terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Traço(s)

Da vida fiz planos e com eles me armei. Para a batalha diária de mil expectativas e percalços destroçados. Traçados em planos alheios, em sistemas constantes de pesos e contrapesos.
De baixo vi arranha-céus, e lá alcancei. Do alto vi sorrisos, e desci para recebê-los.
Não se trata de uma vida retilínea, de pontos certos a se traçar. Sempre preferi as curvas, as ondas para surfar, ao menos na imaginação de quem acredita que no caminho lágrimas podemos verter.
Perdi-me. Mas me sustentei na leveza de quem gira os calcanhares com empolgação quando se é preciso, mesmo com os pés de pato apontando para direções incertas.
Encontrei. Respostas a perguntas há muito indagadas. Pessoas que ampliaram o meu leque de possibilidades. Possíveis surpresas para quem não se achava tão capaz.
Evitei. Riscos aparentes. Porém, arranham-se os cascos para se ter certeza de que não se deve procurar certas ilusões.
Analisei (e como o fiz!). Pedi-me tempo para a realidade, por vezes ingrata. A amplitude do mal se alastra e me arrasta a tantas divagações!
Parei. De acreditar em despropósitos. Para reforçar a crença em 'nanopossibilidades' do bem (são nano, mas o são).
Fui. Voltei. Arrisquei. Comuniquei. Calei-me. Enxerguei-me.
Sentenciei-me um ano de descobertas. Especialmente internas.
Afirmo prosseguir.
É bom conseguir fôlego, por vezes desenfreado, nesse reino intrigante de seres, de seres... não, ainda não sei como definir isso tudo. Tenho traços de memórias aproveitadas. No quebra-cabeça terei de continuar. As peças são muitas. Velhas e novas. Notáveis, todas elas. O imprescindível não é se preocupar em perdê-las, mas nunca desistir de querer uni-las. Então, em 2014, seguirei na trilha delas. Para buscar entender ainda mais o mundo. Para buscar entender ainda mais o eu no mundo.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Passadas

Os pés doem, mas a caminhada foi necessária.
A greve do ônibus e de fé na humanidade, ao menos por 24 horas, não me impediram de seguir magoando os suportes inferiores.
Não chega a ferir, não os pés, mas algo superior.
Caminhar não é indolor.
Exige atenção e cuidado para todos os lados.
Sinais, carros, pedestres, sons, olhares, reflexões.
E quando há sinais que alertam o seu estado de espírito é que as passadas parecem durar mais do que uma eternidade.
O importante é não desistir de chegar ao final da sua jornada acreditando que fez o que devia.
Cortes fazem parte. Merthiolate e bandaid muitas vezes não dão conta.
Sair da estaca zero é perder-se sem razão para voltar. É caminhar sem rumo em busca dos tais momentos felizes.
A cada novo nascer do Sol é importante lustrar os dentes em sua luz. Recarregar os pulmões é imprescindível. Puxar do fundo da alma em conflito aquela última bolha de ar e sentir que existe jeito para acreditar que podemos ser feitos de esperança.
É muito difícil notar isso e fazer a diferença. Nossa como é árduo caminhar contra a maré do status quo!
A água, por vezes, ferve, queima os pés.
Mas nem lava vulcânica me tira da única certeza que tenho: a de que nenhum calo vale a pena o abandono das passadas firmes.
O salto quebra, mas não terei problemas em adaptar o scarpin para uma sapatilha.
Às vezes, é preciso estar mais próximo ao chão para poder tocar as nuvens.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sentir

Alguns podem questionar o fato de alguém acreditar em vida após a morte, reencarnação, e ser tão emotiva após a 'perda' de alguém. Se sabemos que a real existência continua após a permanência física do envoltório corporal, por que, então, as lágrimas (e os questionamentos críticos aos níveis superiores)?

Falta de fé? Falta de raciocínio lógico? Falta de costume?

Não me acostumarei às mortes. Acredito na vida e não me entregarei ao consumo do fim corpóreo. A mulher, que desde cedo se acostumou a acreditar nas pessoas e a lutar, do seu jeito, por um mundo mais justo, nunca deixará o canal lacrimal enferrujar.

Foram três mortes de conhecidos este ano. Um mais próximo, mesmo que nem tenha sido um familiar. Mas há sempre aqueles que, mesmo passando por um breve momento, fazem a diferença na escolha de nossos próximos passos. São sementes do passado que geram frutos únicos no futuro.

Não é de hoje que falo de perdas e ganhos. De vida e morte. Mas os últimos baques, dessa vez mais reais, têm sido pesados. É difícil ajeitar o salto depois que os pés se machucam. Dói.

Remédio? Cura? Numa tentativa clichê de encontrar a resposta para o término do texto, e o cessar do rosto úmido, digo-lhes que o tempo é a resposta. Curto. Longo. Depende de cada ser. Sendo eu alguém com uma tendência forte a procurar sorrir, o tempo tende a ser generoso com as marcas. Não as apagará. Afinal, quero mantê-las para sempre para me lembrar de que a nossa história é feita de emoções. Deixem elas marcas ou não. Porque o que me importa nesta vida é nunca deixar de senti-las.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

(Di)lema

Fazer algo que não se apoia é crime? Talvez um crime egoísta, mas, ao meu ver, é um crime. Não está no velho Código Penal, e sim no arcaico Código Moral. Porque desrespeitar o que se acredita é dar brecha a futuros arrependimentos.

Ando pensando em como as pessoas se sujeitam (ou, no meu caso, têm de se sujeitar) a algo no qual não acreditam. "E para quê fazê-lo, Endie?". Isso! Questione-me! Pressione-me! E não me deixe entrar em uma zona de (des)conforto!

Em determinado momento, chegamos a uma tal encruzilhada que simplesmente nos leva a agir automaticamente em nome de 'algo maior' do que nós. No meu caso, o maior é em sentido literal. E isso é irritante. Intrigante e irritante. "Olha o estresse, Endie!". Os neurônios gastos nesses conflitos de moral valem a pena? Talvez.

Quem me conhece, sabe que tenho um bom senso de justiça. Como uma boa libriana deve ter. Gosto do justo. Desde pequena. Perdi com isso. Ganhei com isso. Mas é sempre bom poder deitar a cabeça no travesseiro com um peso a menos. 'Fazer o melhor' é o meu lema.

Ok, acabo tolhendo momentos preciosos de permissão ao erro. Perfeccionismo me leva a um patamar sofrido e isso não é bom ao coração. Confesso que o cérebro é bastante duro com o músculo das emoções. Ainda mais quando entram no embate do que é certo ou errado.

Dilema infindável traz consequências infindáveis. Sigo ou desisto? Maquio ou encaro a realidade? Experiencio ou tolho-me de crescimento? Costumo buscar o lado positivo das coisas. Ando vendo negatividades em muitos lugares. Está difícil manter o costume.

Pessoas são sujeitos intrigantes. Incluo-me, certamente. Farei o que mandam. Obedeço às ordens aparentemente despretensiosas. Sei o que sinto. Carregarei no peito as frustrações de quem tem dificuldade com o "não". E lanço a dúvida: é melhor 'se incriminar' ou encarar como um ato de desafio emocional?

Então, sigo e faço. Depois da experiência, quem sabe volte a falar sobre isso? Conhecendo-me, falarei. Surpreendendo-me, crescerei. C'est la vie! Mais, dans ce moment-là, pas en rose!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

(Di)Versificando

Quero parar e desviar pensamentos.
Desabotoar as prisões externas envenenadas de cinismos.
Fechar o circo vicioso de palhaçadas cotidianas.

Nada custa o mal estar.
Na geração que vive a dedilhar.
Vidas alheias ao que realmente deve importar.

Observo. Os pulmões aceleram.
A cabeça urge de pensamentos descompassados.
Nem ao menos a graça de dançar como uma bailarina parece tanto me apetecer.

O que essas criaturas fazem?
Entendem o que fazem?
Não, muitos simplesmente desfazem.

A sacola pesa no ônibus, não carregam.
Ao 'bom dia', mesmo com sorriso sincero, não respondem.
Na troca de favores, tem sempre o lado que escapa quando deveria agir.

Sociedade de pessoas mortas.
De respeito, de cuidado, de decência.
Há falência e decadência de valores sólidos.

O que vale invalida a luz.
Na escuridão, seguem mentes sórdidas e frívolas.
Nem ao menos levantam os olhos de suas caras máquinas caras.

Para onde seguem?
Para onde afundam?
Até quanto afundam?

Sigo em chamas de dúvidas.
Peço-me para não desistir de sorrir.
Impeço-me de me iludir.

Sorrio, se tenho vontade.
E que essa vontade não me leve a auto-obrigações diplomáticas.
Porque o que (ainda) vale para mim é respeitar o querer e o ser.

domingo, 29 de setembro de 2013

"Deixa que eu sirvo"? Não!

Tragam as bebidas que levamos as comidas!

Não vai pôr o prato do seu namorado/marido/amigo?

Aprenda a dançar tal ritmo para conquistá-lo!

O reforço da fragilidade feminina no subservir à figura masculina é quase aterrorizante. Figuras maternas, amigas (?), irmãs ou desconhecidas surpreendem com seus pratos, copos, corpos e despeitos ofertados e entregues aos moços de barbaridades apoiadas.

Seguimos, há milênios, vivendo mais do mesmo. Diariamente. Minutamente, diria.

A seus postos, crianças, adultas e idosas posam de questionadoras assíduas ao tratarem do universo arqui-inimigo. "São uns grossos, uns estúpidos, uns insensíveis, uns cachorros..." e outras alegorias que é melhor deixarmos para as conversas de bastidores.

Os tais são alvos fáceis de dardos e dados que atingem lares, bares, academias e trabalhos.

Há uns brutos sim. Uns covardes animalescos. Uns salafrários da paixão. Uns miseráveis da educação.

A culpa é sempre deles? Nem sempre!

