terça-feira, 26 de novembro de 2013

Passadas

Os pés doem, mas a caminhada foi necessária.
A greve do ônibus e de fé na humanidade, ao menos por 24 horas, não me impediram de seguir magoando os suportes inferiores.
Não chega a ferir, não os pés, mas algo superior.
Caminhar não é indolor.
Exige atenção e cuidado para todos os lados.
Sinais, carros, pedestres, sons, olhares, reflexões.
E quando há sinais que alertam o seu estado de espírito é que as passadas parecem durar mais do que uma eternidade.
O importante é não desistir de chegar ao final da sua jornada acreditando que fez o que devia.
Cortes fazem parte. Merthiolate e bandaid muitas vezes não dão conta.
Sair da estaca zero é perder-se sem razão para voltar. É caminhar sem rumo em busca dos tais momentos felizes.
A cada novo nascer do Sol é importante lustrar os dentes em sua luz. Recarregar os pulmões é imprescindível. Puxar do fundo da alma em conflito aquela última bolha de ar e sentir que existe jeito para acreditar que podemos ser feitos de esperança.
É muito difícil notar isso e fazer a diferença. Nossa como é árduo caminhar contra a maré do status quo!
A água, por vezes, ferve, queima os pés.
Mas nem lava vulcânica me tira da única certeza que tenho: a de que nenhum calo vale a pena o abandono das passadas firmes.
O salto quebra, mas não terei problemas em adaptar o scarpin para uma sapatilha.
Às vezes, é preciso estar mais próximo ao chão para poder tocar as nuvens.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sentir

Alguns podem questionar o fato de alguém acreditar em vida após a morte, reencarnação, e ser tão emotiva após a 'perda' de alguém. Se sabemos que a real existência continua após a permanência física do envoltório corporal, por que, então, as lágrimas (e os questionamentos críticos aos níveis superiores)?

Falta de fé? Falta de raciocínio lógico? Falta de costume?

Não me acostumarei às mortes. Acredito na vida e não me entregarei ao consumo do fim corpóreo. A mulher, que desde cedo se acostumou a acreditar nas pessoas e a lutar, do seu jeito, por um mundo mais justo, nunca deixará o canal lacrimal enferrujar.

Foram três mortes de conhecidos este ano. Um mais próximo, mesmo que nem tenha sido um familiar. Mas há sempre aqueles que, mesmo passando por um breve momento, fazem a diferença na escolha de nossos próximos passos. São sementes do passado que geram frutos únicos no futuro.

Não é de hoje que falo de perdas e ganhos. De vida e morte. Mas os últimos baques, dessa vez mais reais, têm sido pesados. É difícil ajeitar o salto depois que os pés se machucam. Dói.

Remédio? Cura? Numa tentativa clichê de encontrar a resposta para o término do texto, e o cessar do rosto úmido, digo-lhes que o tempo é a resposta. Curto. Longo. Depende de cada ser. Sendo eu alguém com uma tendência forte a procurar sorrir, o tempo tende a ser generoso com as marcas. Não as apagará. Afinal, quero mantê-las para sempre para me lembrar de que a nossa história é feita de emoções. Deixem elas marcas ou não. Porque o que me importa nesta vida é nunca deixar de senti-las.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

(Di)lema

Fazer algo que não se apoia é crime? Talvez um crime egoísta, mas, ao meu ver, é um crime. Não está no velho Código Penal, e sim no arcaico Código Moral. Porque desrespeitar o que se acredita é dar brecha a futuros arrependimentos.

Ando pensando em como as pessoas se sujeitam (ou, no meu caso, têm de se sujeitar) a algo no qual não acreditam. "E para quê fazê-lo, Endie?". Isso! Questione-me! Pressione-me! E não me deixe entrar em uma zona de (des)conforto!

Em determinado momento, chegamos a uma tal encruzilhada que simplesmente nos leva a agir automaticamente em nome de 'algo maior' do que nós. No meu caso, o maior é em sentido literal. E isso é irritante. Intrigante e irritante. "Olha o estresse, Endie!". Os neurônios gastos nesses conflitos de moral valem a pena? Talvez.

Quem me conhece, sabe que tenho um bom senso de justiça. Como uma boa libriana deve ter. Gosto do justo. Desde pequena. Perdi com isso. Ganhei com isso. Mas é sempre bom poder deitar a cabeça no travesseiro com um peso a menos. 'Fazer o melhor' é o meu lema.

Ok, acabo tolhendo momentos preciosos de permissão ao erro. Perfeccionismo me leva a um patamar sofrido e isso não é bom ao coração. Confesso que o cérebro é bastante duro com o músculo das emoções. Ainda mais quando entram no embate do que é certo ou errado.

Dilema infindável traz consequências infindáveis. Sigo ou desisto? Maquio ou encaro a realidade? Experiencio ou tolho-me de crescimento? Costumo buscar o lado positivo das coisas. Ando vendo negatividades em muitos lugares. Está difícil manter o costume.

Pessoas são sujeitos intrigantes. Incluo-me, certamente. Farei o que mandam. Obedeço às ordens aparentemente despretensiosas. Sei o que sinto. Carregarei no peito as frustrações de quem tem dificuldade com o "não". E lanço a dúvida: é melhor 'se incriminar' ou encarar como um ato de desafio emocional?

Então, sigo e faço. Depois da experiência, quem sabe volte a falar sobre isso? Conhecendo-me, falarei. Surpreendendo-me, crescerei. C'est la vie! Mais, dans ce moment-là, pas en rose!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

(Di)Versificando

Quero parar e desviar pensamentos.
Desabotoar as prisões externas envenenadas de cinismos.
Fechar o circo vicioso de palhaçadas cotidianas.

Nada custa o mal estar.
Na geração que vive a dedilhar.
Vidas alheias ao que realmente deve importar.

Observo. Os pulmões aceleram.
A cabeça urge de pensamentos descompassados.
Nem ao menos a graça de dançar como uma bailarina parece tanto me apetecer.

O que essas criaturas fazem?
Entendem o que fazem?
Não, muitos simplesmente desfazem.

A sacola pesa no ônibus, não carregam.
Ao 'bom dia', mesmo com sorriso sincero, não respondem.
Na troca de favores, tem sempre o lado que escapa quando deveria agir.

Sociedade de pessoas mortas.
De respeito, de cuidado, de decência.
Há falência e decadência de valores sólidos.

O que vale invalida a luz.
Na escuridão, seguem mentes sórdidas e frívolas.
Nem ao menos levantam os olhos de suas caras máquinas caras.

Para onde seguem?
Para onde afundam?
Até quanto afundam?

Sigo em chamas de dúvidas.
Peço-me para não desistir de sorrir.
Impeço-me de me iludir.

Sorrio, se tenho vontade.
E que essa vontade não me leve a auto-obrigações diplomáticas.
Porque o que (ainda) vale para mim é respeitar o querer e o ser.