Andei sentindo as gotas de chuva na testa, nas lentes dos óculos e no sorriso que aguardava ansioso uma certa mudança. Lembrei-me de meu avô que dizia ser a chuva um sinal de limpeza. Pensei que seria a resposta que queria. Mas naquela noite, recebi uma resposta da chuva, porém era a que precisava. Doeu. Doeu porque quebrou o encantamento invisível. Nós, sonhadores escassos, ainda insistimos em lançar encantos para quebrar a dureza da realidade autofágica. Entretanto, a natureza, sendo mais forte do que as necessidades superficiais humanas, assola as fantasias infantis que insistem em nos perseguir.
Foi quando senti o caos da decisão aparecer repentinamente em minha mente e em minhas mãos. Sabia que esta noite seria uma noite de decisões, apenas não sabia que estaria do outro lado do espelho. Este tem duas faces e, por vezes, esqueço disso. Às vezes, permaneço no lado do reflexo alheio e esqueço que sou eu a linha de frente do plano visual. Hoje havia me esquecido disso. Mas a chuva me lembrou, além do banho quente e do Elton John.
Por alguns minutos, quando do rachar do espelho, quis gritar pro mundo, talvez para salvar o lado fantasioso da desilusão. Entretanto, a chuva lá fora foi mais forte e me impediu de prejudicar a garganta. Foi então que me lembrei de um de meus poderes mais fortes: a palavra escrita. Escrevi, pus em frases os verbos e os adjetivos que exprimem o meu acordar diante do espelho.
Ainda não estou totalmente consciente desse meu poder de honestidade sentimental; mas quando tiver essa consciência estou certa de que a fantasia não sera mais necessária. De que não precisarei mais fingir. Porque eu sou a personagem mais importante da minha história. E os coadjuvantes não devem tomar conta do meu roteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário