segunda-feira, 5 de abril de 2010

Abaixo da linha da pobreza

Estou cansada de tanta coisa na minha vida, de tanta mesmice, de tanta repetição, de tanta estagnação, de tão pouco, de tantos muitos apenas no imaginário.

Estou cansada de mim mesma.

Que fim levou minha realidade sonhada para os 25 anos?

A menos de 1 ano de completar a idade desejada quando mais nova me sinto tão impotente e incapacitada.

Sabe aquelas brincadeiras que a gente fazia quando era criança, principalmente as meninas, de colocar a idade, o nome do menino que mais gosta, a profissão e quando vai se casar e tal e coisa? Eu achava que 25 anos era uma boa idade pra casar.

Depois fui crescendo e vi que não era. É muito pouco.
Bem, a gente vai se aproximando da idade e vê que ela nada representa de fato como a gente a enfeita.

Não reclamo de casamento, até porque é uma instituição que pretendo concretizar, mas só depois dos 30 anos (acho que mesmo nos 30 se não estiver casada não devo mudar de opinião... 30 é bom pra estabilidade profissional, pessoal...).

Enfim, mas o que me falta, o que me traz um rombo enorme em minha garganta, em meu peito, o que resseca minha mente e meus olhos é a falta de perspectiva realística.

É tanta fantasia, tanto sonho - desde criança crio tantos planos - que se tornaram parte de um mundo paralelo o qual se tornou irritante pra mim, por não se concretizar nunca.

Nunca nunca não. Pelo menos o de ser poliglota eu concretizei antes dos 20 anos.

Mas e daí?

Estou desempregada, desimpedida pessoal e profissionalmente, cansada de procurar em lugares errados pessoas erradas e profissões erradas.

Eu quero é cantar. Mas não no chuveiro, na pia da louça, na apresentação do grupo religioso. Eu quero é cantar pra um público que goste do meu trabalho, da minha paixão por música. Quero algo maior.

Eu não sei como esse boom vai acontecer (se vai acontecer um dia), mas eu me angustio a cada novo começo de semana.

Sinceramente, eu não aguento ficar esperando até sabe-Deus-quando pra entrar num conservatório, aprender música clássica e tome mais 5 anos de estudos e blablabla...

Estou tendo aulas de canto com uma professora encantadora. Prof. Djanete Perruci.

É muito bom ver meu desempenho em pouco tempo.

Mas eu queria mais. Queri poder adiantar as angústias da semana, do mês, do ano novo, da idade nova, dos sonhos antigos, dos remorsos amargos.

E não é só isso.

Eu me graduei em jornalismo. Tenho tanto amor e "ódio" por esse ofício.
Amo escrever, mas não para páginas de um jornal. Eu queria escrever mais livremente, como que para uma coluna.

Mas não tenho Q.I., nem dinheiro para bancar uma.

O mercado é tão limitado, pobre e desmoralizado aqui pelas bandas do nordeste.

E pra ir pro sudeste e tentar a vida numa empresa de pensamento contrário ao meu eu não vou.

Sou teimosa, eu o sei bem.

Essa minha teimosia seletiva me arrasta pro fundo do poço, sabia?

É por isso que eu nunca me levanto.

Parece melhor ficar deitada esperando a chuva da bonança chegar.

O curioso é que eu passo uma impressão de felicidade e otimismo medonhos. Mas pra mim eu sou muito penosa.

Mesmo que muitos digam que tenho talento porém eu vejo que há tantos que desejam que eu me conforme em sonhar mais baixo, em ficar na terra natal.

Só que eu não me vejo por aqui. Se eu ficar por aqui eu definho de vez.

Terra linda e desgraçada.

Digo mesmo.

É violência (pense num medo!), é calor infernal (estou vendo a hora de derreter), é grosseria (eu acho que nunca vi uma época de gente tão desrespeitosa), é falta de oportunidades.

Também queria atuar.

Ou seja, eu só amo o que não traz futuro.

Deveria querer ser "doutora", né?

Mas meu espírito não condiz com as letras da lei. Só pra concursos.

E olhe lá. Eu até que começo os preparatórios fazendo um zilhão de planos pra me organizar.

E quem disse que eu consigo cumprí-los? Consigo não!

Abro o computador, vejo e-mail, orkut, sites... e estou eu em outros assuntos.
Paro, levanto quinhentas vezes, bebo água, como, penso na vida, me enfadonho da matéria, penso que sei, nada sei, me arreto quando não sei...

E repenso no que estou fazendo (e deixando de fazer).

Quero mesmo fazer parte do funcionalismo público?
Com que projeto de vida?
O que eu quero fazer?
Quem eu quero ser?

E as respostas mudam a cada semana nova, com misérias pessoais novas.

Parece que estou com uma barriga farta e devem me olhar com visão esganadora.
Já escutei: "tem tanta oportunidade", "tantos com tantos problemas e você aí"...

Mas eu digo e redigo: a pior miséria é a da alma.

E a minha, ultimamente, está abaixo da linha da pobreza.

Está na hora de encontrar um bolsa família pra ela. Não algum paliativo. Algo que estimule a pensar que o cenário pode mudar - só não sei pra onde.