Eu e meu cartão de visitas |
Fogos de artifício dançam no céu da boca em nome de uma conquista a longo prazo.
Uma placa de honra ao mérito higiênico se instala em cada dente desta moça disciplinada.
Após uma respiração de alívio, vinda com bastante energia dos ventrículos, sugeri-me a ideia deste texto. Faz-se necessário compartilhar uma notícia que traz uma importante reflexão sobre situações cotidianas.
Há três semanas fui levada a um dos sustos mais impactantes de minha organizada vida: estava com princípio de cárie em dois dentes. A mulher do sorriso marcante amarelara cada intenção de felicidade que pudesse advir de momentos conquistados, pois como poderia sentir a janela da alma quando dois parafusos dela estavam quase enferrujados?
O drama parece inapropriado. Mas experimente dizer ao rouxinol que o seu canto já não é mais o mesmo de outrora, pois estaria emitindo um som mais fraco. Meu cartão de visitas é meu sorrir. E restaurar alguns dentes seria dar um retoque, mesmo que de leve, na Monalisa. Sim! É assim que me vejo.
Após uma semana de lamentações, 'autobroncas' e questionamentos infindáveis, aceitei a futura situação.
Porém, nada acontece por acaso. O plano de saúde não reconheceu a doutora. Troquei de clínica e voilá!
Um raio-x profundo e profissionais mais qualificados me deram a notícia do mês: estava limpinha (e de parabéns por ter chegado à fase adulta sem qualquer problema dentário)!
Sorriso voltou a mil. Pulos de alegria (e eu pulo mesmo, sabe disso quem me conhece) e uma súbita preocupação: e se eu tivesse me deixado levar pela doutora irresponsável?
A análise se estendeu, como sempre o faço.
Quantas vezes nos deixamos levar pelos primeiros diagnósticos que a vida nos traz? Pessoas, mesmo com intenções simpáticas, podem nos levar a caminhos de restaurações futuras totalmente dispensáveis.
Por pura síndrome de cáriência emocional (termo criado por esta autora), podemos ser conduzidos a situações inapropriadas. Ainda mais se você for do meu estilo: um ser humano movido pela emoção.
Em nome de autoridades constituídas (pai, doutor, chefe, líder), a obediência pode ser um guia falido.
Não falo em duvidar de todos. Mas em não acreditar em tudo de primeira.
A sociedade dos irresponsáveis está aí, para quem quiser abrir os olhos e ver. Há tantos com poderes maiores que os deuses da mitologia nórdica, e com a mente de doentes desnorteados!
Escamotear a razão é, algumas vezes, deixar-se pisar numa trilha de parafusos enferrujados.
Por isso, é importante manter a visão clara e aberta sobre o que acontece em nossas vidas. Não precisa se tornar um neurótico. Apenas mantenha seu exame de vista em dia e não confunda um sinal de vire à direita com um de siga em frente.
Errar é humano. Deixar-se errar por um outro humano por cáriência emocional pode ser irreparável.
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