Não é uma simples frase de efeito. É a mais pura verdade!
Dia 28 mudou, quase que radicalmente, a minha vida.
De uma simples sonhadora passei a ser uma cantora profissional.
Cantora profissional! Já pensou nisso?
Foram necessários alguns dias de ensaios no Rio de Janeiro (sim, Rio!!), doses diárias de inspiração na cidade, apoio incondicional da mãe e suporte de desconhecidos que se tornariam amigos meus depois para começar a minha vida.
Sim, comecei a viver de verdade a partir deste encantador momento.
De alguma maneira, sabia que 2011 seria um ano difícil e muito bom para mim.
Ao menos senti isso desde o começo dele.
Sabe quando tudo dá errado logo no começo e você pensa: se começou assim é porque deve ter uma grande coisa boa por vir (ao menos você assim deseja ser recompensada!).
Revisitar o Rio após quase 15 anos foi muito bom. Não deu tempo de curtir a terra direito.
Eram muitas horas diárias de ensaios e muita concentração, além da chuvinha fatídica diária.
Foram 4 dias. No penúltimo deles tornei-me campeã. Ganhei o primeiro lugar.
Primeiro lugar? Nossa, há quantos anos não ganho o primeiro lugar (desde a medalha da sétima série como a melhor aluna da 7ª "C")!
Mas o melhor não é o troféu, a medalha ou o prêmio para Paris (sim, esse foi o prêmio!)!
Talvez duvidem, ou não acreditem, mas o melhor de tudo foi cantar.
Ter alguém para me ouvir.
Ser ouvida é a melhor sensação do mundo! Descobri isso desde a etapa regional do Festival.
E ser ouvida e cativar é melhor ainda.
Ver, mesmo que embaçadamente (por falta dos óculos), os sorrisos na plateia é incrível!
E pisar no palco? Sentir sob os pés aquele chão que te traz apoio suficiente pra te deixar dançar, sorrir, cantar, elevar-se... o palco é minha segunda casa. Ou talvez seja a primeira. É, acho que é a primeira. As demais são apenas temporárias que me confortam enquanto não retorno ao palco.
O curioso disso tudo é que sempre soube que não pertencia a um só lugar. Nunca me vi fixada como os demais amigos e familiares. Talvez já tivesse a certeza, desde pequena, que a música me levaria a lugares mil.
O palco é o único lugar que quero sempre retornar. Semanalmente, se possível.
No Teatro Maison de France eu não apenas conquistei o primeiro lugar. Eu me conquistei. Conquistei minha autoconfiança em mim mesma. É muito pleonasmo, eu o sei, porém, é necessário para reforçar o quanto passei a me dar mais crédito - já dado pela minha mãe, minha avó e alguns amigos.
Engraçado é pensar em tudo o que se passou por trás dos bastidores naquele dia 28: a chegada ao teatro com o taxista que queria te enrolar (mas você sabiamente deixando claro que conhecia o destino - ao menos tinha olhado no Googlemaps dias antes), o reconhecer do palco (admirando cada pedacinho daquele lugar encantador), as surpresas no camarim (pequeno, porém confortável, e cheio de lembranças boas - a nossa Piaf Brasileira tinha se apresentado lá, seria um sinal?), o sanduíche/janta na lanchonete da esquina com dois colegas de Festival, a preparação (que nunca acontece 100%, pois por mais maquiagem, creme de cabelo, aquecimentos que se faça você nunca está realmente preparada para o que vem) e o friozinho na barriga (um companheiro inseparável de quem quer fazer o melhor, sabendo que pode fazê-lo, mas desconfiando disso).
Pessoas passando no corredor estreito dos bastidores. Candidatos saindo e entrando. Sorrisos nervosos. Cantoraladas. Mimimis. Zumbidos. Águas e mais águas. Maçãs!
E começa o espetáculo! Casa cheia (percebo pelo ruído das conversas)!
Um a um são chamados os 8 candidatos vindos de várias partes do país: uma do Pará, um da Bahia, eu de Pernambuco, dois do Rio de Janeiro, duas de São Paulo e um do Rio Grande do Sul.
Aliás, como disse no vídeo de agradecimento (disponível abaixo), todos pareciam velhos amigos, incrivelmente! E é verdade!
Fui a antepenúltima.
Quando estavam para me chamar tive uma sensação estranha. Nunca havia sentido isso antes. Quer dizer, aquela era a segunda vez que me apresentava num palco sozinha, digo, acompanhada de uma banda. Porém, algo parecia me dizer que não ficaria satisfeita com minha apresentação. Algo iria acontecer.
Minha garganta começou a se fechar. A respiração começou a ficar ofegante. O coração pulsava tão forte que duvidava que voltasse à frequência normal em pouco tempo.
Mas o que estava fazendo? Deveria relaxar e não estar à beira de um ataque de nervos.
Nunca havia sentido borboletas no estômago antes (é, ainda não me apaixonei de verdade... ainda, deixo claro). A sensação é de pura impotência. Afinal, como controlar as tais borboletas?
Bem, mas controladas ou não eu teria que seguir adiante. Teria que caminhar ao palco assim que ouvisse meu nome.
Endie Eloah, Les P'tits Papiers.
Eita, tinha chegado a hora.
Caminhei em direção à luz.
E lá encontrei um grande amigo, que teria um papel de suma importância naquela noite: o microfone.
A voz não estava confortável. Não conseguia respirar direito entre as frases. O apoio necessário do diafragma estava fraco. Senti que não seria minha melhor apresentação.
De repente, algo me acordou daquele leve pesadelo. Algo que poderia ter-me prejudicado, mas que acabou salvando-me: uma falha técnica (ao menos é isso que acredito ter acontecido).
No começo da segunda estrofe, se repararem no vídeo da apresentação, poderão verificar que o microfone parou de funcionar por alguns segundos. 5 ou 10 segundos extremamente importantes pra mim!
Olho fixamente (e com tom de fuzilamento) para o controlador do som. Poxa, aquilo só aconteceu comigo? Por quê? Coincidência? Não acredito em coincidência!
O que houve a partir daí foi uma sucessão estranha de acontecimentos ao mesmo tempo: enquanto cantava, pensei em parar, em começar de novo - afinal, tinha sido prejudicada.
Entretanto, algo mais forte dentro de mim (talvez) me fez acreditar que seria muito melhor seguir cantando. Parar? Não! Mostre-se forte, confiante! Afinal, não foi você quem errou!
E segui. Segui sorrindo. E a garganta finalmente se abriu. As borboletas foram embora. Ao menos saíram do estômago. Minha voz soou bem melhor do que antes.
Não foi minha melhor apresentação. Ela ainda estava por vir.
Agradeci ao público pelas palmas. Desci do palco e sentei-me na plateia. Estava acabado.
Quer dizer, não poderia fazer mais nada além de esperar o óbvio: próximo ano tento novamente!
Ao menos foi isso que passou pela minha cabeça enquanto aguardava o resultado. No máximo, se os juízes estiverem de muito bom humor, ficaria em 3º. Quer dizer, havia cantores maravilhosos ali. Seria muito difícil me escolher. Todos foram bem, alguns melhores ainda.
É, tentei me confortar ao máximo. Estava convicta de que não estaria entre os 3 primeiros.
Subimos ao palco. Relaxada como nunca. O sorriso meio fraco, apesar da tentativa de aliviar a decepção com meu empenho. Mas não podia fazer nada. Quer dizer, acreditava que tinha dado o meu melhor dentro das possibilidades.
Terceiro lugar, a paraense, radicada em São Paulo, Natália Mattos, levou-o.
Caramba, lá se ia a última esperança de ganhar naquela noite.
Segundo lugar, o baiano, Gilson Couto.
Fiquei feliz pelos dois.
Mas quem seria o primeiro?
Começava a conjecturar em minha mente. Já tinha torcida organizada. Desejei muito que um de meus companheiros de Festival ganhasse.
Mas então, algo mágico aconteceu. Foram segundos que demoraram uma eternidade!
Ao olhar para o Diretor das Alianças Francesas da América Latina tive que desviar a atenção para uma colega que havia me dito um dia antes que eu ganharia.
Ela balbuciava alguma coisa e queria minha atenção.
Ela me dizia: 'Endie, você ganhou! Você ganhou!'
Porém eu não entendia.
Quer dizer, não era possível processar essa informação! Não podia ter ganho. Talvez ela estivesse brincando.
Mas como poderia brincar naquele momento tão sério?
Então quando notei os olhares dos outros candidatos para mim percebi que aquilo começava a fazer sentido!
Foi quando escutei finalmente:'Eloah de Arruda'.
O primeiro nome escapou ao Diretor.
Talvez por isso aquele momento tenha durado tanto. Quer dizer, ele estava tentando decifrar como se diz meu nome.
Normalmente é assim que acontece.
Deveria ter suspeitado disso antes. Mas como poderia?
As borboletas voltaram.
É, vieram com tudo.
Passaram pela garganta, pelos olhos, pelo estômago e me encheram o peito.
Primeiro lugar Nacional do Festival da Canção Francesa.
Uau!
Caramba!
Eu ganhei? É, eu ganhei! Mãe, eu ganhei!
As lágrimas vieram naturalmente.
Nunca tinha me sentido tão estupidamente bem na minha vida.
E tudo começava a fazer sentido.
O começo de ano ruim. A perda da minha preciosa amiga-irmã Laiza. Os pesarosos desafios familiares.
Tudo se encaixava. Tudo tinha me levado pra aquele momento.
Não era o fim. Não foi o fim. Foi apenas o começo. O começo da minha vida.
O que aconteceu depois foi maravilhoso.
Recebi elogios do Diretor que me estimulou a seguir em frente e nunca desistir da minha carreira, porque eu tinha muito talento.
Agradeci emocionada a todas e todos que fizeram aquele momento possível.
Cantei novamente a música que me fez reconhecer, finalmente, a cantora profissional em mim.
Abraços mil. Emoções mil.
Telefonei ao amigo que me dera a oportunidade de estar ali, Thiago Correia.
Falei com a amiga e torcedora Tânia.
E saí com minha mãe e novos amigos a um Pub Irlandês da Lapa.
Aquela noite não podia acabar tão cedo! Não podia acabar!
Na manhã seguinte retornei pra 'casa'. Ainda não conseguia acreditar no que tinha acontecido.
Mas o sonho começara. Agora, mais do que nunca.
A cantora finalmente despertara em mim.
E cá estou.
Cinco meses depois do acontecido relatando um pouco do momento mais feliz da minha vida.
Ao menos por enquanto. ;)
O meu muito e sincero obrigada a todas e todos que tornaram possível essa conquista.
Todos os que ajudaram e os que tentaram não ajudar.
Afinal, a gente cresce com todos eles.
Mês passado eu finalmente pude realizar um dos grandes sonhos, graças à conquista do Festival: conhecer Paris!
Mas essa é uma outra história. Num próximo post! :)
Endie Eloah_Les P'tits Papiers (Primeiro Lugar Festival Canção Francesa 2011)
Agradecimento e Reapresentação Endie Eloah_Festival da Canção Francesa 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário