quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A morte da razão e o vício irracional da autoerosão

Eu não consigo respirar.
Uma asma de nível agudo que me sufoca o peito incrédulo.
Minha consciência de vida anda se esvaindo e repetindo um mantra constante e cheio de angústia: "é neste cenário onde estão depositadas as esperanças da humanidade?"
Mais do que a morte física o que me choca é a morte da vida.
A exacerbada dilaceração de valores primordiais.
Transformam constante e cortantemente circo de horrores morais em pão diário da sobrevivência.
Matam a vontade de querer ver a vida com bons olhos.
Enquanto observo homicídos duplamente, por vezes tripla, desqualificados de valores, juro solenemente não perder o foco da razão.
Mas é difícil. É árduo. E como dói!
Dói ver em que transformam essa existência.
Dói sentir para onde caminhamos. E não quero caminhar assim.
Pessoas machucam outras apenas pelo prazer fétido de se esquecer frustrado.
Criaturas desavisadas são estraçalhadas por pensarem diferente do "senso comum" (e o que é isso, afinal?).
Sufocam-nos, diariamente, nos whatsapps, Facebooks, notícias digitais, com grosserias vis de tão baixo nível humano que mesmo aos seres unicelulares não poderiam ser reportadas.
Engasgo com a sensação repetida de não pertencimento.
Para onde caminhamos, meu Deus/Krishna/Alá?
Envergonho-me de ser humana, se isso é sê-lo.
Entramos, minuto após minuto, post após post, em um ciclo vicioso de agressões.
Agride-se por argumentar diferente.
Por não estar nos "padrões".
Por sorrir muito.
Por cantar de verdade e com o coração.
Por ser "ingênuo demais".
Por não achar normal o instituto da grosseria.
Por parecer melhor, em certos aspectos, do que o outro.
Por não querer revidar.
Por ser "paciente demais".
Por ver o mundo de cabeça para cima.
Por querer viver sem matar.
E matam, como matam!
Estraçalham a energia alheia como zumbis, reais e nada fictícios, que se alimentam das parcas boas intenções.
Por vezes, procuro a emoção de ser humana e a distração das indiferenças me faz perder o rumo da outrora jovem otimista.
Já dizia Renato Russo: "O mundo anda tão complicado".
Está cada vez mais difícil ver a linha do horizonte a me distrair.
Da luz se faz a escuridão em se tornar infeliz. E, talvez pior, em provocar infelicidades.
Se estás feliz, desanima-te depressa, pois é um golpe nos seres frustrados. Bastam algumas palavras de esperança para que a tua miséria seja invocada.
Ando acreditando que pobres não são os que têm pouco, mas os que são tão miseráveis em desejar e nutrir o mal alheio.
O que me gera a provocação (interna, sobretudo, e diária, (in)felizmente) é a morte do Eduardo Campos (tratada como uma piada cruel por alguns). Não votaria nele. Mas a discordância política não me torna perversa. Onde há vida, a meu ver, deve haver respeito.
Além disso, outras questões cotidianas, sobretudo vividas nos últimos meses, me fazem refletir sobre isso.
Sobre a morte da razão.
Como capacidade de raciocínio.
Mas não raciocinam mais. Apenas mordem, mastigam e regurgitam.
Vomitam venenos sem antídotos fortes o suficiente para superá-los.
A razão em acreditar-me capaz de me sentir em casa neste planeta anda esvaindo-se.
Não é a desistência da minha vida.
Apenas a desistência (dolorosa e infeliz) do que, agora, muitos têm chamado de vida.
E, assim, eu não vivo. Apenas, me viro.

Para não desistir de vez, é bom lembrar que há sempre alguém que também não se conforma com a estupidez humana. Ainda bem!:
Teatro dos Vampiros (Legião Urbana)
Perfeição (Legião Urbana)

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