terça-feira, 23 de abril de 2013

Ando procurando


Ando procurando não me aborrecer, mas está difícil...

Ontem um motorista desembestado arrancou o ônibus enquanto eu subia com mochila pesada após 24 horas "no ar" (entre viagem e trabalho). Dois palavrões simples e a sensação de revolta me pertenceram.

Ando procurando não me aborrecer, mas está difícil...

Pela manhã, um barulho similar a duas britadeiras estremece as paredes vizinhas e a conclusão de uma nova reforma no prédio chega à mente. Aumento a música e canto pop/rock na altura e intensidade do Chester Bennington.

Ando procurando não me aborrecer, mas está difícil...

Hoje dois motoristas abestalhados (para ser eufêmica) 'queimaram' a parada após um dia de trabalho. Duas pernas saudáveis e a ideia fixa de voltar para casa caminhando a passos firmes.

Ando procurando não me aborrecer, está difícil, mas...

Lembro-me da situação de saúde delicada de uma familiar bastante querida, após infarto e ausência de funcionamento de alguns órgãos. Ponho os alvéolos pulmonares para funcionarem em conjunto com os axônios e dendritos, para ver se consigo, ao menos em doses homeopáticas, ressecar a dificuldade inflada.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Prévia sentimental

Estive com uma dor de cabeça inconsequente durante esta tarde. Destas que atingem os bastidores dos olhos. Será que algo não visto incomodava-me?

Pudera! Pensamentos juvenis de um coração dado por perdido invadiram a mente da mulher sonhadora. Vinte e sete anos de reflexões constantes sobre todos ao meu redor renderam-me um desprendimento tamanho da realidade, mesmo nela inserida, que me conduziram a uma prévia sentimental angustiante: por que eu não sei o que é estar apaixonada?

Encanto-me fácil pelas possibilidades do que é belo e único. Mas ao me inserir em contextos mais factíveis pego-me numa cilada conflitante. Sou tanto amor e nunca amei. Incompreendo-me: eu sei o que é amar?

Sorrisos cheios não parecem preencher o vazio da dúvida.

Mas e a paixão em minha vida? A chama que arde no ventre humano que faz romper ciclos normais de batimentos cardíacos? Acho que no máximo, para ser otimista comigo, já enxerguei sinais de fumaça internos. Bom ou ruim? Enfim, houve.

É claro que a romântica declarada desejou poder se sentir como as protagonistas das comédias românticas das quais tanto gosta. O "par perfeito" ficaria de fora, afinal a realidade não é tão simétrica.

Então, o que faltou? Não, espera! Ainda não acabou!

Então, o que falta? Não espera!

Repreendo minha energia ilógica sobre esse desconhecido amor.

Desconhecido? Não em um contexto familiar, atesto.
Em contexto de relacionamento a dois, protesto.

E entre infinitas autorreflexões, consigo ouvir as vozes mais importantes em minha vida:

"Minha filha, a vida sem amor não vale a pena", afirma com propriedade a minha avó materna.

"Endie, você é única e cheia de luz. Então, não se arrependa sobre essas questões", conforta convicta a minha mãe.

Assim, sorrio mais leve com a lembrança de amores fraternais na esperança de amor(es) a dois.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Subindo à superfície

Sinto-me presa.

Uma âncora na garganta que me prende no fundo de um oceano profundo de frustrações.

Falta ar.

Quero subir à superfície, mas tenho medo de que um nó de marinheiro ate as minhas mãos para que não consiga chegar à terra firme.

Os peixes estranhos que perpassam ao meu redor me encaram curiosos, posso até jurar que me ofertam sorrisos. Alguns, apontam suas barbatanas em direção ao Sol. Dançam em círculos obtusos ao redor de meus olhos confusos.

Quero subir à superfície, mas meus pés parecem estar acomodados ao plano arenoso.

Há tubarões impávidos rondando por entre os arrecifes, como num sinal de demarcação territorial.

Porém, são as arraias que me assustam. Estas, que voam com suas asas aquáticas pelo cenário aparentemente calmo, trazem discretos ferrões em suas caudas. E estes, por sua vez, me endurecem o espírito, congelando melhores expectativas que possa ter em relação às minhas causas próprias.

Quero subir à superfície e meus pulmões inundados se abraçam ao meu coração enlameado de paixões ressecadas.

Meu fôlego resvala. As últimas moléculas de oxigênio vão escapando se eu seguir neste mundo subaquático, aparentemente encantador, mas, em verdade, agoniador.

Então, num impulso meu desequilibrante, que me toma o último átomo de oxigênio, começo a subir em direção à superfície que estranhamente me cega - talvez pelo brilho que me aguarda, talvez pelo futuro incógnito que me espera. Ambas ótimas razões para ousar sair do que me afunda.