Pessoas muito amadas querem que eu aprenda a viver melhor. Que eu sorria mais bobamente, core de alegria e sinta o sangue fervilhar ao escutar uma música que lembre um ser querido.
A conquista de um outro complementar é um dos maiores (melhores?) desejos de quem me acompanha e me cuida. Não que o objetivo seja lançar a minha felicidade nos braços, no perfume e nos abraços apertados de alguém. Querem apenas que eu possa ter o prazer de ver outros ângulos bons durante a minha caminhada.
Sou naturalmente romântica. Acredito bastante na ideia de seres que se conquistam no dia a dia e almejam momentos ainda melhores de paixão, respeito, companheirismo e viagens (de pés no chão ou não).
A questão que me propõem muitas vezes vem se tornando angustiante. Cadê? Não vai atrás? Sairá de casa? Sairá à caça? Caçar coração disponível não é o meu forte. Nunca foi e, provavelmente, nunca será. Prefiro minha visão idealista de conquistar - que seja primeiramente pelo exterior, visto que é assim que em geral acontece -, mas que não seja algo escolhido em um "cardápio" de um bar, de uma cafeteria ou de uma balada.
Não sei dar sinais. E nem os compreendo direito. Talvez uma olhada nem signifique que queira saber se tenho conta no Facebook. Aliás, essa ferramenta pode ser interessante para muitos estrategistas. Para mim, é bom ser 'curtida' por alguém que julgo atraente e interessante. Porém, o próximo passo após o meu sorriso por trás da tela não é de deixar um recado do tipo "que bom que curtiu a minha foto", acompanhado de uma carinha simpática. Esse sistema de sinais virtuais ainda é bastante delicado para a tímida romântica.
Quando falar? Como falar? Falar mesmo? E se falar e não for respondida? E se for respondida de maneira objetiva demais? E ainda faltam as reais expressões alheias. A tecnologia facilita, a tecnologia dificulta.
Ainda escuto uns puxões (internos e externos): "saia do computador e veja pessoas". Por mais idealista que seja, sempre preferi o real ao imaginário. Até porque sorrisos brotados de verdade valem muito mais. A questão é essa tal realidade.
Sei produzir textos criativos, cantar em francês como poucos, dançar um bom Zouk, conversar em 5 idiomas, fazer um omelete apetitoso, nadar, tenho ótimo senso de localização, sei atuar em peças e até fazer graça de vez em quando. Só não sei flertar! E nem gosto de tentar fazê-lo numa situação pressionante.
O psicológico bomba: "Hum, carinha interessante... Ele olhou! Não olhou... Não, olhou!... Espera, olhou pra você mesmo? Olhou pra você mesmo! Levantou! Ixi, é baixinho (deve ter menos de 1,75 cm) / é toradão / é gay?...".
Aposto que muitas pessoas passam por dúvidas parecidas. O problema é como lidar com elas. Honestamente, é horrível sair com plano de voltar para casa com uma lista de pretendentes. Não gosto de pensar que "não bati a meta imaginária da semana".
"Olhar não cai pedaço, Endie", escuto quase sempre. Mas eu olho! Agora, se o outro vai ter poderes especiais de notar os meus quase 10 segundos de olhada é outra história. Não precisa ser super-herói não! Até porque eles vivem ocupados demais e cheios de conflito existencial.
Em verdade, eu só quero ser notada num sistema mais tradicional: conhecemo-nos aos poucos em um ambiente comum, conquistamos simpatia, saímos e voilà! Ok, sem fórmulas secretas! Sem planejamento demais! Eu só não quero a pressão incômoda. É chata, me faz lembrar que o tempo perdido* está passando e me faz invejar (mesmo que numa versão saudável, se possível) quem tem uma boa companhia.
A vida é cheia de aprendizados. Estou buscando prestar atenção nas lições. E uma delas me diz que o que realmente desejo é poder sorrir para o outro sem ter que contabilizá-lo numa lista imposta pelo tic-tac do meu relógio emocional.
Na trilogia dos filmes que descobri recentemente, e que incluí na lista dos preferidos, uma das personagens lembra: "Nós estamos apenas de passagem"**. Então, eu só quero que a minha seja menos conflituosa e mais prazerosa.
Sou essencialmente feliz. Quem me conhece sabe disso. Só quero que o futuro namorado descubra isso de maneira pacífica - sem o uso de táticas dignas de guerra para conquistar território alheio.
Ainda acredito que temos nosso próprio tempo, como cantou o Renato Russo. E o meu é apenas diferente. Não significa que seja melhor ou pior do que aqueles que têm mais facilidade de se envolver em relacionamentos. É apenas o meu tempo.
E para a minha torcida constante, eu deixo o recado carinhoso (firme, mas carinhoso): "obrigada pelos conselhos, pelo apoio de sempre, pelo desejo de uma vida melhor. E, ainda mais, obrigada por me deixar escolher as melhores ideias, dentro de quem eu sou, por quem eu realmente sou".
*Faço referência à música que tanto gosto do Legião Urbana, Tempo Perdido ("Todos os dias quando acordo/ Não tenho mais o tempo que passou / Mas tenho muito tempo / Temos todo tempo do mundo...").
**A citação é do filme Antes da Meia-Noite (2013), terceiro da trilogia romântica que envolve ainda Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004). Aliás, se fosse escolher uma maneira de gostar de um total desconhecido seria como no filme de 1995. Parece inimaginável conhecer alguém que mexa com você numa viagem de trem a Viena. Porém, quem disse que aventuras boas não acontecem na vida real? Eu acredito que sim. Só não quero deixar o trem passar. Mas até os vagões a serem observados quem tem que escolher sou eu. :)
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