domingo, 22 de fevereiro de 2015

Cupcakes da discórdia

Sugestão de trilha sonora: versão de Somewhere only we know (do Keane), com Carrie Mac

Das coisas que vivi, lembro-me mais dos sorrisos que das quedas. Ando numa fase mais fechada para balanços positivos. Quem e o quê devem me interessar são as respostas que me preservam neurônios e não as que os queimam. Porém, a tarefa é árdua e incômoda. Pinçar espinhos fere e deixa arranhões. Falo do meu passado, meu presente e perspectivas futuras.

Não sei se contar pormenores vale a pena. Creio que não. Entretanto, exemplificar, mesmo que genericamente, facilita a compreensão do que vos falo.

Perguntaram-me, durante a semana, se tenho paciência para as pessoas cujo letramento está em nível bem desvantajoso em relação aos presentes na conversa. Minha resposta foi um sorriso. Afinal, pensei comigo, por que não teria paciência com quem precisa de ajuda e tem escassas condições sociais? 

Gosto de pessoas. Sobretudo das que prestam atenção no que falo e que me permitem escutá-la sem qualquer vínculo de avaliação constante e recíproca. Inclusive, neste meu blog, já falei em meu vício (impulso? mania, talvez? Não encontrei palavra que defina) em ser útil. Sobretudo, socialmente falando. 

Não frequento igrejas. Não gosto de me sentir presa a certas obrigações e proselitismos. Sem falsos moralismos, ok? E nem desrespeito quem o faz. Apenas uma escolha pessoal. Mas, apesar disso, aprendi, durante a caminhada, que me faz falta ser mais Endie e menos automática. 

Quando as pessoas que me conhecem falam o meu nome (em geral, tá? Não dá para ser unânime!), elas sorriem. Porque é isso o que, normalmente, transmito: sentimento bom. Autopromoção? Não. Reconhecimento de que meus anos de dedicação ao ato de ser mais humana, do desconhecido ao familiar, seguem valendo a pena.

Valores do bem estão enraizados em mim. Sejam eles cristãos, budistas, ou qualquer outra nomenclatura na qual acreditem. O que me importa, mesmo mesmo, é poder deitar minha cabeça no travesseiro todas as noites (ou na maioria delas) e dormir sem aquela sensação de que estou prejudicando alguém. 

Pegando carona nesse raciocínio, ratifico a ideia de que pessoas e suas histórias me atraem. Adoro escutar. Prestar atenção e dar feedbacks (sejam de sorrisos, palavras ou apenas olhares). Apetece-me ser humana. Só que está difícil. Por quê? Vejamos.

Valores subnutridos estão circulando em nossa sociedade. Subnutridos de amor, saúde e bem-estar. Tem muita coisa errada, invertida e violenta por aí. 

Não gosto de modismos. Não curto assuntos do tipo "todo mundo está fazendo isso". Primeiro que minha mãe me ensinou que eu não sou todo mundo (aliás, sábias mães que nos ensinaram isso). Segundo que não me acrescenta ser mais uma em meio ao padrão da vez. Quero ser reconhecida pelo o que faço de bom (seja na música, no sorriso ou em algum tipo de ajuda), não pelo o que visto, calço, como ou pago.

O texto não é indireta pra alguém. É direta para os alguéns que habitam o mundo e se esquecem de que todos iremos parar debaixo da terrinha lá do cemitério (ou em outro lugar em que as cinzas forem jogadas). Então, para quê me ferir com ferros e fogos sociais? De que adianta o que não me acrescenta?

Das esquinas por onde passei, andei encontrando mais amarguras que saúde. Doentes ambulantes de razão sofrível me provocam a ser mais feliz. Como? Sem fórmulas! Apenas desfrutando das pequenezes que perdemos de vista quando nos entortamos em direção a satisfações alheias. Fácil escapar das armadilhas sociais? Nadinha! Difícil é conciliar saúde e doença em mesmo ambiente. Contaminar-se é coisa de piscar de olhos. 

Perceba-se mais humano e menos padronizado. Ninguém precisa encaixar sua grande massa em fôrma de cupcake. Experimente apreciar pessoas. Conheça o que gosta (de verdade, não aquilo que alguma celebridade disse) e apaixone-se pela criatura que habita a sua massa. É muito bom sorrir para si mesmo e saber-se capaz de coisas maiores do que a (nada sã) filosofia das mentes enlatadas podem querer. 

domingo, 16 de novembro de 2014

Inominável

Sugestão de trilha sonora: Felicidade (Marcelo Jeneci)

Há surpresas que nos marcam sem palavras que a definam. Apenas sentimentos que tornam o peito apertado de lembranças iluminadas. Sejam pela beleza de seus simples encantos dos dias, pelas pisadas na praia que fixam mais do que areia sob os seus pés, pelos gostos do amor deixados no nhoque carinhoso e saboroso preparado pela mãe, pela evolução nas cantorias, pelo reencontro com pessoas que foram (e ainda o são) importantes em seus traços pessoais ou pelos sorrisos de constelação divididos com alguém agora querido.

Ideias traçam mais do que caráter. Elas são capazes de nos libertar de amarras sociais inúteis impostas pelo fato de ser humano. As consequências de nos guiarmos pelos pilotos automáticos que nos enchem diariamente os ouvidos escancarados são fatais para os corações alados. Imagine para aqueles musicais!

Por isso, vivo em constante redecoração interna de ideias. Porém, algo é pensá-las. Outra é presenciá-las. E, nas últimas duas semanas, foi isso o que me ocorreu. Fui ao encontro de uma ideia simples de um presente meu a quem me importa. Fui presenteada simplesmente com importâncias encontradas.

Apaixonei-me pelas representações de algumas ideias. De palco, de rumo e de batidas cardíacas. Pela luz (mais algumas vezes) enxergada em mim e pela própria falta de nome que a tudo isso se dá. Pela pura beleza de ser e sorrir em semibreves momentos.

Quando a realidade te embalar em sonho outrora esquecido ou desacreditado, levante e exponha os molares, caninos e incisivos. Insista em ter momentos felizes, pois é muito bom saber que, em meio a tantos gases lacrimogênios de ódio que nos circundam (e tentam nos sufocar), podemos ser bem surpreendidos em minutos e horas que compassam acordes harmônicos. Daqueles que nos deixam com ponta interna e firme de orgulho por vivê-los.

Por isso, convenço-me de sentir o aperto da saudade no abraço das boas lembranças. Um conforto paliativo, admito. Porém, pior seria se elas não houvessem existido. Agora, escuto novamente o concerto desses momentos que me garantiram notas sublimes refletidas em sorrisos internos de satisfação. Em simplesmente perceber-me suscetível à felicidade.

Sujeite-se a isso também. Verá que é inominável, praticamente inexplicável, mas sobretudo humano. Inesquecivelmente humano. :)

sábado, 11 de outubro de 2014

Leituras

Numa noite chuvosa, com o abafado há muito não sentido, na cidade que deu passaporte de entrada no mundo, recordações são sentidas na tela mental da mulher que se aproxima da nova idade. Em poucos dias, as jornadas de outrora se distanciarão. Porém, nada que a impeça de guardá-las vivas, como lembranças para um presente construído.

Da menina que se escondia do Sol à moça que se enxergava além da realidade que a cutucava, os vários capítulos do meu eu passam rapidamente como folhas levadas pelo vento da tempestade de ideias rememoradas diante do espelho do agora. Das primeiras descobertas aos grandes saltos, as aventuras validaram meu visto de permanência (e sobrevivência, algumas muitas vezes) nessa grande biblioteca planetária. 

Os livros somos nós. Cada qual com suas capas autointerpretativas ou autossugestivas. Umas ofertam aos leitores uma ideia aparentemente sólida. Outras surpreendem positivamente (com seus conteúdos ricos) ou negativamente (com didáticas obsoletas). Alguns autores têm marcas parecidas e nos chamam aos mesmos tipos viciantes de leitura, como acontecem naqueles relacionamentos que parecem ser réplicas dos anteriores, apenas com parceiro fisicamente diferente (ou não).

Costumava gostar da ideia de conhecer os diversos conteúdos. Mas os livros se mostraram inacessíveis ou com linguagens questionáveis (vai ver a revisão gramatical piorou com o tempo) e encaminharam a leitora aos caminhos de poucas estantes. Palavras empoeiradas e páginas cortantes afastaram a sede de outrora e a desencorajaram a ver a tal biblioteca com olhos de algodão.

Dos anos, lembro-me de uma vaga visão fantasiosa. De agora, restam-me poucos interesses de verdade. Mas me resta interesse. E como! Os best-sellers não são os que me clamam a atenção. Eles podem ser lidos numa passada de olhar pelo Google (ou no filme que, logo em seguida, estreará). Os que me chamam são os que têm poucas visitas catalogadas. Tornam-se importantes pelas histórias simples que almejam diferenças em meio ao comércio de ideias frágeis.