Derrubemos as máscaras da incredulidade confortável. Somos nós, mulheres, que repetimos a mesma ladainha de ele pode sair, ela não pode. Ele leva o refri, ela os salgados. Ele fica sentado, ela põe o almoço. Ele sempre chega tarde, ela não pode chegar. Ele é garanhão, ela é vadia. Ele é macho, ela é frágil. Ele tem personalidade, ela é revoltada.

Se eu gosto de alguém posso até adaptar certas vontades. Até para conhecer outras visões. Mas daí a transformar-me sem haver o equilíbrio de ambos os lados? Isso não está certo!

Ele prefere as loiras! Pintamos o cabelo.
Ele gosta de pagode! Fazemos programações novas.
Ele adora uma sobremesa diferente! Consultamos o oráculo Google e damos um jeito de aprender.

E quanto a nós?

Ela prefere os bem vestidos. Ele é o mesmo.
Ela gosta de música francesa. Ele é o mesmo. ("porque música francesa é "um saco" de gostar, não é?")
Ela adora frutos do mar. Ele é o mesmo.

Adaptações constantes são feitas. Não estão erradas. Podem acontecer. Porém, por que o peso só pende para o lado cor de rosa? Aliás, por que é só cor de rosa?

Mulheres são complicadas? Hum, tenho minhas discordâncias em relação a isso. Afinal, mulheres são muitas. E cada qual tem sua personalidade.

Homens também são muitos. E cada um pode ser ensinado a agir de maneira diferente. Quem influencia diretamente nesse papel? Nós!

Não sou mãe ou esposa. Entretanto, tenho familiares, amigos e podem surgir paqueras. Neles é que podemos barrar a prática obsoleta e repugnante do "deixa que eu sirvo".

O "deixa que eu sirvo" é o reforço da ininteligência afetiva. Um sério risco da continuidade da prática do "mulher é pra essas coisas".

É melhor fugir do padrão da fragilidade e pôr um ponto final no capítulo da marginalidade cruel a qual nós próprias nos impomos. Não é nos livrarmos da ideia masculina. É nos livrarmos da ideia do feminino subserviente. É nos vermos em pé de igualdade, até mesmo no direito de também ser servida, de chegar tarde, de pensar diferente e seguir pensando diferente. De gostar de música francesa e não ter que frequentar blocos de carnaval só porque fulano gosta.

A vida é sua. As atitudes também.

Então, aja da melhor maneira com eles. Sempre lembrando que somos responsáveis por aquilo que fazemos, e pelas consequências de nossas ações. Até mesmo por um simples prato servido.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Dúvidas

Duvido que tu duvides tanto quanto minhas dúvidas duvidam de suas certas incertezas.
Sigo seguindo sem o jeito que mente que, de repente, pretende encher-me a mente.
Nas paixões de meus claros desejos, tímidos arquejos, que me brotam lampejos de esperança.
Espero, sigo, e requeiro que meu instinto juvenil, estímulo de meu brio, afaste cada inconsequência vil.
Penetrando a marteladas a carapaça encrustada na rígida capa da moça de tolas buscas perfeccionistas.

Olho. Enxergo.
Vejo e desconecto.
Sem sutilezas, sorrio.

Percepção captada.
Descapacito. Não sigo.
No despertar de algo incerto.

Seria séria se não fosse a vaga bruma reforçada de acalanto duvidoso de sentimentos risíveis.
Reforço a ideia de imperfeição injusta entre os passos cadenciados.
Porém, a tênue ideia da certeza duvidosa paira sobre o olhar visível do justo rito ansiado.
Anseio e abestalho-me. O que devo interpretar? Solta ao vento dos desejos, liberto a forma de aguardar.
O ontem, o hoje e o amanhã só me legam dúvidas. Duvido que não duvide ainda mais. Apenas duvido.

Porque brincar com palavras em meio a suas dúvidas pode ser um desafio indubitavelmente bom.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Consulta interna

O coração humano é esquisito, no sentido mais estrito da palavra.

Ele bate, pulsa, acorda e te emite códigos (morse?) para os neurônios que, após uma tradução detalhada por um perito no assunto, são decodificados em uma simples mensagem que, necessariamente, não é tão simples assim. Ao menos, não na prática.

A mensagem, normalmente, é do tipo: "minha filha, o que diabos tens feito das tuas estranhas entranhas?"

O danado sabe mais do que as tarólogas do viaduto do Chá! E ainda é melhor porque nem precisamos pagá-lo para ter a tal consulta interna.

Bem, não pagamos materialmente, mas emocionalmente ... vixe, como pagamos! Parcelado e com juros a um custo digno de processo no Procon da alma.

"Minha filha, ouça-me! Se não acordar para mim, acorde ao menos para o seu estômago. Afinal, o pobre já sofre com algumas guloseimas, mesmo que esporádicas, imagine com esses desgostos acumulados?"

O nobre coitado anda tagarelando lá embaixo, puxando-me pelas cordas vocais tão preciosas.

Então, paro, sento e escuto-o.

"Filha minha (para não ser repetitivo, pois repetições lembram-me status quo e disso não gosto), abra-te os olhos, pingue gotas serenas e saradas de soro fisiológico natural (não aquele da farmácia, o original mesmo, pra limpar bem), e pare, pelamordeDeus, de ficar dando trela a voz(es) que te levará (ão) a lugar nenhum".

Neste momento, estou a passar o tal soro. Não arde. Ele apenas clareia. E começo a ver que é preciso sorrir mais e sentir-me menos angustiada com algum percalço chato do caminho.
Chuto a pedrinha do sapato.
Boto o Band-aid.
Agradeço ao sr. coração.
E vejo uma boa luz logo à frente.

"Olá, srta Luz! Prazer em reencontrá-la! Eis que te apresento minha dona: Endie Eloah, uma mulher teimosa, mas de um coração incrivelmente decidido a livrá-la do que não merece".

É, definitivamente eu posso me fazer sentir muito bem após uma consulta interna.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Errata

Desculpem-me!

Começar um texto pedindo desculpas não é muito conveniente, mas, para mim, é necessário. Sou educada e aprendi comigo mesma que quando não estou me sentindo muito bem prefiro desculpar-me por não estar em um estado "comum" da minha personalidade.

Estive correndo durante todo esse tempo, com todo o gás possível, daquele que trás água salgada no corpo e respiração ofegante.

Parei!

Bruscamente!

E nem desacelerei, ao menos. Por isso, não impedi o tropeção. Tropecei. Arranhei. Arranhei alguns que estão ao meu redor e receberam o meu encontrão de mau humor recente. E ao ver o que fiz eu me machuquei (por que fiz isso?).

Nem pude prever a tontura que tomou conta de minha estrutura! Respiração pesada, assumo, difícil, entalada na garganta.

Sentei-me, para ver se melhorava a sensação incômoda. E vi as bolhas. Meus pés, acostumados a saltos baixos, feriu-se nos percalços dos caminhos tortuosos, que por vezes tive de correr de salto agulha.

Procuro um motivo para a corrida. E não o encontro.

Estou perdida, é isso!

Ai meu Deus, e eu ainda admito! Boba? Não sei! Verdadeira? É, talvez seja isso.
Para alguns, pode até ser mais um texto de Internet.
Para mim é um desabafo sincero. Uma colega que precisa de algo, mas ainda não sabe ao certo o quê.

Durante algum tempo, eu corri como se não houvesse amanhã. E, agora, descubro que nem sei se existe ou não.

Não sei para onde corro, quando corro, para quem corro. Para mim? Por mim? Não sei.

A mulher acostumada a dar esperanças espera não se acostumar a isso. Sentir-se perdida é parte do processo de evolução. Faz parte da caminhada. A diferença é que nem todos admitem suas fraquezas. Eu as admito porque gosto. Gosto de me enxergar através das palavras.

É claro que não gosto de estar assim: agoniada e sem rumo.

É estranho. Dá nó na garganta. E isso me faz explodir facilmente com pessoas queridas ao meu redor.
É ruim nem saber ao certo o que responder ao "Tudo bem?".

Aliás, respostas estão difíceis de serem acertadas. Não sei se o que falo, se o que escrevo é bom ou não. Ou pior, se o que entendo é o que deveria entender. E até bloqueio criativo estou tendo. E isso me incomoda bastante.

Não é a primeira vez que me perco. Mas é a primeira em que admito a mim mesma, e em alto e bom som.

O meu lado otimista não vai me deixar na mão. Ele aparece, aliás, lá no topo da montanha, me chamando.
Ele acena quase escandalosamente para mim, como se me chamasse para lá.

Só não sei para que lado essa montanha vai. Se para o Norte, Sul, Leste ou Oeste.

Sócrates me preenche: "Só sei que nada sei".

E só.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A solenidade e o (auto)reconhecimento

Olhos recém-chegados naquele ambiente solene estavam vidrados em cada movimento conduzido na cerimônia de posse coletiva. Noventa expectativas positivas diante do porvir na Instituição. Como se estivessem transformando aquele momento em mais uma fonte de orgulho no peito estufado que desbravou uma alta concorrência (1.500 x 1). Acompanhados pelos sorrisos e flashes dos familiares e amigos, irradiavam felicidade convertida em calor humano, mesmo em um ambiente acostumado a exigir rígidos casacos.

A emoção contagiou a todos. Autoridades presentes, servidores da casa e a jornalista que vos escreve. Um filme passava na mente enquanto aqueles novos colegas celebravam a conquista. "Tanto fiz para conseguir chegar aqui. Por tanto passei. E agora sou eu quem dou voz a um momento tão importante para eles", penso em meio a olhos marejados e confessados, enquanto presto atenção a tudo e todos para poder captar a essência do evento e retransmiti-la oficialmente no site do órgão. Este, um motivo de sorriso largo carregado há 1 ano e 8 meses. Afinal, como disseram todos os entrevistados em meio a olhares positivos, trabalhar numa Instituição cujo escopo é zelar pelo bem da sociedade é indubitavelmente confortante.

