Ontem chorei copiosamente por conta de uma dor de cabeça tão forte que não me deixava enxergar e pisar direito. Hoje de manhã, encontrei quatro fios de cabelo branco em meio ao meu vasto volume (e alguns brotando na franja).
Ontem tive medo de participar de uma estatística que apenas aumenta, a de pessoas jovens que sofrem um Acidente Vascular Cerebral. Hoje receio pela vida com a qual estou lidando diariamente. A cultura do medo encravada no peito me faz refletir: que bulhufas estou fazendo da minha vida? Ou além, o que diabos estamos fazendo das nossas brasileiras vidas?
Pago regularmente minhas contas, sou uma cidadã extremamente responsável em termos pessoais e profissionais, respeito o próximo e quem está longe (piada leve apenas para não perder a veia sarcástica), desejo o melhor dos mundos aos que me fizeram algum mal, planejo sonhos, mas me vejo em um redemoinho interminável de dores de cabeça fortes o suficiente para tirar meu equilíbrio e meu chão.
Não, não estou bem. Admito isso a mim mesma. Não quero ser mais uma a encobrir a verdade interna. Não gosto dos rumos do meu país (por mais que eu queria o tempo todo justificá-lo com frases do tipo "eu avisei" ou, pior, "bem feito"). Não gosto de trabalhar como chefe substituta justificando o enxugar de gelo diário (cuja geleira só faz aumentar) pelo pouco dinheiro a mais que receberei no final do mês.
Não gosto de mentir para mim mesma ao dizer que a melhor saída para o estresse semanal é imergir no Netflix. Não gosto de ver minha família toda se digladiando reiteradamente por conta de orgulhos feridos. Não gosto de fingir diplomacia quando alguém machuca propositadamente minha opinião. E não gosto de me sentir cada vez mais afastada da minha melhor versão, aquela da moça colorida de otimismo.
Eu não vou também justificar a minha fé ou a falta dela. Não quero usar Deus como ópio. E critico honestamente quem o faz. Respeito-os, porém não compactuo com a ideia. O meu Deus, já há algum tempo, vem sendo a música. Para chorar, sonhar, refletir e acreditar. Egoísmo de minha parte? Não acredito. Se temos o direito ao livre arbítrio por que não desfrutá-lo? Afinal, prefiro refutar-me da ideia de ter prazer real numa barra de chocolate belga (até porque cacau não combina com dor de cabeça) para aliviar uma sensação de "pagar pecados pregressos".
O agora me faz remeter ao tempo da aposentadoria. Quando tiver tempo livre para viajar à vontade, viver para a música, morar na Europa (um sonho antigo), sentir a respiração menos apressada, sorrir menos para a tela do computador e mais para pessoas, desconhecer o uso recorrente da palavra medo e voltar a querer levantar da cama cedo sem o resto da energia do dia anterior ter se esvaído (recarregada menos com a visão de um distante futuro e mais com o presente, o agora).
Nos últimos meses, minhas visitas aos médicos se tornaram frequentes, bem como as licenças médicas. E isso seriamente me preocupa. Estou cansada de caçar desculpas externas quando claramente a medicação não está na farmácia. Meu ego precisa desse anti-inflamatório emocional, mesmo que tenha consequências para outros órgãos (como usualmente as tem). Às vezes é preciso provocar algo em benefício do todo. Do meu todo. Para que a dor do ontem não se torne o medo do hoje.
Trilha sonora do momento: Long nights (Eddie Vedder), da impactante história real de Chris MacCadless (filme biográfico: Na Natureza Selvagem). Para tradução da letra: https://www.letras.mus.br/vedder-eddie/1095185/traducao.html
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