sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Acordar

É possível perceber-se acordada após uma série de acontecimentos.

Como numa freada brusca, mas bem atado o cinto de segurança, você, sacudida, repara no redor.

Ele não é mais o mesmo. Não parece haver possibilidade de se ter mais do mesmo.

O mundo girou, a marcha engatou, o pé driblou daquela pedra aparentemente inofensiva, que há algum tempo te feria.

São momentos assim que nos fazem acreditar na vida. E que me fazem ver como o tempo passa independente de meus sonhos. 

Sonhos esses, um tanto pessoais, que me distraíram durante tantos anos e que, aparentemente agora, me incomodam.

Preciso mudar! Quero mudar! Vou mudar? 

Precisamente não posso saber. 

Querer é poder.

Então, percebendo-me de olhos mais abertos, acredito que mudarei.

Desta vez, menos do mesmo.

Assim espero. Ou melhor, assim percebo que quero.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A esperança e o jovem

Dizem que os jovens são eternamente ansiosos e perdem momentos incríveis por conta de seus desesperos emocionais.

Mas quem nunca achou que poderia viver tudo em um dia, salvar o dia num minuto ou, até mesmo, passar uma borracha nas topadas da vida em segundos?

É incrível sentir as reações dos sentimentos em nossas veias humanas.

Os floreios de uma alegria.
Os nós na garganta.
As borboletas no estômago.
O aperto no peito.

Todos saídos de literaturas universais. Todos passíveis de sentir fora dos alfarrábios admirados.
Todos, no fundo, provocados por uma pesada razão: a expectativa.

O esperar é, por (muitas) vezes, desesperador.
E sem esperança, por certo, não se vive.
"Subvive-se".

A eterna busca pelo eu, pelo outro, pelo eu no outro nos faz humanos. Jovens e angustiados humanos, ouso.

Ou, talvez, até nos aprisione.

A prisão indesejada, em alguns casos, torna-se o lar de muitos solitários.

Mas estamos todos sós, não?

Nascemos sós. (à exceção dos gêmeos e siameses, claro)
Nos criamos sós, basicamente.
Morreremos sós.

Só isso?
Não só!
Em verdade, nunca só!

Somos aquilo que esperamos.
Somos isso mesmo?

Somos como agimos diante da esperança.
É, acho que é isso.

Convencionou-se, aliás, que a esperança é a última que morre.
Entretanto, não podemos deixar morrer todos os outros recursos para podermos chegar nela.

Não podemos exterminar demais prazeres da vida em nome da esperança.
Assim espera-se.
Assim melhor se vive.

Não é nada fácil.
Porém, é mais saudável.

E os poucos neurônios que nos restam, mesmo que meio queimados da ansiedade jovial, nos agradecem.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Sonhos

"Sonhos são como deuses
Quando não se acredita neles, deixam de existir."

Paulinho Moska nos brindou com uma versão do que é sonhar.
'Admito que perdi' tilintou meu ouvido e minh'alma com o poder de criarmos deuses.

Sim! Pois que deuses moldamos.

Alguns de nós usam fôrmas de tamanhos e qualidades diferentes. Umas maiores, outras diminutas.
Há pessoas que nem se arriscam. Outras que riscam por elas e por essas últimas.

Mas o que deveras é o sonho?

Fantasia? Devaneio? Fuga da realidade? Quantas traduções haverá para tamanho mistério das mentes humanas?

Creio nele como uma prova de nossa existência. Algo que nos conecta à vida e à morte (interligando com o texto anterior: Viver para Morrer/ Morrer para Viver).

Uma amarra?
Uma âncora?
É, talvez uma âncora que nos faça lembrar de que somos capazes de voar além, sem esquecer de que os pés devem retornar ao chão.

E o que nos faz sonhar?
Certamente um impulso terrestre nos serve de mola para alcançarmos as estrelas.

Um objeto de consumo?
Uma profissão desejada?
Um certo alguém?

Muitos podem ser os motivos.
Alguns passageiros. Outros cobradores.
Porém, nenhum deles deveria ser causa de autopunição.
Mas acabam sendo.

Frustrações aparecem por sonhos que se afastam.

O tal do tempo e sua fugacidade inexorável.

Vivemos para o tempo. Prendemo-nos ao tempo de viver (no automático) e esquecemos do tempo de sonhar (bem acordados).

Seja uma dança, o desejado trabalho ou a casa própria, a conquista do almejado é sempre muito energizante.

Diria até que sonhar é engrandecer-se.

Pior do que não atingir o alvo é esquecer-se de que podemos renová-lo.

O passado muitas vezes nos prende de tal maneira que olvidamos que a vida se faz no presente.

E o presente, por certo, não nos furta os sonhos. Ele nos presenteia, a cada noite, com novas possibilidades, novas fôrmas.

Infelizmente, medos existem para invadir nossos peitos, algumas horas sem armaduras, e degladiarem os corações despreparados.