Isso não significa que seja um lugar onde temos regalias e pouco trabalho. Muito pelo contrário! O dever é arregaçar as mangas e mostrar-se útil ao compromisso honrado com nossa própria escolha profissional. Seja ela temporária ou não, enquanto lá estamos temos que ter a plena consciência de que existem milhares de pessoas que dependem de um atendimento adequado, de um processo bem elaborado, de uma matéria esclarecedora e de pessoas motivadas para dar conta do volume de demandas presentes diariamente. Funcionalismo público pode gerar pré-conceitos. Mas tenha certeza de que generalidades devem ser evitadas sempre que possível.

E ao voltar o pensamento aos novos integrantes da casa da qual faço parte confesso que não é possível converter em palavras o que presenciei hoje. A emoção externa e a comoção interna foram suficientes, apenas (se é que posso usar esse advérbio), para demonstrar que existem esperanças. Em diversas formas. Para quem chega, para quem já se instalou e para quem sai de lá com a única certeza de que pessoas são feitas de objetivos. E quanto mais eles são alcançados mais indescritível é a vontade de seguir querendo presenciar (e reconhecer) ainda mais conquistas como esta.

domingo, 11 de agosto de 2013

Uma questão de vírgulas

Fulana nasceu, estudou, trabalhou, aposentou e morreu.

Fulana nasceu, brincou, estudou, se divertiu, trabalhou, aposentou, viajou e morreu.

Fulana nasceu, brincou, nadou, correu, apanhou, estudou, se divertiu, leu, namorou, sorriu, trabalhou, se apaixonou, casou, amou, viajou, aposentou, curtiu, escreveu e morreu.

Fulana nasceu, brincou, nadou, escutou, pulou corda, correu, estudou, escreveu, leu, se divertiu, namorou, chorou, abraçou, sorriu, foi ao cinema, leu, trabalhou, levou não, estudou, levou sim, cantou, brigou, flertou, se apaixonou, casou, teve filhos, amamentou, amou, brincou, escutou, estudou, pós-graduou, viajou, foi a restaurantes bons, abraçou, escreveu, ganhou netos, escutou, cantou, sorriu, leu, construiu, aposentou, leu, escreveu, curtiu, sorriu, amou e morreu.

Fulana sou eu. Fulana é você. Fulana somos todos nós.

A semelhança é que todos sabemos o que vem antes da primeira vírgula e o que vem antes do ponto final.

A diferença é uma questão de vírgulas.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Problema? Solução!

A importância que damos ao que pode nos causar aborrecimentos torna a nossa vida melhor ou pior. Tenho aprendido que nada e nem ninguém devem fazer murchar a nossa esperança de dias bons. Um sorriso não deve ser tirado porque apareceu um vazamento (real ou metafórico), ou porque alguém fez um comentário do qual você não gostou, ou porque não tem salmão na temakeria quando você foi.

Situações concretas mudam a argamassa da nossa construção. Para o bem ou para o mal.

Respiração mais profunda, batida cardíaca mais intensa, visão fechada e mais acurada depois de um evento ou notícia decepcionantes acontecem. Fazem parte. Não vivemos num mar de rosas. Se vivêssemos até estaríamos lascados (com a permissão da palavra), pois as rosas têm espinhos.

O primeiro passo trêmulo depois de um desapontamento é natural. Não é demonstrar fraqueza. Fraco é quem se opõe a ver a realidade. É quem maquia a fratura exposta. Tem conserto. Tudo tem conserto. Tem sim! Talvez não naquele exato momento fatídico. Mas tem. Futuro próximo ou distante. Tem. "Só não tem jeito pra morte", pode vir à mente. E é nessa que eu penso quando inicio o texto.

"Nossa, Endie, você está pensando na morte só porque recebeu uma notícia ou comentário do qual não gostou? Ave Maria!". Se alguém não comentou isso, ao menos deve ter feito uma expressão nesse sentido. Não quero morrer por conta de uma chateação. É nisso que penso. Morremos diariamente. Células morrem. Conceitos morrem. Tristezas e sentimentos negativos também podem desfalecer nesse bolo. Portanto, não quero perder preciosos neurônios com o trancar dos dentes. Já perdi muito com isso. Quero não perder novamente.

Afinal, o que vale mais a pena? Enfrentar o problema e buscar resolvê-lo ou se enfiar numa maré de desgraça mental e fazer do aborrecimento um fardo? Pensamentos cristãos ou não, é melhor acreditar que tudo vai dar certo. Custa nada tentar aproveitar mais o dia e menos o problema. Faça de si uma experiência. Não se problematize. Solucione-se!

domingo, 4 de agosto de 2013

Tempo perdido

Pessoas muito amadas querem que eu aprenda a viver melhor. Que eu sorria mais bobamente, core de alegria e sinta o sangue fervilhar ao escutar uma música que lembre um ser querido.

A conquista de um outro complementar é um dos maiores (melhores?) desejos de quem me acompanha e me cuida. Não que o objetivo seja lançar a minha felicidade nos braços, no perfume e nos abraços apertados de alguém. Querem apenas que eu possa ter o prazer de ver outros ângulos bons durante a minha caminhada.

Sou naturalmente romântica. Acredito bastante na ideia de seres que se conquistam no dia a dia e almejam momentos ainda melhores de paixão, respeito, companheirismo e viagens (de pés no chão ou não).

A questão que me propõem muitas vezes vem se tornando angustiante. Cadê? Não vai atrás? Sairá de casa? Sairá à caça? Caçar coração disponível não é o meu forte. Nunca foi e, provavelmente, nunca será. Prefiro minha visão idealista de conquistar - que seja primeiramente pelo exterior, visto que é assim que em geral acontece -, mas que não seja algo escolhido em um "cardápio" de um bar, de uma cafeteria ou de uma balada.

Não sei dar sinais. E nem os compreendo direito. Talvez uma olhada nem signifique que queira saber se tenho conta no Facebook. Aliás, essa ferramenta pode ser interessante para muitos estrategistas. Para mim, é bom ser 'curtida' por alguém que julgo atraente e interessante. Porém, o próximo passo após o meu sorriso por trás da tela não é de deixar um recado do tipo "que bom que curtiu a minha foto", acompanhado de uma carinha simpática. Esse sistema de sinais virtuais ainda é bastante delicado para a tímida romântica.

Quando falar? Como falar? Falar mesmo? E se falar e não for respondida? E se for respondida de maneira objetiva demais? E ainda faltam as reais expressões alheias. A tecnologia facilita, a tecnologia dificulta.

Ainda escuto uns puxões (internos e externos): "saia do computador e veja pessoas". Por mais idealista que seja, sempre preferi o real ao imaginário. Até porque sorrisos brotados de verdade valem muito mais. A questão é essa tal realidade.

Sei produzir textos criativos, cantar em francês como poucos, dançar um bom Zouk, conversar em 5 idiomas, fazer um omelete apetitoso, nadar, tenho ótimo senso de localização, sei atuar em peças e até fazer graça de vez em quando. Só não sei flertar! E nem gosto de tentar fazê-lo numa situação pressionante.

O psicológico bomba: "Hum, carinha interessante... Ele olhou! Não olhou... Não, olhou!... Espera, olhou pra você mesmo? Olhou pra você mesmo! Levantou! Ixi, é baixinho (deve ter menos de 1,75 cm) / é toradão / é gay?...".

Aposto que muitas pessoas passam por dúvidas parecidas. O problema é como lidar com elas. Honestamente, é horrível sair com plano de voltar para casa com uma lista de pretendentes. Não gosto de pensar que "não bati a meta imaginária da semana".

"Olhar não cai pedaço, Endie", escuto quase sempre. Mas eu olho! Agora, se o outro vai ter poderes especiais de notar os meus quase 10 segundos de olhada é outra história. Não precisa ser super-herói não! Até porque eles vivem ocupados demais e cheios de conflito existencial.

Em verdade, eu só quero ser notada num sistema mais tradicional: conhecemo-nos aos poucos em um ambiente comum, conquistamos simpatia, saímos e voilà! Ok, sem fórmulas secretas! Sem planejamento demais! Eu só não quero a pressão incômoda. É chata, me faz lembrar que o tempo perdido* está passando e me faz invejar (mesmo que numa versão saudável, se possível) quem tem uma boa companhia.

A vida é cheia de aprendizados. Estou buscando prestar atenção nas lições. E uma delas me diz que o que realmente desejo é poder sorrir para o outro sem ter que contabilizá-lo numa lista imposta pelo tic-tac do meu relógio emocional.

Na trilogia dos filmes que descobri recentemente, e que incluí na lista dos preferidos, uma das personagens lembra: "Nós estamos apenas de passagem"**. Então, eu só quero que a minha seja menos conflituosa e mais prazerosa.

Sou essencialmente feliz. Quem me conhece sabe disso. Só quero que o futuro namorado descubra isso de maneira pacífica - sem o uso de táticas dignas de guerra para conquistar território alheio.

Ainda acredito que temos nosso próprio tempo, como cantou o Renato Russo. E o meu é apenas diferente. Não significa que seja melhor ou pior do que aqueles que têm mais facilidade de se envolver em relacionamentos. É apenas o meu tempo.

E para a minha torcida constante, eu deixo o recado carinhoso (firme, mas carinhoso): "obrigada pelos conselhos, pelo apoio de sempre, pelo desejo de uma vida melhor. E, ainda mais, obrigada por me deixar escolher as melhores ideias, dentro de quem eu sou, por quem eu realmente sou".


*Faço referência à música que tanto gosto do Legião Urbana, Tempo Perdido ("Todos os dias quando acordo/ Não tenho mais o tempo que passou / Mas tenho muito tempo / Temos todo tempo do mundo...").

