo com potencial de quem poderia dar conta de um caminhão, paro o veículo por várias vezes e prefiro esperar por uma tranquilidade aparente da estrada. 

Mesmo que livros, canções e filmes tenham me estimulado a acreditar em rotas aventureiras, daquelas que tiram o fôlego e nos fazem rir sem freios, a realidade estável e sem emoções me é mais habitual. O que me falta? O cinto de segurança está sempre presente, mas a segurança interna... esta não me falta em outros departamentos. Porém, nesse contexto das emoções que te fazem sorrir para o nada ao saber simplesmente que um outro te aguarda, o status quo que tanto odeio parece me confortar fácil e rapidamente. E assim deixo a fantasia tomar conta do volante mais uma vez. 

Talvez mais essencial é saber a resposta ao que me foi perguntado recentemente duas vezes: o que procuro? "O que todos procuram", respondi. Mas será mesmo que é o que todos procuram ou sigo me apoiando em ideias reproduzidas sobre os quais nem mesmo seus autores estão seguros? A lógica do "ad populum" nunca me foi cara. Todavia, ela é usada facilmente como carta na manga em uma resposta que deveria ser menos previsível e mais pessoal. Mesmo sendo da área da comunicação, há palavras, como "pessoal", que me são confortáveis apenas no mundo das ideias. 

Então, condutora, o que procuras tu? Seguir tentando os evitamentos da estrada ou estar disposta às vezes a sentimentos nunca manifestados antes por puro medo da perda do controle emocional? Controle este que não tem a ver com loucuras degeneradas e sim com prazeres inexplorados. Como o prazer de não ligar para o que os outros pensam de uma risada gigante, ou o de poder se sentir humana fora das páginas dos livros, das estrofes das músicas preferidas ou das cenas dos filmes que tanto ama.

Para quem gosta de estudar crises, acredito que esteja mais do que na hora de não deixá-las controlar a sua rota. A condução nem sempre pode ser previsível. Pode ser segura como convém. Mas ela não precisa nos segurar das possibilidades reais do caminho. Vai haver dificuldades, como sempre há. Momentos nem sempre gloriosos. A trilha sonora pode nem sempre harmonizar com o tom natural da voz. Porém, é preciso conduzir. Então, conduza! O seu veículo certamente está pronto até para as incertezas dos vocábulos "certo" e "pronto". Liga o motor, sem esquecer do cinto e nem do sinto. Porque sentir é bem quisto. E como eu sei que isso é o que eu quero!

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Qu'est-ce qui me paralyse ? Qu'est-ce qui me fait autant freiner ou même me retrouver dans des rues sans sortie ? La peur que je questionne et condamne ou la certitude créée par les cicatrices que la peau ne laisse pas partir ? Sur la route, la bande sonore montre largement de ce que j'essaie d'échapper. Cependant, il existe des pressions atmosphériques qui ne répondent pas à la vague de questions sur les "et si" qui affectent la conduite du véhicule. Même sans expérience de conduite, pour une peur (ir)rationnelle incrustée pendant de nombreuses années, la nécessité de conduire s’installe.

Sur l’autoroute, j’ai conduit pendant de nombreuses années près du bord de la route, car c’est l'option la plus sécuritaire en cas de crise éventuelle. Voulais-je des crises ou les anticipais-je ? Peut-être les deux options. Il est plus facile de s’appuyer sur l’argument des problèmes potentiels que d’expérimenter les courbes de la route et même risquer de conduire à gauche. Le kilométrage élevé pour ceux qui sont habitués à la conduite de l’auto-école effraie et affaiblit les jambes. Donc, même avec le potentiel de quelqu'un qui pourrait conduire un camion, j'arrête le véhicule plusieurs fois et préfère attendre une tranquillité apparente de la route.

Même si des livres, des chansons et des films m'ont incité à croire en des itinéraires aventureux et époustouflants qui nous font rire sans freins, la réalité stable et sans émotion m'est plus commune. Qu'est-ce qui me manque ? La ceinture de sécurité est toujours présente, mais la sécurité intérieure ... elle n'est pas absente dans les autres départements. Mais dans ce contexte d'émotions qui font sourire au néant, sachant simplement qu'un autre vous attend, le statu quo que je déteste vivement semble me réconforter rapide et facilement. Et donc je laisse la fantaisie reprendre le volant encore une fois.

Le plus essentiel est peut-être de connaître la réponse à ce que l’on m'a récemment demandé deux fois : qu'est-ce que tu cherches ? "Ce que tout le monde cherche," dis-je. Mais est-ce vraiment ce que tout le monde cherche ou je m'appuie sur des idées reproduites dont même leurs auteurs ne sont pas sûrs ? L'argumentum ad populum ne m’a jamais été cher. Cependant, il est facile de l'utiliser comme "ayant une carte dans la manche" même pour une réponse qui devrait être moins prévisible et plus personnelle. Même étant du domaine de la communication, il existe des mots, tels que "personnel", qui ne me conviennent que dans le monde des idées.

Pour quelqu'un qui aime étudier les crises, je pense qu'il est grand temps de ne pas les laisser contrôler l'itinéraire. La conduite peut ne pas toujours être prévisible. Cela peut être en sécurité comme il convient. Mais cela n’a pas besoin de nous retenir des possibilités réelles du chemin. Il y aura des difficultés, comme il y en a fréquemment. Pas toujours des moments glorieux. La bande sonore peut ne pas tout le temps s'harmoniser avec le ton naturel de la voix. Mais il faut conduire. Alors conduis ! Le véhicule est certainement prêt, même pour les incertitudes des mots "sûr" et "prêt". Démarre le moteur sans oublier la ceinture ni la sensation. Parce que le sentiment est bien aimé. Et je sais bien que c'est ce que je veux !