Aprecio perder-me em curiosidades pelas páginas que despertam empatia, questionamentos, impulsos, choros e risos. Princípios de previsibilidade também não me afastam da leitura. Por vezes, é preciso repetir experiências que nos fazem bem ou que nos despertam em meio ao início de um piscar mais pesado dos olhos. 

Nessas estantes... Em qual delas estaria meu livro? Para alguns, poderia estar na seção proibida (talvez pelas atitudes encorajadoras em usar o cérebro e o coração), mas esses são minoria. Para a maioria, acredito, tenho boa cotação. Acumulei boas leituras, mas foram poucos os que realmente passaram das primeiras páginas. Digo isso no sentido de relacionamentos humanos (nos mais diversos aspectos).

Reservei-me, durante muitos anos, às leituras silenciosas. Procurei compreender o mundo antes de captar a minha essência. Apaixonei-me por mim quando me desencantei por outros. À priori, num sentimento de autoproteção, comecei a reler as palavras traçadas e enxerguei um amor pelas ideias que projetara desde cedo. Demonstrei ser uma boa leitura. 

Dos rasgos e marcas que fiz em minha única edição, só me arrependo em não ter tido mais tempo de apreciar a obra antes. Entretanto, a história da evolução humana mostra que a seu tempo acontecem seus reconhecimentos. A caminhada é longa rumo ao objetivo final. E tudo na rota se mostra necessário. Até mesmo as traças que estragam as páginas e demandam atenção ao livro apreciado.

Sigo escrevendo minha autobiografia diariamente e querendo ler outras poucas de verdade, com interesses mais puros e honestos que a maioria costuma escrever. Até a edição final desse livro, em meio a qualquer sinal de mudança de gênero literário, é só me recordar que a editora dessa obra sou eu. Um sinal de alívio pisca internamente. É bom saber que posso confiar completamente nela. A experiência até aqui comprovou isso.

domingo, 21 de setembro de 2014

Da fome (e da falta dela)

Sugestão de trilha sonora: Back to the Earth (Jason Mraz)

Há dias em que não sinto a fome de proteínas, carboidratos, potássio ou ferro. Há simples dias em que como para não ter que me preocupar em alimentar a indústria farmacêutica, que cresce no mesmo ritmo das doenças modernas (ambas pelo excesso de fome - seja de lucro, seja de atenção).

Das fomes que sinto, há bastante tempo invade-me a de conhecimento. Conhecer histórias, dramas, dharmas e comédias. Literais e literárias. Há ainda a sede de cantos. De pássaros (como os que escuto diariamente no caminho à academia e que me fazem parar, admirar e sorrir olhando para o céu que evidencia, sem cerimônias, o presente desembrulhado). De música. De colo. De pólos (e naquele em que houver menos provisões comerciais, pretendo me instalar).

Das vezes em que senti o tempo interno mudar, mesmo que em meio a uma caminhada plana, soube identificar a tal fome mental e emocional. A física não costuma vir junto. Ao contrário, ela se dissipa ou se manifesta apenas quando identifico o correr dos ponteiros que não me deixa esquecer o dia a caminhar independentemente da nossa necessidade de tempo.

Tenho sede de compreender. A inanição emocional que assola a humanidade. A verdade das idiossincrasias que nos cercam de arames farpantes e nem se preocupam em nos proteger da primazia de suas palavras cortantes. A falta de perspectiva que há muitos provoca angústias, à primeira vista, incompreensíveis. O humor alucinante em se provar superior, não importa quem seja o outro e qual a sua bagagem histórica.

Não tenho fome de certezas. Mas das dúvidas que me fazem querer seguir atrás de mais respostas, numa trilha que me levará a uma explicação incompleta até atingir o ápice da epopeia que é essa passagem temporária. Por isso, talvez, o organismo não sinta a tal necessidade do trabalho digestivo. Porque o resultado final é bastante previsível. 

Construí ao longo desta minha ainda jovem jornada um caminho baseado na gentileza e na disseminação das ideias, sobretudo daquelas que não se encontram na televisão ou nos quizzes das revistas de moda. Procuro, desde muito muito cedo, a utilidade. Gosto de ser útil. É um prazer incomensurável fazer-me presente em lembranças (de preferência as positivas). 

Não quero receber troféus, capas de revistas ou estátuas em bronze. Apenas quero fazer a diferença. Mesmo que seja por um sorriso, uma provocação sobre a trilha, um elogio despretensioso ou uma palavra compartilhada. Isso não é uma despedida. É uma constatação. Da fome e da falta dela. 