**A citação é do filme Antes da Meia-Noite (2013), terceiro da trilogia romântica que envolve ainda Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004). Aliás, se fosse escolher uma maneira de gostar de um total desconhecido seria como no filme de 1995. Parece inimaginável conhecer alguém que mexa com você numa viagem de trem a Viena. Porém, quem disse que aventuras boas não acontecem na vida real? Eu acredito que sim. Só não quero deixar o trem passar. Mas até os vagões a serem observados quem tem que escolher sou eu. :)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Encontra-se!

Encontrei!

Uma mulher de quase 28. Quase 38, em ambos os pés. E quase 1,75cm (não vamos considerar 1,74 e meio, que é número quebrado demais).

Encontrei aquela que me impressiona a cada traço novo de batom escuro, recém-adquirido em viagem de férias.

A de cabelos cor de mel adaptado à metade de seus cachos bastante volumosos.

Encontrei uma que gosta de sorrir de canto a outro das orelhas, sempre adornadas com brincos, que acompanham colar ou anel combinado.

E ela fica tão mais bonita quando canta. Precisa ver quando canta sorrindo! É explosão de luz para todos os lados. Óculos escuros não te fariam mal.

Encontrei uma mulher que dança com presença desfrutada. Uma cuja tinta da caneta é feita de esperanças e criatividade fervilhantes.

O coração dela é como uma grande recepção. Sempre pronta a atender, a encontrar gente, a surpreender com a simpatia em ajudar. Prestação de bom serviço e de cuidados é um de seus lemas.

Há os hóspedes que decepcionam, claro. Uns recebem alerta. Outros, aviso de despejo e uma multa cara (pela exclusão de sua companhia e benquerença).

Encontrei nessa mulher uma leve tendência a defender os que gosta. Leve não, brava!

E desbravado ainda é o seu lado mais amoroso. Amorosa que só, a mulher que encontrei é especial que só vendo! Com um coração cheio de expectativas positivas, para conversas honestas e frutíferas, abraços longos e aguardados, beijos a serem compartilhados por um privilegiado, com uma modéstia de dar orgulho e um bom humor normalmente muito bem aceito (só não se esqueça de que ninguém é de ferro!).

Quem encontrei se mostra mais firme nas escolhas. Por maior influência de seu signo regente, a determinação para o que seu lado afetivo conquiste alguém de boa valia canta mais alto.

Os olhos brilhantes observam bastante o mundo ao seu redor, por trás das lentes astigmáticas e míopes.

Ela olha até encontrar.

Ela vai encontrar.

Afinal, ela passou a se encontrar!

sábado, 27 de julho de 2013

É permitido sorrir!

Aos 26 anos descobri o som da minha risada. Aliás, descobri os diferentes tipos de riso em mim.

- Um para quando a situação pede um leve sorriso (normalmente com a emissão de um "Hum-hum" breve).

- Um mais encorpadinho, com dentes à mostra, e tendência variando entre "Ran-Ran-Ran" e "He-He-He".

- E aquela que passou a me caracterizar nos corredores do ambiente de trabalho: a gargalhada. Esta não se compara à da Fafá de Belém, claro. Mas surpreende aos que a escutam pela primeira vez. É alta, aguda e tem um crescendo característico de quem está desfrutando bastante do momento.

É bastante libertador reconhecer-me com o direito de sorrir. Parece algo absurdo ou insignificante a ser pensado. Entretanto, para mim não o é, nem sequer um pouco.

Durante muitos anos de minha vida, fui proibida de sorrir. 

Não, você não leu errado! Isso, de fato, aconteceu.

A mulher vista por muitos como eternamente feliz, serelepe, incapaz de ter problemas de grandes ordens, teve momentos de alegria questionados.

Como isso me doeu (calada, mas doeu)! 

Proibir de fazer uma das coisas que mais amo foi como receber um tiro de fuzil no peito. Feriu, ardeu, incomodou. E deixou cicatrizes. 

E me intimidou. Deixei-me intimidar. 

Não sabia o que fazer. Queria evitar a briga, como fiz durante tantos anos. Odeio brigas, escândalos, barulhos. Odeio.


Porém, tolher-me de experimentar sensações de felicidade foi a maneira mais cruel que poderia ter me castigado por ser quem eu sou. 

O pesar permanece, ainda hoje, enquanto desbravo essas palavras com os leitores. Entretanto, a vontade de compartilhar a ferida é maior do que qualquer orgulho incomodado.

Não quero criar um carrasco, uma figura inimiga digna de desenhos animados. Até porque quem o projetou não fui eu. Ele, simples e (in)felizmente, existiu em parte de minha realidade.

A vontade, então, ao me descobrir capaz de não prender mais risos e demonstrações felizes de viver, é dizer-lhes que nunca hesitem de sorrir. É um bom exercício facial, faz bem às células, contagia e recarrega as energias consumidas em nosso dia a dia.

E gargalhe com gosto! Nem se importe com quem faça caras estranhas. Sinta que pode abraçar o mundo naquele instante em que o seu único desejo é parar o tempo - e dizer para si mesmo que a vida é capaz de ser muito melhor.

Porque, no final do dia, descobrirá que o que realmente vale é permitir-se ser feliz.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Notas baixas (e altas)

Nunca lidei bem com notas baixas. Chorei algumas vezes por ter perdido a oportunidade de ter ficado acima da média.

Foram poucas notas vermelhas. Mas houve.

Também nunca lidei bem com notas abaixo de oito. Afinal, no tempo em que a média era sete, se havia ficado com sete e pouco significava que estava no limite. Por pouco poderia estar abaixo do didaticamente permitido.

Nunca fiquei de recuperação. Nunca. Orgulho inflado no peito há anos. Desde os remotos tempos escolares.

Nerd? Por que não? Se sê-lo é gostar de estudar, então, o sou com honra ao mérito.

Caminhando pela lógica das notas, nunca lidei bem com comentários negativos. Críticas em geral.

Assumo que por trás da minha expressão diplomática, com leve balançar de cabeça e talvez sorriso raso, há uma série de questionamentos do tipo: "você acha de verdade isso?", "Como assim?" ou "Mas você observou direito?".

Não sou imune a críticas. Apenas penso que faço as coisas sob o melhor ângulo. E procuro fazê-las com o passar dos anos.

É difícil, bastante mesmo, ser cutucada. Porém, aos poucos, busco me libertar dessa amarra.

Porém, gostaria de fazer uma colocação necessária .

Por muitos anos de vida, apesar dos pensamentos contrários, o rumo foi seguir algumas críticas. "Sim sim não não" por vários lugares aonde passei.

A menina boa (e boba) deixava-se levar por pensamentos até infundados, a fim de evitar conflitos. Odeio conflitos. Odeio odiar, mas o ódio por conflitos é maior do que minha repulsão vocabular.

E fui, fui, fui e herdei cicatrizes que perduram por hoje e seguirão até o fim de meu ser físico.

Elas perturbam. Sempre que viro um pouco mais os olhos para dentro, elas estão lá. São uma parte de mim.
Carrego comigo, talvez, como desafios. Para me lembrar da ardência que algumas me provocaram.

Cresci acreditando, até há pouco tempo, que as tais críticas eram inconvenientes, mas necessárias. Nem todas, claro, o eram.

Há intenções e intenções. Vinganças em comentários visivelmente pretensiosos aos olhos mais atentos.
Entretanto, a vida só me forneceu uma visão mais clara de certos aspectos viscerais da humanidade quase recentemente.

De qualquer maneira, os olhos verdes (por vezes azulados, a depender da luz) viram coisas que não deveria. Ou, ao menos, deveria ser proibido em algumas épocas da vida.

Chorei muitas vezes. Parei a carreira de chorona desde que comecei a entender que lágrimas nem sempre me fariam vencer as decepções.

Desapontamentos regados a maçãs do rosto úmidas lhe enfraquecem perante o combatente.
Sendo assim, precisei secar um pouco o meu canal lacrimal, sempre pronto para novas defesas.
Aprendi a respirar melhor diante de momentos de angústia. E conheci um tom de voz em mim que nunca havia usado - não em situações difíceis.

Então, mesmo que ainda haja algumas notas baixas no meio da estrada, olhares ou comentários de reprovação por algumas atitudes minhas, sempre terei de lembrar do que realmente importa:
Nunca fiquei de recuperação! Não, espera, isso é importante para a sustentação do título de nerd, ok, mas, Endie, concentre-se! (levar bronca da consciência é lasca, né?)

Bem, o que realmente importa é que as notas vermelhas, azuis, verdes, roxas... estarão lá para lhe mostrar um detalhe do caminho. Não é o caminho todo. Afinal, se não fossem as provas seguintes, o zero amargoso em Física (um trauma carregado até hoje) teria me derrubado para sempre.

E na escola da vida, as provas nos mostram que simplesmente definir-se por elas é limitar a visão de possibilidades do tempo, do espaço e, por que não, do infinito.

domingo, 30 de junho de 2013

A 7ª arte das composições da vida

Édith Piaf, Charles Chaplin, Richard Gere, Luciano Pavarotti.

O que eles têm em comum?

O quarteto fantástico, assim os considero nesta semana que se encerra, ajudou-me a ratificar a direção de meus pés.

As vidas e as mensagens de Piaf e Chaplin mostraram que o sucesso nunca vem da maneira mais fácil.

Não aquele de subcelebridades. Mas o que marca, o que deixa o legado por gerações e gerações.

Gere me tocou o coração emotivo com a história "Para sempre ao seu lado". Incontáveis lágrimas escoaram no rosto impressionado com o exemplo de amor, companheirismo e lealdade entre o personagem dele e o cachorro fiel.

E o que dizer do mestre Pavarotti? A voz que ecoava em cada partícula de correntes sanguíneas dos amantes da boa música. Nessun Dorma mexe comigo a cada novo recarregar de energia.

Como me deixar desesperar pelos empecilhos da estrada, pelos buracos mais profundos, ou desvios mal realizados, se posso contar com tantas inspirações nas artes? E artes as quais amo!

