quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Navegando em águas turbulentas


Na semana passada, foi divulgada uma pesquisa cujo resultado é não apenas alarmante como também desafiador. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, numa escala de 0 a 10, no Brasil, o apoio ao autoritarismo é de 8,1. Como uma das principais causas desse resultado surreal (quer dizer, seria mais surreal por esperarmos um índice alto ou por ele de fato existir?) está o medo da violência cotidiana. Apoiar posturas autoritárias, o apoio pelo medo, é a melhor saída? Nunca. A História está repleta de exemplos que endossam essa resposta.

Ouso dizer que a ideia de obedecer sem questionar, apenas seguindo o fluxo na levada de quem se rotula como "aquele que solucionará os problemas", remete ao nível mais alto do niilismo. Afinal de contas, se a maioria de nós prefere marchar como soldados rasos, prontos para dar a volta ao mundo sem pausa para comer ou ir ao banheiro, será que existe a consciência da margem do contrafluxo democrático para o qual está sendo manejado o leme?

Alguns poderiam contra-argumentar: "Não seria melhor, ou até mais produtivo, termos que nos preocupar menos em escolher os pormenores cotidianos? Até porque é só apertar um botão verde para escolher alguém que faça isso por nós de acordo com o que acreditamos que ele/ela conduzirá as decisões". Não seria, nem será. Não somos robôs programados a apertar parafusos e prontos para a troca de óleo periódica. Temos necessidades. Reclamamos. Desejamos. Protestamos. Essas características estão muito além de um controle externo teórica e falsamente delegado.

Em uma das imprescindíveis páginas de "Mulheres que correm com os lobos: Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem", Clarissa Pinkola Estés endossa esse posicionamento social proativo, na página 178, ao afirmar que "quando uma vida é excessivamente controlada, cada vez há menos vida a controlar". Tal frase pode ser enxergada sob o viés da procura por uma vida menos programada (sobretudo para quem prefere adiantar cada passo), bem como sob o viés do controle externo. 

Décadas, séculos e milênios atrás, filósofos lutaram para nos libertar das amarras impostas pelo poder constituído de seres costumeiramente privilegiados, mesquinhos e gananciosos. Seria a hora de voltarmos a deixar que nos amarrem novamente para que haja a garantia de dias felizes? Desta vez, certamente, não usarão cordas, mas arames grossos, farpados e venenosos, para que certifiquem a sutileza da causa que há por trás de toda história para bois (e toda a fazenda) dormir. Nos embriagarão com suas já obsoletas práticas da imposição do medo para assegurar a preservação mercado e escatológica que é resultado direto do autoritarismo.

Portanto, numa era de modismos originários e endossados no ambiente virtual, conclamo a sua atenção para atentar ao navio no qual embarca. Não entre na fila porque "todos estão fazendo isso". Seja humano e use suas bagagens neurais para ponderar se a moda que escolheu endossar compactua com o discurso que habitualmente defende. A não ser que queira vestir o colete da hipocrisia. Mas lembre-se de que ele não vai te proteger das grandes tempestades. Especialmente as internas.

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