#Texto inspirado na leitura de "Na Natureza Selvagem", de Jon Krakauer, e no filme homônimo de Sean Penn.

sábado, 6 de setembro de 2014

Noivas, a esperança e o amor

Eu vejo noivas toda semana. Pela brecha da porta, pelas falas empolgadas que sibilam do buraco na maçaneta, no descer da escada do prédio ou até pelo cheiro inconfundível dos produtos de beleza que entregam a sua presença.

A cada vez que as sinto por perto é como se qualquer pensamento destoante daquela realidade meio mágica se dissipasse até uma das masmorras da Idade Média. Além disso, a rádio mental sintoniza baladas românticas dos anos 80/90, geralmente internacionais, que me fazem apreciar o brilho exalado na alegria que compartilham, propositadamente ou não.

De Peter Cetera aos Bee Gees, U2 a Elton John, Bryan Adams a Barbra Streisand. Todos compõem harmonias que orquestram pensamentos ao sabor de lírios iluminados (ando apreciando mais essa flor). Mas o que me traz essas sensações além de ver mulheres inspiradas e felizes em uma vestimenta que as deixa (independente do estilo) com uma esperança capaz de abraçar o mundo?

Elas me sintonizam, com seus sorrisos, a um canal de lembranças positivas. É como se a luz alheia me lembrasse de trocar as lentes gastas do cotidiano para as do tipo antirreflexo e anti-arranhões. Então, sigo caminhando pelo corredor até me pegar sorrindo, em frente à minha porta, com a chave na mão direita, pensando no quanto a situação corriqueira ainda me desperta estalos mentais.

Deixe-me contextualizá-los mais: desde pequena acredito no amor. Naquele romântico, com direito a flores, música tema e surpresas marcantes. Tive mil (ou talvez até mais, pois perdi a conta) motivos para desacreditar nisso. Vi pessoas que amo (no sentido real da palavra) serem estraçalhadas. Tive de segurar pontas alheias desde muito nova (quando ainda os dentes eram de leite). Sabia o que via e sabia que aquilo não era certo. Não correspondia às músicas e aos filmes a que constantemente assistia.

Pudera, Endie! Eram filmes e músicas! Cenários irreais! Irreais até que ponto, afinal? Não me deixava abalar! Mesmo sabendo que o "primeiro amor" de infância, o Daniel San, não era real e tinha, na verdade, a idade da minha mãe (que decepção saber que me encantei pela reprise do filme... enfim, crescer também dói), eu não desisti do amor de hamsters no estômago, de sorrisos bobos e de boas lembranças. Daquele amor que quando a música dos dois toca é como se nenhum remédio pudesse ter tamanho efeito diante de alguma dor como aqueles acordes o fazem.

Fui crescendo, o tempo deixando certas certezas de lado e a vida me mostrou que há mais amarguras que romanticismos na estrada. Crueldades disparadas ao vento atingem o alvo e os espectadores, entre eles lá eu estava. A posição forte da emoção começava a ampliar espaço à razão. Amor racional, de pés no chão e bolhas sob o sapato. Segui vendo acidentes emocionais alheios, mas a sede pela esperança me domava a decepção. Por isso, fui tachada (através de olhares repreendedores e palavras debochadas) de ingênua.

Pobre de exemplos próximos, fui deixando de lado a capa da invisibilidade e partindo aos campos vazios da desesperança. Fui até o meio do campo de batalha. Não tive o coração quebrado. Apenas não tive o coração pulsando no ritmo de alguma música. Não compartilhei a tal emoção que nos deixa sem ar e sem melanina. Esvaziei o músculo cardíaco e provei o gosto amargo da desilusão. 

No fundo da alma, a última gota de esperança no amor ainda estava lá. Tive de quebrar o vidro de emergência para usá-la. Não me lembro exatamente o que me deu o estalo. Talvez a fase mais difícil pela qual tive de passar, emocionalmente falando, com a pessoa mais especial da minha vida me tenha feito acordar. Despertei, mesmo me desequilibrando aos poucos, sem saber dosar ao certo o que poderia ser real ou ilusão. 

Segui em frente, mudei-me (de cidade e de aspectos da personalidade) e me vi em situações de impacto. Encarei alegrias e quebradas feias de cara. Chorei, sorri, chorei de novo e sorri novamente, mesmo com os machucados ainda sarando. O que me dá direito a mais uma vida (como aquela dos jogos de Mário Bros, Sonic ou Donkey Kong) é a fé na esperança. Há de se acreditar em algo para poder viver de pé. E eu acredito no amor. Na esperança de que ele é a razão primordial para que tudo o que nós conhecemos exista.

