domingo, 29 de setembro de 2013

"Deixa que eu sirvo"? Não!

Tragam as bebidas que levamos as comidas!

Não vai pôr o prato do seu namorado/marido/amigo?

Aprenda a dançar tal ritmo para conquistá-lo!

O reforço da fragilidade feminina no subservir à figura masculina é quase aterrorizante. Figuras maternas, amigas (?), irmãs ou desconhecidas surpreendem com seus pratos, copos, corpos e despeitos ofertados e entregues aos moços de barbaridades apoiadas.

Seguimos, há milênios, vivendo mais do mesmo. Diariamente. Minutamente, diria.

A seus postos, crianças, adultas e idosas posam de questionadoras assíduas ao tratarem do universo arqui-inimigo. "São uns grossos, uns estúpidos, uns insensíveis, uns cachorros..." e outras alegorias que é melhor deixarmos para as conversas de bastidores.

Os tais são alvos fáceis de dardos e dados que atingem lares, bares, academias e trabalhos.

Há uns brutos sim. Uns covardes animalescos. Uns salafrários da paixão. Uns miseráveis da educação.

A culpa é sempre deles? Nem sempre!

Derrubemos as máscaras da incredulidade confortável. Somos nós, mulheres, que repetimos a mesma ladainha de ele pode sair, ela não pode. Ele leva o refri, ela os salgados. Ele fica sentado, ela põe o almoço. Ele sempre chega tarde, ela não pode chegar. Ele é garanhão, ela é vadia. Ele é macho, ela é frágil. Ele tem personalidade, ela é revoltada.

Se eu gosto de alguém posso até adaptar certas vontades. Até para conhecer outras visões. Mas daí a transformar-me sem haver o equilíbrio de ambos os lados? Isso não está certo!

Ele prefere as loiras! Pintamos o cabelo.
Ele gosta de pagode! Fazemos programações novas.
Ele adora uma sobremesa diferente! Consultamos o oráculo Google e damos um jeito de aprender.

E quanto a nós?

Ela prefere os bem vestidos. Ele é o mesmo.
Ela gosta de música francesa. Ele é o mesmo. ("porque música francesa é "um saco" de gostar, não é?")
Ela adora frutos do mar. Ele é o mesmo.

Adaptações constantes são feitas. Não estão erradas. Podem acontecer. Porém, por que o peso só pende para o lado cor de rosa? Aliás, por que é só cor de rosa?

Mulheres são complicadas? Hum, tenho minhas discordâncias em relação a isso. Afinal, mulheres são muitas. E cada qual tem sua personalidade.

Homens também são muitos. E cada um pode ser ensinado a agir de maneira diferente. Quem influencia diretamente nesse papel? Nós!

Não sou mãe ou esposa. Entretanto, tenho familiares, amigos e podem surgir paqueras. Neles é que podemos barrar a prática obsoleta e repugnante do "deixa que eu sirvo".

O "deixa que eu sirvo" é o reforço da ininteligência afetiva. Um sério risco da continuidade da prática do "mulher é pra essas coisas".

É melhor fugir do padrão da fragilidade e pôr um ponto final no capítulo da marginalidade cruel a qual nós próprias nos impomos. Não é nos livrarmos da ideia masculina. É nos livrarmos da ideia do feminino subserviente. É nos vermos em pé de igualdade, até mesmo no direito de também ser servida, de chegar tarde, de pensar diferente e seguir pensando diferente. De gostar de música francesa e não ter que frequentar blocos de carnaval só porque fulano gosta.

A vida é sua. As atitudes também.

Então, aja da melhor maneira com eles. Sempre lembrando que somos responsáveis por aquilo que fazemos, e pelas consequências de nossas ações. Até mesmo por um simples prato servido.

Nenhum comentário: