domingo, 3 de setembro de 2017

A descoberta da onipresença desejada

Cascais - Portugal (novembro/2016)
Ao fixar o olhar vívido no horizonte, enxerguei a Liberdade, a qual há tempos procurava. Convidei-a com um sorriso para um abraço honesto e ela prontamente me estendeu as largas mãos, afagou meus cachos, aqueceu meu peito e compartilhou comigo o balanço de sua respiração profunda e vital.

Para desfrutar por mais tempo de sua prazerosa companhia, ofereci-lhe meus desejos, e ela, os seus ouvidos e olhos atentos a cada detalhe. Em seu globo ocular, enxerguei tons de empatia jamais vistos. No fim de minha narrativa, ela desenhou em seus lábios um risco de entusiamo e de esperança. 

A presença daquela figura ilustre e tão reiteradamente mal-interpretada me remetia instantaneamente ao tempo em que contar as estrelas no céu, aconchegada pelo vento carinhosamente gélido da noite e acompanhada do brilho da Lua, era um ritual cotidiano e predestinado. 

Foi então que me dei conta de que ela não precisaria se afastar de meus extensos relatos e nem de deixar de papear silenciosamente comigo, usando tão adequadamente como ferramenta a sua transparência existencial. Aquela criatura era mais do que uma conquista da paisagem.

Descobri, ao toque de sua essência floral em meus sentidos, que a Liberdade era onipresente, eu apenas não a vislumbrara antes como extensão de meu ser por que não me permitira enxergar além do muro dos conflitos internos.

Quando finalmente o Sol se pôs na linha do horizonte, sentamos lado a lado, de braços dados e sorrisos embevecidos, com olhos ansiosamente marejados, para apreciarmos juntas a recém-descoberta. Então, contamos estrelas, aconchegadas pelo vento carinhosamente gélido da noite, sob o olhar atento e (posso jurar que ainda mais radiante) da Lua.