Sem entrar em detalhes sobre aspectos religiosos, acredito no amor maior. Se Deus/Buda/Alá/Khrysna/Ser Supremo nos ama a ponto de nos permitir escolhas por que seguir na reta da amargura? Por isso, quando vejo seres amando e se permitindo curtir momentos desejados eu recarrego minha fé na humanidade. Parece pouco. Mas para mim um sorriso sincero alheio é suficiente para alimentar o apetite em ser feliz. 

Ando com sede e fome de prazeres pequenos: da risada boba no celular àquela compartilhada em meio à louca correria no ambiente de trabalho. Seres humanos são seres complexos. Com uma pesada tendência ao egoísmo e ao massacre emocional. Mas ainda não desisti deles. Com véu e grinalda ou de jeans e camiseta o importante é não deixar de se sentir parte dessa grande escola, cujas provas vão ficando mais e mais difíceis e cujos professores podem ser todos ao redor. Entretanto, o melhor deles costuma estar, normalmente, dentro da nossa própria estrutura. 

Pegue tua chave, sinta os cheiros do ambiente e escolha as trilhas (musicais e de concreto) que te fazem sorrir (mesmo que apenas internamente). Não desvie o olhar do que almeja. Descarte pensamentos negativos e acredite no amor. Mesmo que seja impossível defini-lo, é impossível viver sem senti-lo. Tenho observado isso há quase 29 anos. E, pelo visto, seguirei assim acreditando.

domingo, 17 de agosto de 2014

Cuidando do jardim para deixar fluir

O que você precisa deixar fluir? Com essa pergunta proposta, passei a semana a refletir. Poderia escolher situações, pessoas, angústias passageiras, dores físicas ou nomear uma vasta lista de tudo o que me trava a consciência, a mente e o coração. Porém, ao inspirar profunda e calmamente consegui expirar o que me incomoda, o que causa furo e arranhões nos sapatos. É a inveja. Não a inveja natural, aquela que nos faz admirar algo ou alguém e simplesmente desejá-lo. É o nível agudo dela. Talvez a sua forma doentia.

Desde os primórdios da civilização, quando uns conquistavam uma caça melhor do que a outra, o homem almeja melhorar o seu quintal. Afinal, a grama do vizinho é sempre a melhor, não é? À essa "regra" existem exceções, claro. Com isso não proponho que a minha grama é melhor do que a dos outros. Apenas, é minha. É personalizada. Logicamente, aprendo com os vizinhos: onde compram os arranjos dos quais gostei de apreciar, os adubos, as flores. Mas o que torna prazeroso olhar meu jardim é admirá-lo pela capacidade em combinar o que aprendi com os demais para criar o que me apetece.

Só que há vizinhos preguiçosos, daqueles que afundam em suas cadeiras gastas de praia, que preferem apontar os dedos flácidos (pois não exercitam mais o corpo, tamanha preguiça) para os defeitos dos quintais alheios. "Está vendo só aquele arranjo cafona?" (enquanto não enxerga o seu anão de jardim quebrado). "Quem já viu jardim de escola de samba? Todo colorido!" (enquanto despreza a sua rosa que clama por um gole d'água). "Sistema de irrigação importado, é? Só para se amostrar!" (enquanto as pragas detonam os seus frutos).

O conforto do desapontamento alheio (convenhamos, realizado de maneira neeeem sempre justa) advém com a falta de prática da observação interna. E quando isso se torna uma chave para todas as suas justificativas de vida, então, caro (a) leitor (a), está aí a praga que anda afetando os quintais da nossa vila: inveja crônica sedimentada nos confins dos corações amargurados pela simples vontade em não aprender. Entendo que o aprendizado demanda esforço, dedicação, e isso pode cansar. Mas não se sente bem quando realiza algo por si mesmo? Quando alcança aquele objetivo? Quando a dificuldade passa e você finalmente atende o seu próprio desejo?

Somos movidos a sonhos. Os da padaria, os da livraria, da vaga em um órgão público, do coração preenchido, da casa vendida, da paz alcançada, da saúde almejada, da viagem tão planejada, e até do sorriso sincero conquistado. E o que nos faz melhor ou pior do que os outros se não a maneira como atingimos os nossos objetivos? Por isso, proponho a mim mesma (e a quem quiser participar dessa jornada): olhar, admirar e observar bem o que nos outros quintais poderiam me interessar. Verdadeiramente, não por cobiça. Então, correr atrás, mas em um fair play. Sem querer esmagar a linda orquídea alheia ou entupir o cano da fonte vizinha.

Pensamentos mais limpos ajudarão nessa jogada. Sendo assim, é bom instalar alertas internos de pressão. Quando vier aquela vontade de querer fuzilar o outro só com o olhar, limpe os globos oculares! Apertar o pescocinho da coleguinha, entrelace seus dedos (como em um abraço de mãos)! Especialmente, quando quiser falar mal de alguém, dobre a língua e faça-a tocar no céu da boca, respirando fundo, fechando os olhos e mentalizando o quanto é bom o fato de ter saúde, estar vivo e poder reconhecer capacidades em você mesmo.

A inveja continuará a me incomodar. Sobretudo a que advém de agressões gratuitas em troca de intimidação social. Porém, o fato de buscar cuidar do meu quintal da melhor maneira possível tenho certeza de que mudará as condições internas de deixar muitas coisas fluírem. As macieiras, amoreiras e cerejeiras poderão brotar bons e apetitosos frutos. É só saber regá-las com doses de paciência, respiração e inspiração. Cuidemos dos nossos jardins, então!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A morte da razão e o vício irracional da autoerosão

Eu não consigo respirar.
Uma asma de nível agudo que me sufoca o peito incrédulo.
Minha consciência de vida anda se esvaindo e repetindo um mantra constante e cheio de angústia: "é neste cenário onde estão depositadas as esperanças da humanidade?"
Mais do que a morte física o que me choca é a morte da vida.
A exacerbada dilaceração de valores primordiais.
Transformam constante e cortantemente circo de horrores morais em pão diário da sobrevivência.
Matam a vontade de querer ver a vida com bons olhos.
Enquanto observo homicídos duplamente, por vezes tripla, desqualificados de valores, juro solenemente não perder o foco da razão.
Mas é difícil. É árduo. E como dói!
Dói ver em que transformam essa existência.
Dói sentir para onde caminhamos. E não quero caminhar assim.
Pessoas machucam outras apenas pelo prazer fétido de se esquecer frustrado.
Criaturas desavisadas são estraçalhadas por pensarem diferente do "senso comum" (e o que é isso, afinal?).
Sufocam-nos, diariamente, nos whatsapps, Facebooks, notícias digitais, com grosserias vis de tão baixo nível humano que mesmo aos seres unicelulares não poderiam ser reportadas.
Engasgo com a sensação repetida de não pertencimento.
Para onde caminhamos, meu Deus/Krishna/Alá?
Envergonho-me de ser humana, se isso é sê-lo.
Entramos, minuto após minuto, post após post, em um ciclo vicioso de agressões.
Agride-se por argumentar diferente.
Por não estar nos "padrões".
Por sorrir muito.
Por cantar de verdade e com o coração.
Por ser "ingênuo demais".
Por não achar normal o instituto da grosseria.
Por parecer melhor, em certos aspectos, do que o outro.
Por não querer revidar.
Por ser "paciente demais".
Por ver o mundo de cabeça para cima.
Por querer viver sem matar.
E matam, como matam!
Estraçalham a energia alheia como zumbis, reais e nada fictícios, que se alimentam das parcas boas intenções.
Por vezes, procuro a emoção de ser humana e a distração das indiferenças me faz perder o rumo da outrora jovem otimista.
Já dizia Renato Russo: "O mundo anda tão complicado".
Está cada vez mais difícil ver a linha do horizonte a me distrair.
Da luz se faz a escuridão em se tornar infeliz. E, talvez pior, em provocar infelicidades.
Se estás feliz, desanima-te depressa, pois é um golpe nos seres frustrados. Bastam algumas palavras de esperança para que a tua miséria seja invocada.
Ando acreditando que pobres não são os que têm pouco, mas os que são tão miseráveis em desejar e nutrir o mal alheio.
O que me gera a provocação (interna, sobretudo, e diária, (in)felizmente) é a morte do Eduardo Campos (tratada como uma piada cruel por alguns). Não votaria nele. Mas a discordância política não me torna perversa. Onde há vida, a meu ver, deve haver respeito.
Além disso, outras questões cotidianas, sobretudo vividas nos últimos meses, me fazem refletir sobre isso.
Sobre a morte da razão.
Como capacidade de raciocínio.
Mas não raciocinam mais. Apenas mordem, mastigam e regurgitam.
Vomitam venenos sem antídotos fortes o suficiente para superá-los.
A razão em acreditar-me capaz de me sentir em casa neste planeta anda esvaindo-se.
Não é a desistência da minha vida.
Apenas a desistência (dolorosa e infeliz) do que, agora, muitos têm chamado de vida.
E, assim, eu não vivo. Apenas, me viro.

