segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mais uma balada da vida

Este fim de semana fui (novamente) pra uma boate.
Mais precisamente a tal Nox.

Nox é sem noxção.

Tutchi, Tutchi, meninas de vestidos curtos e fartas comissões à mostra, rapazes de camisetes coladas e cabelos de boi lambeu, drinks, luzes baixas, som altíssimo, cheiro inquietante de gelo seco, olhares debochados e debochantes, conversas derretidas (porque mole é pouco), revista na entrada, banheiro onde secadores são o paraíso e finalmente o preço (caro) de aguentar mais um momento de vazio.

Talvez não precisamente vazio por inteiro.

Eu, como sempre, continuei a observar o ser humano.

Minha amiga foi minha companheira. Grazi queria se divertir. Eu quis agradá-la.
Mas não agradei-me.
Não gosto daquele lugar.

Boates são templos não apenas de vaidade mas de danças do acasalamento e de rituais de fuzilamento.

Riquinhos se misturam aos que podem nem ter o que comer direito mas juntam tudo para estar ali.

Risadas altíssimas e estridentes marcam entre os passinhos de pra lá e pra cá.

Todos parecem robôs.

Lembra Admirável Mundo Novo (de Aldous Huxley), em que o prazer se torna programável.

É tudo tão artificial que até um sorriso por mais verdadeiro que seja não sai verdadeiro.
Tem que ser alto pra o ouvinte perceber que seu comentário valeu a pena.

Estive a conversar com dois colegas de minha amiga.

Se esforçaram.

Foi bom pela companhia a mais. De ir e tentar não ficar observando os demais, aqueles seres gasosos.

Não deu.

Não consigo.

Será que sou anormal?

Nunca conseguirei ir numa festa sem deixar de reparar no quanto as pessoas têm para produzir e nada produzem?

Sei que são necessários momentos de escapismo. Mas aquilo é fugir de vez ao racional.

Enfim, aprendi a lição.

Nox e cia nunca mais. Nem pra ter a oportunidade dissimulada de querer conhecer um gatinho pra ficar com ele e trocar telefone.

Aliás, essa é outra boa discussão.

Por que eu tenho que beijar uma pessoa que não conheço? Ainda mais num ambiente de vazios.

O verbo ficar não se conjuga comigo.

Eu na verdade nunca o entendi direito. O processei.

Sempre fui de movimento, de mudança. Ficar num lugar por muito tempo é inquietante.

E no sentido de beijar um desconhecido e ir embora (ou talvez trocar - falso até - telefone) é tão... animalesco.

Não sou normal.

Aliás, não faço parte dessa coletividade animalesca.

Sou do tempo mental da paquerinha.

Conhecer, jogar charminho, trocar conversas (produtivas, de preferência), dar risinhos corantes, ficar na dúvida (será que é isso que eu estou pensando mesmo ou ele só está sendo legal?) até chegar o (bendito) dia do beijo ou do '' quer namorar comigo?''.

É tão mais denso. Mais aventureiro. Mais prazeroso. Mais humano.

Um dia eu volto a me sentir assim.

Gosto disso.

Mas até achar uma mente produtiva, bem-humorada e otimista vamos continuar com o status (até algum tempo preocupante - olha aí as cobranças internas que parecem vir de fora) de célibataire (solteira, em francês - sim, meu orkut está em francês... nada de antinacionalismo, mas é para praticar o idioma =D).

Há quatro anos estou no célibataire.

Aliás, e por que as pessoas têm que ter aquele ar (muito desesperador) de ''mas é melhor só do que mal acompanhado'' (isso dá dor no ouvido com essa regência deturpada - porque não pede a preposição ''de'' ... lá vou eu e minha mania de querer perseguir o português correto. Hum... perseguir português... bem, homem português, apesar de fazer parte de minha essência progenitora, não me clama a atenção... vai ver é a revolta pela colonização... mas esse é outro post)?

Sim, não tenho dúvida de que mal acompanhada nunca.

Mas dar desculpa pela solidão de relacionamento amoroso é um tanto frustrante.

Bem, mas me estendo demais. Comme toujours.

Amo escrever. Já disse.

E tenho tantas ideias, que as formulo enquanto caminho desvairando pelas ruas agitadas e aquecidas da cidade.

Porém escrevê-las é que são elas.

Hum, e quem são elas?

Esta, é uma outra história.

Beijos e me escrevam ;)



p.s.: está aí. Talvez não saibam, mas é tão importante se sentir ''lida''. Pronunciem-se, um ou dois leitores.
É a angústia de jornalista. Sem leitor, nada somos. (final lancinante, mas necessário para a autora)

2 comentários:

Kati Monteiro disse...

Endie, querida... nada de errado na sua forma humana de ser. Não queira ser igual aos outros, fazer o que todas fazem, simplesmente porque eles fazem (duvido também que saibam o porquê). Você tem todo direito de escolher outras formas de diversão, e isso não te desvaloriza. Muito pelo contrario. Fico feliz de ver esse post. Isso mostra que o mundo não esta completamente perdido.
E ca pra nos...ainda bem que existem pessoas que gostam da Nox.
O que seria do azul se não fosse o amarelo? ;-)

Endie Eloah disse...

=P

Katy, só podia ser você mesmo.

Obrigada pelo apoio e pela advertência.

Sim, e se não fosse a diferença o que seria do mundo?

Como já dizia Nelson Rodrigues (a única parte que gosto dele, pois o acho muito machista em suas produções):
"Toda unanimidade é burra"

Até porque se não fossem estas pessoas sobre o que refletiríamos em nossos posts e em nossas vidas?

É na diferença que se aprende.
;)

Bjoo!