A música me faz levitar perante os pedregulhos.

O cinema me faz aguçar o poder de ver a realidade para além do sistema 3D.

E me aperta os nós da alma quando vejo os rumos da luz na humanidade ao meu redor. Por vezes, sinto como se quisesse pegar os candelabros internos para despertar certos olhos cerrados sem rumo.

A mensagem é (e sempre foi) clara em mim: quero buscar a diferença. Sem louros. Só reconhecimento próprio da capacidade de agir mediante ferramentas lapidadas das quais disponho.

O poder de ajudar é intrínseco e congênito.

Sempre me questionei sobre o mundo. Desde cedo, ao observar as pessoas que me cercavam - na escola, na família ou até desconhecidos na parada de ônibus - tive a impressão de que elas precisavam de alguma coisa. E de que eu poderia fazer algo a respeito.

Nunca desejei super-heroísmo. Mas uma forma de abrir a mente dos que me pareciam perdidos (e não eram poucos).

A este ponto, alguém deve estar perguntando se a dona moça que escreve é alguma mulher aproblemática (permitam-me o neologismo, por gentileza) para querer ver um mundo melhor. Não! 
Talvez a diferença seja buscar encarar-me desta forma: tenho problemas, não os sou!

Claro que arranhões ficam, choros rasos (ou por algumas vezes bastante úmidos) aparecem, raivas despertam, agonias quebrantam no peito ainda jovem.

Porém, a mágica (e ainda creio nelas) é tentar não se esvair no fluxo intenso da possível repressão.
Repressão social, profissional, pessoal, interna.

Alguns deslizes a mais e você entrará para a estatística pulsante com a nada simples troca de consoantes.

Do "R" ao "D" você vai de uma pontual angústia a uma recorrente insatisfação de vida.

E a depressão é democrática, falando de uma maneira mais metafórica diante do mal deste século. Afinal, ela chega a todos. É só deixar.

Sou a favor da democracia. Mas esta não me deixa escolha senão afastá-la da minha realidade.
Pela música, pelo cinema, pela literatura, pelos exemplos reais, vejo-me capaz da proeza de viver em busca de uma paz interior. Em verdade, um sorriso interior.

Exteriorizando um desejo, gostaria de neutralizar o mundo. Num sentido mais harmônico, não robotizado.  

São tantos apertos de parafuso diários que fazem os seres olvidarem de escutar o som ao redor... 
Som que pode reportá-los até a um caminhar mais saudável.

É nisso que quero agregar. No som.
Sendo assim, somando aos que fizeram diferente, busco sonorizar os que quero acordar.

Vocalizações, sigam me preparando para o que puder fluir de melhor de dentro dessa otimista ambulante.

Até porque, como disse o mestre Chaplin, "você descobrirá que a vida ainda continua, se você apenas sorrir". :)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Amadurecimento (capilar)

Dois curtos fios brancos e uma vasta tecitura de questões.
O que me conduziu a eles?
De onde surgiram?
São apenas pedaços mal refletidos à luz artificial?
Quando começaram a perder as suas cores?

O peito, de primeira, não sabe o que preparar.
Um sorriso ou um olhar de espanto?
Um gesto tenso ou relaxado?
A primeira conquista desses fios chega aos 27.
Sinal de envelhecimento ou de maturidade?
Ou seria o tal do estresse?

Reflito em meio aos fios desencapados.
Eles não retomarão às suas cores originais.
Não naturalmente.
Marcas fixas que seguirão comigo pela longa (espero) jornada que me aguarda.
Por mais pinceladas que se dê, sempre darão um jeito de aparecer.
Sinais de resistência que derrotam a inocência.

Dois curtos fios brancos me denotam crescimento.
Tragam eles interpretação positiva ou não.
A moça, há pouco perdida nos 20 e poucos anos, não foge mais à luta interna.
O autorreconhecimento da fase adulta finalmente chega.
O ritual de passagem é sofrido para alguns.
Para mim, é a certeza da qual eu precisava.

Entre as diversas cores que me compõem nunca precipitei o branco.
E ele veio. Duplamente. Curto. Mas duplamente.
Sendo assim, pretendo tecer uma nova perspectiva interna.
Entrelaço nos dedos os fios e começo a bordar um presente mais claro.
Refutando o estresse, na medida do possível, peço que ignorem as minhas feridas de agulhas.
Afinal, os dedos calejados de quem tece são bons sinais de desenvolvimento pessoal.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Comércio do Amor (e as amarras sociais)

Corações invadem as ruas, as televisões, as redes sociais.

Vermelho e rosa perpetuam a tradição comercial de amores eternos.

E o sinal de alerta daqueles que dizem "pelo menos não tenho que gastar dinheiro" pisca (e incomoda) por trás dos olhos meio lacrimejantes da alma.

Cheiro, textura de cabelo, jeito de andar, marca no rosto, expressão de nervosismo, estilo do sorriso, maneira de abraçar, toques dos lábios. Traços desconhecidos permeiam a mente à procura.

Quando será?
Quem será?
Como será?

O 'quando' sempre é o mais angustiante das dúvidas.
E a cobrança aparece com juros e correções monetárias (em Euro, diria) no tal dia 12 de junho.

Dia da escravização comercial amorosa e da tortura dos que estão na pista para dançar, mas sem rumo certo.

As parcelas de amor são para 60, 90 ou 120 dias. Torça, então, para que até o final do pagamento a esperança esteja ao seu lado.

Enquanto isso, seguem os que pouparam no bolso, mas não nos doces, baladas e filmes românticos para preencher o que deixaram de gastar. Economizaram financeiramente, mas não em calorias (ou até em neurônios).

E no meio da poluição visual puramente capitalista um coração romântico bombeia músicas. Daquelas que aquecem e fazem até tremer nas bases.

É para o amanhã, que se faça hoje, que a moça educada sente uma imensa vontade de cantar. O dia pressiona. Mas, novamente, me demando a real necessidade das pressões sociais.

Já não bastam os comentários comumente recebidos nesta época: "você está solteira porque quer", "não é possível que não tenha alguém em vista" ou "quem sabe no próximo ano".

Minha expressão sempre foi extremamente profissional. Do tipo: "Sei...".

Não há próximo ano se não existe hoje. É meio óbvia essa conclusão. Porém nem todos conseguem enxergar isso.

'Não deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã' é bem típico de muita gente.

Então, como não quero estar incluída neste hall digo, de peito e cordas vocais abertos: eu vou conseguir!
Independente de necessidade social, isso eu quero (e mereço).

E se você, mulher ou homem, acreditar no seu potencial de viver sem a pressão dos muitos frustrados que buscam a felicidade desencontrada deles em você, então, pense positivo e mande esses para longe (polidamente, por favor!).

Já não bastam as cobranças internas - e as midiáticas - para lhe fazer lembrar do que, provavelmente, você nem quer.

Mas no final das contas, pagas ou não, o importante é pensar positivo.

E, como venho repetindo em textos passados, amar-se!

Não precisa ser poliglota ou multifuncional como eu - o que me faz ter um orgulho danado!

O importante é reconhecer-se capaz de amar. A começar pelas próprias células.

Ame-se e lasque-se quem não gosta!

A malcriação é necessária. Ao menos assim você lembra que pode se livrar de algumas amarras sociais.

Sei que ainda vou cantar para alguém com o maior carinho e brilho nos olhos possível. Sorrisos vão ser trocados. E haverá a certeza de que isso vale muito mais a pena do que qualquer perfume de O Boticário ou cesta de bombons compartilhados nas redes sociais.

domingo, 9 de junho de 2013

Cáriência emocional

Eu e meu cartão de visitas
Nunca tive cáries!

Fogos de artifício dançam no céu da boca em nome de uma conquista a longo prazo.

Uma placa de honra ao mérito higiênico se instala em cada dente desta moça disciplinada.

Após uma respiração de alívio, vinda com bastante energia dos ventrículos, sugeri-me a ideia deste texto. Faz-se necessário compartilhar uma notícia que traz uma importante reflexão sobre situações cotidianas.

Há três semanas fui levada a um dos sustos mais impactantes de minha organizada vida: estava com princípio de cárie em dois dentes. A mulher do sorriso marcante amarelara cada intenção de felicidade que pudesse advir de momentos conquistados, pois como poderia sentir a janela da alma quando dois parafusos dela estavam quase enferrujados?

O drama parece inapropriado. Mas experimente dizer ao rouxinol que o seu canto já não é mais o mesmo de outrora, pois estaria emitindo um som mais fraco. Meu cartão de visitas é meu sorrir. E restaurar alguns dentes seria dar um retoque, mesmo que de leve, na Monalisa. Sim! É assim que me vejo.

Após uma semana de lamentações, 'autobroncas' e questionamentos infindáveis, aceitei a futura situação.

Porém, nada acontece por acaso. O plano de saúde não reconheceu a doutora. Troquei de clínica e voilá!
Um raio-x profundo e profissionais mais qualificados me deram a notícia do mês: estava limpinha (e de parabéns por ter chegado à fase adulta sem qualquer problema dentário)!

Sorriso voltou a mil. Pulos de alegria (e eu pulo mesmo, sabe disso quem me conhece) e uma súbita preocupação: e se eu tivesse me deixado levar pela doutora irresponsável?

A análise se estendeu, como sempre o faço.

Quantas vezes nos deixamos levar pelos primeiros diagnósticos que a vida nos traz? Pessoas, mesmo com intenções simpáticas, podem nos levar a caminhos de restaurações futuras totalmente dispensáveis.

Por pura síndrome de cáriência emocional (termo criado por esta autora), podemos ser conduzidos a situações inapropriadas. Ainda mais se você for do meu estilo: um ser humano movido pela emoção.

Em nome de autoridades constituídas (pai, doutor, chefe, líder), a obediência pode ser um guia falido.
Não falo em duvidar de todos. Mas em não acreditar em tudo de primeira.

A sociedade dos irresponsáveis está aí, para quem quiser abrir os olhos e ver. Há tantos com poderes maiores que os deuses da mitologia nórdica, e com a mente de doentes desnorteados!

Escamotear a razão é, algumas vezes, deixar-se pisar numa trilha de parafusos enferrujados.

Por isso, é importante manter a visão clara e aberta sobre o que acontece em nossas vidas. Não precisa se tornar um neurótico. Apenas mantenha seu exame de vista em dia e não confunda um sinal de vire à direita com um de siga em frente.

Errar é humano. Deixar-se errar por um outro humano por cáriência emocional pode ser irreparável.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ah, Coragem

Não me lembro onde perdi a mão dela!
Estava bem próxima de mim durante tanto tempo.
E num piscar demorado de olhos, pluft, ela se foi.

Era uma parceira de aventuras, uma amiga incansável.
Sobrava-me tempo até para querer mais.
O presente era mais intenso e menos questionado.
Numa dança constante pelo alcance desafiado.

Olhei para o céu, por um instante.
E no abobalhar desprendi-me do que me impulsionava.
A graça e a disciplina estrita me puxaram as mãos.
Passava a nem ter mais os pés tão leves de outrora.

Botinas me guiaram a direções menos cômicas.
E o interior da mente se expandiu num mar balsâmico.
A calmaria rendeu-se ao título de paisagem intocável.
Nas aparências polidas escondiam-se potências duvidadas.

Se saudade pusesse temor ela, então, não buscaria ressurgir.
Para que a mulher em constante imposição
Pudesse elaborar um reconhecimento infeliz
De que a vida sem ela a destrona de aprendiz (como bem sempre quis).

Então, onde ela estará?

Em meio ao medo que persiste em se travestir de conforto sutil, repenso em aprender a procurá-la.

Faço da minha falta de autodesafios em exercícios aeróbicos um bloqueio de benquerença.

E nas atividades simples secarei as possíveis lágrimas de angústia antecipada para dar lugar, mesmo que em passos desequilibrados, à busca por ela que já me fez tão melhor.

É nela que minhas mãos preferem se apegar.

Que o medo se prepare para que o equilíbrio libriano faça acontecer, enfim. Ou melhor, em começo de uma boa caminhada.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Descoberta inevitável (e benquista)

Há alguns posts questionava o amor.

Venho, então, retificar o desconhecimento deste bendito e intrigante sabor da vida. 

Como não reconhecê-lo? Ou experimentá-lo tão de perto, close suficiente para brotar sorrisos espargidos em cada membrana celular de meu corpo esguio?

Amar-se é impulso para o bem viver. A tal da qualidade de vida, buscada nos debates sociais, começa por dentro. E sem teorização vetusta, por favor!

Já experimentou cuidar de si? Caminhar sob o Sol sentindo o carinho dos raios penetrando em cada traço de sua epiderme? Saborear cada gole de água minerando as suas glândulas salivares? Permitir-se sentir o vento em seus cabelos (mesmo que acabe produzindo um nó digno de marinheiro)? Olhar para o mapa no final de suas extremidades superiores e descobrir caminhos percorridos e a serem desbravados? E até admirar os seus incisivos num exame rotineiro de raio-X panorâmico?

Loucura ou egoísmo exacerbado? Amor próprio! É gostoso e recomendo!

É bem mais tentador ingerir comidas descartáveis e impuras de saúde. Mas o tempo a mais dedicado ao preparo atento e gentil de um bom e saudável prato é mais tempo de oportunidades a frente.

Venho ratificando a teoria de que abdominais servem como grande provação de amor. Quem as faz com gosto (sabendo do esforço que cada subida e descida valem) conhece o que é se respeitar. Manter o pique é difícil, muitas vezes desestimulante (pelo lado da preguiça). Mas quem disse que o amor não pede provas constantes de manutenção?

Respeitar-se é viver sem fronteiras. É diplomar-se em direção a uma vida mais justa. Afinal, com amor se tem mais chances de enxergar arco-íris no fim da montanha de cada dia.

A partida é do autoconhecimento. É mais fácil elaborar resenhas sobre a Teoria do caos do que sobre você mesma(o). Porém, como é bom descobrir, por exemplo, que recarrega a sua energia admirando as nuvens, comendo pão doce com ovo frito ou lendo Luis Fernando Verissimo!

Já experimentou ler o que de fato gosta? Fundamental presentear a mente com o prazer das letras justas de um autor admirado.

Recentemente, peguei-me admirando as minhas novas curvas braçais. Os bíceps 'de sempre' se prontificavam mais empolgados a cada passar do fio dental. Até a escovação pareceu tornar-se mais interessante.

Na composição semanal, estou procurando harmonizar alimentação e exercícios físicos e mentais. Evitar se agredir com gostos amargos e desleixados é fundamental na caminhada.

Até porque não ter preguiça de se cuidar é reconhecer a melhor oportunidade de investimento. Visto que para ser amada(o) é preciso se amarrar a quem melhor lhe representará em qualquer situação: você mesma(o).

Para quê se entupir de frivolidades se os espaços internos podem ser muito bem preenchidos de cuidados?

Então, que autodescobertas, saladas, pilates, gostos e leituras prazerosas integrem a realidade mais válida dos que desejam viver bem. E viva o próprio amor!

sábado, 11 de maio de 2013

Escrita do ser

Estranho seria se eu fosse comum, mais uma na linha de produção em série.

Os meus botões tons de lilás bordô (por que não podem ser diferentes?) refletem diante de uma pergunta simples depreendida após a elaboração de um artigo da pós: conseguirei elaborar a tal monografia exigida, sendo acadêmica a ponto de não identificar a minha própria escrita?

Se não sou uma mera cópia, então por que minhas sementes seriam?

Amo escrever como um pássaro ama voar. É algo necessário e prazeroso.
Penas ao vento são como os dedos a curtirem o sobe e desce das teclas do notebook.
Até os calos rosa avermelhados, causados por uma escrita descarregada em Bic azulada durante um momento de dispersão mecânica, não me impedem de seguir amando a escrita.

Independente da pauta, minha paciência e minha dedicação à inspiração entusiasmada seguem a pressões firmes em cada letra agrupada, sílaba formada, frase originada.

E assuntos diversos se fundem naturalmente, como dançarinos de ritmos variados unidos numa grande performance: Comunicação, Biologia, História, Física, Direito... São tantas áreas que pedem espaço em minha fértil mente que não tenho como negá-las atenção, em especial pelo meu senso benevolente de ser.

A natureza investigativa não me deixa uni-los sem a devida consulta à minha bússola literária: o dicionário.

Sim! Como eu gosto de pesquisar verbetes, descobrir significados, deleitar-me em meio a tantas possibilidades de me expressar melhor!

Em tempos de "agente", "quizer" e conjugações bizarras, a martelar dolorosamente a sua bigorna (a ponto de perder estribos), caçar palavras no pai dos burros original virou até motivo de surpresas humanas.

Fazer o quê se sou um ser que gosta de ser mais? Notem: ser (e não ter)! Possessividade material não perece comigo. Pesos diferentes para medidas distintas!

Sendo assim, antecipo-me a futuros questionamentos acadêmicos sobre o rumo de minha futura monografia.
Adianto as caras e indagações de uma percepção distraída de um paradigma sustentado por acadêmicos pavonados pela manutenção da ordem.

Sustentar anos de formalismo não deve ser tarefa açucarada. Ainda mais sabendo-se do veneno que a substância pode vir a ser. Defendo o direito a visões próprias. Por isso, respeito igualmente as produções diferentes. Enrijeça-se, enquanto eu planarei.

É evitando realizar um trabalho excessivamente aspeado que seguirei na ideia insigne de me fazer presente não apenas na minha assinatura, mas na impressão digitalizada das minhas proposições.

Evoco, então, a defesa do admirado Mark Twain, firmando as aspas neste texto por uma necessidade bastante justificável.

"Daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte suas amarras. Afaste-se do porto seguro. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra."

Então, invocando os oboés, violinos e pianos internos (instrumentos, por mim, tão cativos), sigo nessa sinfonia vital a fazer pertencer os meus padrões literários a mais uma categoria a ser considerada pela batuta dos maestros acadêmicos (e pelos não acadêmicos também). Pelo direito de ser eu mesma. Sem amarras, a postos para caretas amargas, por uma vida menos ditada.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Parecer técnico

Estou bem, mas quero mais. Conformismo não comporta espaço em mim. O que me cabe é a sensação válida de que preciso de pessoas em contextos mais dinâmicos.

A ação social ainda pouco se manifesta. A realidade se faz condicionada a percursos simples e repetitivos. Rotinas são confortáveis, mas incomodam. Um paradoxo logístico que faz entrar uma constante proteção de tela do Windows no meu painel cerebral.

Sou feliz percebendo-me uma pessoa sociável. O que me falta é achar a senha de desbloqueio interno de uma cultura de autoproteção.

Em muitos contextos sou identificada como um ser comunicativo, com habilidade simpática (e parassimpática) de convivência. Conveniente acreditar que isso me basta? Ao contrário! Ao me perceber com potencial gerenciador de sorrisos alheios é que me credito uma postura menos formal de ser.

É por não querer me sentir com um manual de fábrica integrado, buscando não ser previsível e mecanicista demais, que elaboro esse parecer técnico sobre quem vos comunica.

Afinal, recargas de imprevisibilidade incontida podem ser muito bem-vindas.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ando procurando


Ando procurando não me aborrecer, mas está difícil...

Ontem um motorista desembestado arrancou o ônibus enquanto eu subia com mochila pesada após 24 horas "no ar" (entre viagem e trabalho). Dois palavrões simples e a sensação de revolta me pertenceram.

Ando procurando não me aborrecer, mas está difícil...

Pela manhã, um barulho similar a duas britadeiras estremece as paredes vizinhas e a conclusão de uma nova reforma no prédio chega à mente. Aumento a música e canto pop/rock na altura e intensidade do Chester Bennington.

Ando procurando não me aborrecer, mas está difícil...

Hoje dois motoristas abestalhados (para ser eufêmica) 'queimaram' a parada após um dia de trabalho. Duas pernas saudáveis e a ideia fixa de voltar para casa caminhando a passos firmes.

Ando procurando não me aborrecer, está difícil, mas...

Lembro-me da situação de saúde delicada de uma familiar bastante querida, após infarto e ausência de funcionamento de alguns órgãos. Ponho os alvéolos pulmonares para funcionarem em conjunto com os axônios e dendritos, para ver se consigo, ao menos em doses homeopáticas, ressecar a dificuldade inflada.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Prévia sentimental

Estive com uma dor de cabeça inconsequente durante esta tarde. Destas que atingem os bastidores dos olhos. Será que algo não visto incomodava-me?

Pudera! Pensamentos juvenis de um coração dado por perdido invadiram a mente da mulher sonhadora. Vinte e sete anos de reflexões constantes sobre todos ao meu redor renderam-me um desprendimento tamanho da realidade, mesmo nela inserida, que me conduziram a uma prévia sentimental angustiante: por que eu não sei o que é estar apaixonada?

Encanto-me fácil pelas possibilidades do que é belo e único. Mas ao me inserir em contextos mais factíveis pego-me numa cilada conflitante. Sou tanto amor e nunca amei. Incompreendo-me: eu sei o que é amar?

Sorrisos cheios não parecem preencher o vazio da dúvida.

Mas e a paixão em minha vida? A chama que arde no ventre humano que faz romper ciclos normais de batimentos cardíacos? Acho que no máximo, para ser otimista comigo, já enxerguei sinais de fumaça internos. Bom ou ruim? Enfim, houve.

É claro que a romântica declarada desejou poder se sentir como as protagonistas das comédias românticas das quais tanto gosta. O "par perfeito" ficaria de fora, afinal a realidade não é tão simétrica.

Então, o que faltou? Não, espera! Ainda não acabou!

Então, o que falta? Não espera!

Repreendo minha energia ilógica sobre esse desconhecido amor.

Desconhecido? Não em um contexto familiar, atesto.
Em contexto de relacionamento a dois, protesto.

E entre infinitas autorreflexões, consigo ouvir as vozes mais importantes em minha vida:

"Minha filha, a vida sem amor não vale a pena", afirma com propriedade a minha avó materna.

"Endie, você é única e cheia de luz. Então, não se arrependa sobre essas questões", conforta convicta a minha mãe.

Assim, sorrio mais leve com a lembrança de amores fraternais na esperança de amor(es) a dois.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Subindo à superfície

Sinto-me presa.

Uma âncora na garganta que me prende no fundo de um oceano profundo de frustrações.

Falta ar.

Quero subir à superfície, mas tenho medo de que um nó de marinheiro ate as minhas mãos para que não consiga chegar à terra firme.

Os peixes estranhos que perpassam ao meu redor me encaram curiosos, posso até jurar que me ofertam sorrisos. Alguns, apontam suas barbatanas em direção ao Sol. Dançam em círculos obtusos ao redor de meus olhos confusos.

Quero subir à superfície, mas meus pés parecem estar acomodados ao plano arenoso.

Há tubarões impávidos rondando por entre os arrecifes, como num sinal de demarcação territorial.

Porém, são as arraias que me assustam. Estas, que voam com suas asas aquáticas pelo cenário aparentemente calmo, trazem discretos ferrões em suas caudas. E estes, por sua vez, me endurecem o espírito, congelando melhores expectativas que possa ter em relação às minhas causas próprias.

Quero subir à superfície e meus pulmões inundados se abraçam ao meu coração enlameado de paixões ressecadas.

Meu fôlego resvala. As últimas moléculas de oxigênio vão escapando se eu seguir neste mundo subaquático, aparentemente encantador, mas, em verdade, agoniador.

Então, num impulso meu desequilibrante, que me toma o último átomo de oxigênio, começo a subir em direção à superfície que estranhamente me cega - talvez pelo brilho que me aguarda, talvez pelo futuro incógnito que me espera. Ambas ótimas razões para ousar sair do que me afunda.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Verdade de Março

"Mas o que é
Vida afinal?
Será que é fazer
O que o mestre mandou?
É comer o pão
Que o diabo amassou?
Perdendo da vida
O que tem de melhor"

(Verdade Chinesa)

Hoje meu estômago acordou embrulhado. 
A garganta, travada.
Os pulmões, enrugados.
O coração, apertado.

A energia da música me informava, de uma forma física, a perda de mais uma voz. O brilho marcante e amável de Emílio Santiago se foi.

O mês de março, de repente, tornou-se o mês das despedidas. Chávez, Chorão, Emílio e o pai de um querido colega.

Aos goles de um chá de boldo, sem adoçante, meu estômago pode até me deixar desembrulhá-lo, porém, a inspiração segue restrita. O oxigênio chega fraco, como água com açúcar para abrandar o coração abatido.

E a morte, que prende os que ficam à saudade, incomoda-me!

Todos os conhecimentos teóricos sobre ela caem por terra (e se enterram). É quando a pele encontra o espinho da rosa (vermelho-sangue pulsante) da vida que passamos a encará-la sem o olhar, até há pouco tempo, inocente.

E quanto mais corremos desse roseiral, mais nosso tecido cutâneo se machuca. E mesmo o Merthiolate ainda o faz arder!

Fugir seria se esconder atrás do vento.

Encarar é saber apreciar a estufa, reconhecendo que há passagens extremamente espinhosas. A questão é não parar num lugar mais confortável e por lá se acomodar. 

O medo nos deixa alerta, faz o sangue percorrer as veias mais friamente. Mas ele tem que ser revisto, pois, em vez de ser uma ferramenta de proteção, o receio constante nos congela, aprisionando-nos a ponto de um equilíbrio cômodo e obsoleto.

Precisamos ultrapassá-lo, como numa corrida contra si mesmo. Ou seria a seu próprio favor?
Sim! Podemos até apressar os passos a nosso caro favor!

E quem sabe se, mesmo com os espinhos do labirinto factível, o perfume das rosas não nos faz querer perceber que anoiteceu. Olhar para o céu e ver como é bom ver as estrelas na escuridão!
Pois o que vale é o sentimento e o amor que a gente tem no coração!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Desabafo de uma mente cansada

Não consigo me concentrar!
Este mundo de percentualidades injustas não me pertence!
Devo aproveitar a chance para perceber que a minha mente pulsante não se limita a cálculos de proventos.
Eu quero mais!
Poder sair das amarras de legislações e números defasados.
Minha massa encefálica treme só de pensar na possibilidade de dedicar mais alguns dias a conhecimentos (quiçá) inaproveitados por mim.
É claro que eu gosto de aprender!
Mas isso?
Desde quando sentir pesar suas pálpebras ardentemente é aprender?
Eu sou mais!
Esses números estão para mim como o porco-espinho está para o urso panda.
Enquanto meu corpo se faz presente, sentindo um contragosto, minha mente flutua num universo paralelo de sonhos e realidades a serem perseguidos.
Eu posso mais!
Mortes recentes minaram minhas fraquezas humanas e estou com as veias e as artérias acordadas, numa insônia de aparência incurável.
Eu vou mais (longe)!
E que minhas pálpebras não se cansem facilmente, pois que a decisão em rumar sob o impulso da garra de Poseidon está lançada nesse mar infinito.

(Texto produzido durante um curso intenso, de um assunto não querido, provocando, consequentemente, uma série de questionamentos filosóficos numa sala de aula. Incrível como leis combinadas com um sistema defasado podem me fazer querer ser mais!)

domingo, 10 de março de 2013

Chorando por uma ponte destruída

Fiquei triste. Ainda estou.

Digerindo, aos poucos, os goles amargos de uma vida perdida.

Não, perdida não. Desprendida.

Desprendida de amor-próprio, de autopiedade e de autorreconhecimento.

Com toda a condenação feita ao egoísmo, reluto em nome do amor a si mesmo. Por que não?

Ser egoísta também é se amar. O importante é saber dosar. Não o amor, mas o egoísmo, por certo.

Por mais que possam vir condenar o meu raciocínio, ninguém merece deixar de pensar em si.

Os caminhos são pedregosos, espinhentos e cheios de truques.

Devemos nos preparar para o "Jumanji". Jogar em parcerias sem se deixar prender pelo jogo.

Infelizmente, enquanto uns se entregam aos desafios propostos, outros propõem desafios aos que ficam para viver.

Alexandre Magno Abrão, o eterno Chorão, tão jovem, foi um deles. Um dos que largaram o desafio e preferiram se deixar engolir pelo jogo.

Jogou contra si e não percebeu a sua riqueza.

Quantos, ricos de lições a compartilhar, já não nos abandonaram nessa selva urticante?

Lágrimas derramadas durante um café da manhã, aparentemente rotineiro, não o trouxeram de volta. Nem mudaram os rumos da situação necessitada de crença.

Assumo que seguirei derramando quantas forem precisas, mesmo que a cada gota um gosto de esperança nessa aventura terrestre se esvaia.

E como uma amostra das riquezas do Chorão, posto uma letra da qual gosto muito, e que vale a pena ser bem apreciada e vivida.


Pontes Indestrutíveis

Charlie Brown Jr.