Para não desistir de vez, é bom lembrar que há sempre alguém que também não se conforma com a estupidez humana. Ainda bem!:
Teatro dos Vampiros (Legião Urbana)
Perfeição (Legião Urbana)

domingo, 27 de julho de 2014

Em terra de maquiagens excessivas, quem as dispensa é mais feliz (?)

Uma das maiores estupidezes humanas é se aceitar em favor de alguém. É depender de um sistema de aplicação de pontos estrategicamente impostos como moedas de convívio social pacífico. Noto isso por ter sido estúpida. Ao menos, percebi o erro antes de acreditar nele. E eis um novo problema moderno: a crença cega, abundante e sem fundamento na lógica do erro.

Para cada desvio de rota, tendemos reiteradamente a confiar nas próprias desculpas (muitas vezes) ilógicas a 'perder tempo' em acertar a direção. É por isso que há muitos espertos para pouca inteligência no que usam. Ao nos voltarmos para a sensação do deslize, nos sentimos mais seguros em escolher justificativas como quem tira cartas de um baralho (que, em minha sensação, já está bastante viciado).

Ando errando. Comigo, contigo, conosco. O pior não é errar. O grave é saber-se errado e persistir no novo vício social: a justificativa barata levada a sério. Incomodo-me pelo modo com que levo os impactos alheios em minhas produções diárias. Sejam elas práticas ou ideológicas. Como uma pessoa teimosa e ansiosa (combinação tendenciosamente perigosa, a depender da dose utilizada), venho querendo adiantar comportamentos de aprovações alheias que, honestamente, podem ser dispensadas.

E o que somos se não feitos de incertezas? Então, depender de afirmações sociais num ambiente em que todos estamos perdidos em nós mesmos é nos direcionar ao afogamento em um mar de ilusões, até agora, confortáveis. Por isso, ao perceber o destino final, é que estou decidindo desligar o piloto automático, pisar no freio, trocar a marcha e atentar mais para os caminhos à frente e atrás (estes últimos para que me lembrem por onde cheguei e se quero permanecer nessa estrada).

Ando andando tanto que de tanto querer chegar não enxergo os arranhões que ando provocando e provando serem inúteis. Estupidez a minha querer fazer diferente sendo mais dos mesmos tantos 'diferentes' que existem por aqui, ao redor. Sendo assim, paro, reparo (com aquele ar de quem fica bastante chateada por errar naquilo que mais anteriormente desprezava) e retomo a ideia de que neurônios são muito preciosos para serem perdidos com dependências externas.

Na música a qual aprecio muito, "Everybody is changing" (Keane) todo mundo muda enquanto o protagonista de sua própria história não. E não quero me sentir refém de um roteiro mal escrito e de mau gosto da minha vida. Então, começo a estudar melhor a posição do peão neste tabuleiro social. Afinal, é mais gostoso e produtivo ser dependente de autodescobrimento (do que se gosta ou do que se repulsa, sem falso moralismos) do que buscar travestir felicidade numa máscara de Nosferatu.

domingo, 20 de julho de 2014

Entre piscadas, risadas e Seu(s) Madruga(s) - Entrando na pista virtual

Aderi, há poucos dias, à turma dos sites de relacionamento. Não resisti! Para quem não costuma sair o suficiente (porque usa a desculpa de não conhecer muita gente na cidade) e, quando sai, não se sente à vontade olhando para aquele cara cuja capa te atraiu (timidez é lasca mesmo), então, o caminho mais fácil da antissolteirice (neologismo necessário!) é se mostrar online.

Calma! Não é fazer vídeos cujos conteúdos são questionáveis ("ok" se você gostar, mas não sou desse tipo). A tônica é deixar dados pessoais e profissionais (teoricamente verdadeiros. Teoricamente mesmo!) para que o visitante de sua página (que só acessou por causa da sua melhor foto de perfil - cuidadosamente selecionada, especialmente aquela que não está sobrecarregada no picasa ou photoshop) te mande uma mensagem ou até uma piscadinha.

Sim! Há piscada virtual (não, não sou marciana, apenas achava que isso era muito mais ficção do que realidade virtual)! Devo confessar que ri (risadinha incrédula) quando vi o tal botão. E não resisti. Fiz cara de "Dênis, o pimentinha" e apertei o danado logo no primeiro dia de site. Por que não, né? Ao menos, se eu for rejeitada, o outro não verá a minha cara de "hummmm, esse aí está se achando, hein?". E mais tentativas existem para uma aproximação virtual. Desde a cor dos seus olhos até a sua renda mensal. Do mínimo de escolaridade exigido pelo seu cérebro até saber se a pessoa quer ter filhos um dia. Da quantidade de vezes que você costuma sair até saber se o outro se acha bonito/lindo/interessante.

E há espaços para demandas. Você faz uma lista (longa ou não) que vai deixar o visitante (in)satisfeito em querer bater um papo. Mas, como somos seres humanos, há umas pérolas no caminho virtual. E como há! Desde figuras que são a cara (e as rugas) do Seu Madruga e que dizem ter 34 anos, até aqueles que nem sabem copiar frases feitas - pois pegam de um site tosco que escreve "cortir" ou "inportar" como se esses vocábulos veramente existissem.

Há os românticos (que querem amar alguém, mas devem odiar o próprio idioma: "muito carioso cavalheiro antercioso"), os sem rodeios ("quero casar, alguém se habilita?"), os esperançosos ("amar alguém é ser o único a ver um milagre invisível aos outros"), os filósofos ("O perfeito exige perfeição isso está longe de mim! Uma simples mortal me basta!"), os que gostam de ver para crer ("Eu diria que amar é, acima de tudo, sentir-se à vontade. Sem pressa, sem regras estabelecidas. O amor é respeito. Tenha FOTO!"), os amáveis - mesmo com cedilha ("so nao me ama quem nao me conheçe !"), os fogosos ("moreno apaixonante, simpatico, muito safado, cavalheiro e de bem com a vida!!!!") e os que não têm papas na língua ("perfis que não me interessam... 3 - Mulher feia... 8 - Mulheres com antecedentes criminais ou foragidas da Justiça").

Ou seja, não há apenas oportunidades para se arriscar um papo, mas há o risco de não levar esse cenário a sério. Há sinceridades que assustam, enquanto há outras que nos fazem perceber que podem ser mais engraçadas que alguns vídeos famosos do YouTube. O importante disso tudo, mesmo sabendo que estarei tirando uma pequena parte das minhas economias, é que a pista virtual é um excelente ambiente para se estudar comportamentos. Um prato cheio aos cronistas atentos às necessidades humanas (e aos humanos necessitados).

Enquanto não tenho coragem para manifestar interesse por aquele que, por ventura (ou aventura mesmo), me clame a atenção ao vivo, causando até hamster na barriga (para entender isso, recomendo, piamente, assistir ao filme "Com amor... da idade da razão"), então, sigo na plataforma virtual. A conquista das risadas espontâneas, ao menos, já valem a pena. Ou melhor, as clicadas. ;)

sábado, 10 de maio de 2014

A tonalidade certa

A cada novo tom de dó, sustenido fica qualquer cruel lembrança. O dobrar do refrão é como um apagar de desesperos antepassados. Na batida da melodia cada vez mais forte e marcante, um novo ritmo desponta como mais um identificador pessoal, um marcapassos desejado no coração de quem busca freneticamente enxergar além dos olhos do desapontamento.

O pedestal sustenta o microfone e a minha coragem de seguir crendo na luz que me conforta. A expectativa dos sorrisos, amigos ou desconhecidos, soma-se ao calor provocado paradoxalmente (ou não) pelo frio da próxima apresentação. Como não gostar disso? E como não me ater mais e mais a essa força centrípeta que me puxa ao palco? Não posso. Cantar, para mim, é lembrar-me de viver. Todo o resto apaga-se num deslumbrar de desesperos constantes e fugazes.

O subir e descer de notas representa mais do que uma combinação harmônica feliz, é a felicidade de me reconhecer apta a compartilhar mais do que letras conhecidas mas, igualmente, sonhos concretizados em forma de palavras musicadas. Meu sonho não é irreal. Ao contrário, mostra-se passo após passo próximo da realidade, aos poucos mais presente nos apontamentos da agenda. 

Alcanço a esperança de vencer qualquer desafio pendente apenas com a energização do canto. Vejo-me triunfar qualquer dificuldade inocente na busca pela liberdade de minha própria paz. E sigo a acreditar que nenhuma oração ou bênção é maior do que a crença naquilo ao qual chamo de dom, de carinho divino. Por isso, acredito que o que me faz cantar não é apenas a emoção de ser feliz no palco, diante do microfone com ou sem pedestal. O que projeta o meu som mais intrínseco, e intenso, é experienciar o amor-próprio através daquilo que me faz encontrar o espelho de minh'alma. 

Pois que na música me vejo e me projeto. A projetos internos de conforto e externos de raios devastadores de impiedades mascaradas de autoridades insaciáveis de poder. Para tais, o poder da derrubada alheia atrela-se a uma futura sobrevida autofágica. Para mim, o poder cantar já é suficiente para me presentear de vida. Realista e que dispensa autocomiseração. Apenas basta-se a presença de tons felizes.