Buscando um novo rumo
Que faça sentido
Nesse mundo louco
Com o coração partido eu
Tomo cuidado
Pra que os desequilibrados
Não abalem minha fé
Pra eu enfrentar
Com otimismo essa loucura
Os homens podem falar
Mas os anjos podem voar
Quem é de verdade
Sabe quem é de mentira
Não menospreze o dever
Que a consciência te impõe
Não deixe pra depois
Valorize a vida
Resgate suas forças
E se sinta bem
Rompendo a sombra
Da própria loucura
Cuide de quem
Corre do seu lado
E quem te quer bem
Essa é a coisa mais pura
Fragmentos da realidade
Estilo mundo cão
Tem gente que desanda
Por falta de opção
E toda fé que eu tenho
Eu tô ligado
Que ainda é pouco
Os bandidos de verdade
Tão em Brasília tudo solto
Eu faço da dificuldade
A minha motivação
A volta por cima
Vem na continuação
O que se leva dessa vida
É o que se vive
É o que se faz
Saber muito é muito pouco
"Stay Will" esteja em paz
Que importa é se sentir bem
Que importa é fazer o bem
Eu quero ver meu povo todo
Evoluir também
Que importa é se sentir bem
Que importa é fazer o bem
Eu quero ver meu povo todo
Prosperar também
Que importa é se sentir bem
Que importa é fazer o bem
Eu quero ver meu povo todo
Evoluir também
Que importa é se sentir bem
Resgate suas forças
E se sinta bem
Rompendo a sombra
Da própria loucura
Cuide de quem
Corre do seu lado
E quem te quer bem
Essa é a coisa mais pura
Difícil é entender
E viver no paraíso perdido
Mas não seja mais um iludido
Derrotado e sem juízo
Então!
Resgate suas forças
E se sinta bem
Rompendo a sombra
Da própria loucura
Cuide de quem
Corre do seu lado
E quem te quer bem
Essa é a coisa mais pura
Que importa é se sentir bem
Que importa é fazer o bem
Eu quero ver meu povo todo
Evoluir também
Que importa é se sentir bem
Que importa é fazer o bem
Eu quero ver meu povo todo
Prosperar também
Que importa é se sentir bem
Que importa é fazer o bem
Eu quero ver meu povo todo
Evoluir também
Que importa é se sentir bem
Viver, viver e ser livre
Saber dar valor
Para as coisas mais simples
Só o amor constrói
Pontes Indestrutíveis

segunda-feira, 4 de março de 2013

Navegar é preciso! (Só não quando o fazem por mim)

Diz o ditado: "O passarinho não canta porque está feliz, ele está feliz porque canta".

Não tenho cantado o quanto quero, nem o quanto preciso. Mas fico feliz quando o faço. Minha felicidade é, também, cantar.

Pensando no que tanto quero é que comecei a me perguntar: o que de fato quero?

O questionamento é bastante pertinente em meu cenário um pouco agitado, assumo, ultimamente.

"Donas de Felicidades" têm me procurado. Então, deveria estar receosa? Receosa pois que estou, e bastante.

Felicidades alheias são boas, igualmente me fazem bem. Porém, o que me intriga são aquelas que tentam visualizar em mim. "Aquela velha opinião formada sobre tudo".

Todo mundo tem opiniões (e pitacos, sim, esses vêm aos montes - e têm sido recorrentes em minha vida, até então levada a passos calmos e calculados).

O incômodo surge quando essas opiniões interferem no meu ser.

Sou simples. Mas não o sei ser quando o são por mim.

Fico confusa. Estou confusa. E isso é ruim.

Ok, por certo admitamos a importância de se mexer nas estruturas. Ventos mais fortes são bons para mover as velas.

Entretanto, e quando esses ventos ajudam a chamuscar as velas?

Chamas clamam pela vida. Mas pelo fogaréu e pelos ventos intensos minhas velas estão quase a derreter.

São fogos e artifícios alheios que têm aparecido com uma intensidade jamais vista.

Devo admitir que gosto de rotinas até certo ponto. Temperos diferentes são sempre bem-vindos, de quando em quando.

Porém, quero poder mudar a direção das minhas próprias velas. Içar a âncora e navegar mares desconhecidos. Desbravar terras diferentes que me façam querer conhecê-las mais e mais. Apaixonar-me pelo novo horizonte e com a possibilidade de segurar o leme de minha embarcação.

Há capitães de areias por demais ao meu redor. Acho que estou vendo a hora de a tempestade em mim brotar e devolvê-las às suas praias, onde deveriam ficar, para que possam ser ao menos, e com tanta empolgação, matéria-prima de castelos quiméricos.

"Intenção sem ação é ilusão. Ouse fazer e o poder lhe será dado", disse o Dr. Lair Ribeiro (em O sucesso não ocorre por acaso).

Eu quero. Eu vou conseguir o que quero.

(Peço permissão pela cacofonia a mim necessária, tamanha a vontade de escolher as minhas próprias cartas náuticas)

Só não quero que o que quer que eu queira queiram-no por mim!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A tal da saciedade e as papilas gustativas

Ando percebendo uma certa fome diferente. De algo que há um bom tempo não tenho em meu menu semanal.

O cardápio, sempre bastante saudável, e até motivo de chacotas pelos colegas mais próximos (por se mostrar "leve demais"), parece não estar mais surtindo o efeito desejado. O estômago tem agradecido, mas as papilas gustativas têm protestado. E com elas não posso brincar, pois quando se perde o gosto, perde-se a boa caminhada!

O protesto delas é justo. Justíssimo, diria. Mas acho que tentar neutralizá-las por mais de 2 anos seguidos deve tê-las feito acordar aos poucos.

O cérebro não sabe mais o que fazer, pois o coração, seu parceiro à altura, palpitando seriamente desde sempre, parece andar meio distraído.

O pulmão manda e desmanda oxigênio para a garotada do centro. As artérias pulsantes caminham entre os conflitos internos, enquanto as veias retornam deles carregadas de boatos de uma possível rebelião.

Tudo isso em razão da tal fome estranha.

Mas devo dizer que, por mais que seja diferente, ela não é ruim. Pelo contrário, faz tão bem aos órgãos internos (e externos) que poderiam até me conceder uma condecoração digna de nobreza, caso conseguisse saciá-la.

Não a saciedade plena, pois que ela não existe. Não em realidades de carne e osso. Mas ela é instigante e deve ser alimentada aos poucos (nunca chegando ao topo, para não perder a graça da aventura).

Então, começo a pensar no que fazer para encontrar o tal prato que faça a diferença nesse menu semanal.

Até agora pensei apenas em deixá-lo, quiçá até quando, chegar até mim pelo simples acaso. Porém, o senhor acaso anda tão ocupado em encontrar uma maneira pacificadora de resolver conflitos pesarosos que não acredito ter a chance de ele me entregar a encomenda.

Ademais, não estou sozinha nessa busca. Andam aparecendo voluntárias entusiasmadas em resolver essa ausência de prato novo.

A animação é tamanha que andam dizendo que a solução está bem debaixo de meu nariz, mas que este parece não querer sentir o novo cheiro. Algumas acreditam que é pelo fato de ele estar acostumado com os mesmos temperos diários, outras me dizem que devo reativar a função olfativa para o modo 'novidade'.

E em meio à exaltação alheia começo a entrar no debate das papilas (hiperativas e) gustativas:

- Meninas, o que preferem?

- Como assim? Você já sabe o que preferimos: inovação!

- Sim, disso eu já sei.

- Então?

- O que quero saber é se possuem alguma preferência de gosto! Doce ou salgado? Azedo ou amargo?

- Bom, você sabe que você mesma não é chegada muito em doces.

- Só em medidas contidas, sem muita adição de açúcar, de preferência mais natural possível.

- Isso, isso. Salgados são sempre bem-vindos, mas sem exageros de sódio (esse veneno maledeto)! E se possível sem molhos exagerados. Você não é chegada nos "mares de molhos".

- Ok, lembro-me disso.

- Descartamos o amargo de cara! Sem amargura, sem problemas!

- Devidamente anotado!

- Quanto ao azedo, bom, este pode ser bem recepcionado, desde que não esteja vencido.

- Como assim?

- Oras, Endie, nós não aguentaremos mais gostos azedados que estejam acima do limite do tempero salutar. Lembre-se sempre de que a sua essência é saudável. Não a mude em nome de qualquer chefe que apareça com uma nova receita de quinta (cheia de molho barato ou de doçura enjoativa)!

- Vocês são determinadas, papilas! É bom poder ter a sua companhia.

- Sabemos disso. E agradecemos o seu reconhecimento!

Após a consulta, ando mais atenta às indicações exaltadas das voluntárias. Pois até que ponto devo encarar novidades que, a priori, parecem ser bem diferentes do que me "autoindicaria"?

Claro que inovar é tentador. É desafiante, admito. Porém, até que ponto é estimulante?

Sou uma alguém, em geral, animada. Tanto que chego a ponto de apostar uma corridinha com partículas subatômicas (mesmo aquelas que, aparentemente, foram citadas como mais velozes do que a luz).

Mas a animação é contida quando se trata de riscos maiores do que o de mudar a posição da mesa de jantar, ou de alterar a quantidade de determinado ingrediente na sobremesa tradicional.

Incluir um ingrediente novo é uma coisa, uma receita nova (talvez nova para mim, mas já manjada e, quiçá, aprovada por outras pessoas) é um desafio e tanto!

E se as papilas não gostarem?

Elas foram tão prestativas, mesmo que a sua maneira, comigo! Não gostaria de fazê-las trabalhar por um gosto amargo (contra o qual elas deixaram bastante clara a sua repulsa)!

Se por um lado a senhora apreensão bate à porta do meu restaurante, por outro o senhor risco parece querer entrar pela porta dos fundos. E disse estar acompanhado da senhorita esperança.

E cada qual que busque entrar apressadamente para defender seus argumentos.

O que esta libriana sabe é que a senhora escolha está sempre de braços dados com a senhora dúvida. São tão amigas que aposto que são bastante confundidas por aí.

E em meio a todas as expectativas alheias, a interna pede espaço para respirar e fazer a sua própria escolha, a do prato inovador que melhor sacie, a priori, as papilas (hiperativas e, acrescento ainda, seletivas) gustativas.