O antídoto aos pesadelos é notar a vida fluindo. Sentir ligar a máquina diária da existência e não deixá-la enferrujar, para não acabar quebrada no meio de uma estrada deserta de possibilidades.

É entender que não somos escravos de nossos desejos, e nem dos alheios.

Sonhar é ser. E ser é infinito.

É conquistar-se. É poder.

Mas o poder não corrompe?

O homem se corrompe.

Se autossuborna para, muitas vezes, crer num mundo de niilismos.

E em qual momento podemos acreditar que o sonho pode dar certo?

Receios ocorrerão sempre. Fazem parte da caminhada alguns desequilíbrios esporádicos. Afinal, nossas estradas se pavimentam a cada novo dia.

Ok, mas e quando saber se o sonho é, de fato, possível de sair do mundo das ideias?

Por certo, não receberemos uma notificação disso.

Apenas acordaremos. E quando acordarmos e virmos o 'deus' moldado estaremos prontos para tirá-lo da fôrma, por vezes arranhada e levemente queimada.

Enfim, só não desista de sonhar.
Porque apenas sonhando é que poderemos ser/viver.

domingo, 18 de novembro de 2012

Viver para Morrer / Morrer para Viver

"O que importa é estar vivo antes de morrer".

A frase é do filme (recomendadíssimo) 'Depois de Partir', com Romain Duris e (ele, O ator) John Malkovich.

Viver é prazeroso.
Ser é prazeroso.
E ter consciência disso é mais prazeroso ainda.

A cada dia morremos em horas, em minutos e segundos.
Matamos oportunidades.
Sufocamos desejos.

A cada dia nascemos em horas, em minutos e segundos.
Damos à luz oportunidades.
Respiramos desejos.

Velhas pegadas se apagam.
Estradas cruas em sombras percorremos.
Pneus derrapam na ausência de faróis.

Novas pegadas se imprimem.
Estradas bem pavimentadas percorremos.
Pneus seguem os ritmos na batuta da luz.

Morrer, em seu sentido metafórico, pode ser (e é) prazeroso.
A metáfora ainda persiste quando insinuo a morte como o findar de um capítulo, de uma página.
É preciso morrer para viver.
Figurativamente a morte é fiel ao desenvolvimento da vida.
Sem qualquer intenção cacófona, pleonástica ou paradoxal, viver a vida é também morrê-la aos poucos.

E o que é a morte real?
Um fim, um ponto final.
Não, uma exclamação!
Um espanto necessário.
Uma pausa, mas com reticências...

Em meio à reflexão, sem me alongar, afasto-me de religiosidades.
Pretendo apenas pisar observando caminhos.
Na estrada que me leva a momentos tão repetidamente reflexivos.
Como num livro de autoajuda.
Mas o que é a nossa vida, mais precisamente o nosso dia, senão uma frase, um parágrafo, ou até um capítulo?

Vírgulas são imprescindíveis. Muitas das vezes as ignoramos. Só ponto. Ponto. E ponto.
São tantas as regras, tantos os conhecimentos a serem postos em prática.
Tantas revisões a serem feitas.
E quem disse que não podemos revisar a vida?

Revisá-la é sempre preciso.
Mas não se fixe às regras.
Observe as exceções.
Monte neologismos.
E deixe os acadêmicos se esgoelarem pelo cumprimento das leis gramaticais.

Afinal, é preciso também matar algumas regras para se viver.

Visto que antes de morrer (em carne) é preciso viver (em pele, osso e alma).

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Consulta médica (sobre o fim dos tempos?)

Endie: Doutor, ando muito arretada com muita coisa ao meu redor.

Médico: O que exatamente, minha filha?

Endie: Ah, sabe, o mundo não é tão legal assim quando a gente se aproxima mais dele.

Médico: Explique melhor.

Endie: Não consigo acreditar no fato de que a minha felicidade ou até minha simpatia podem afetar pessoas ao meu redor de tal maneira que passam a querer, a qualquer custo, me tirar de um pedestal no qual eles próprios me colocaram.

Médico: Hum

Endie: E eu nem gosto de alturas, doutor!

Médico: E esses 1,74m?

Endie: Ah, dessa altura eu nunca abri mão. Sabe como é: pra sustentar essa moça aqui, cheia de criatividade, otimismo (tá se rachando, mas não se esvairá nunca!), simpatia e autoconfiança, menos do que 1,74m não seria suficiente.

Médico: Eis uma verdade.

Endie: Mas, doutor, qual a prescrição médica pra minhas desilusões neste mundo de meu Deus?

Médico: Minha filha, a solução não é fácil. Afinal, remédio para não passar por decepções ainda não existe. Mas, pra você, tenho uma receita perfeita.

Endie: Qual?

Médico: Música! Muita música boa e de qualidade. Ah, mas só funcionará com uma condição.

Endie: ... [cara de espera, com as sombrancelhas arqueadas]

Médico: Só se você cantá-las. Aí seu coração vai ter uma dose de recarga suficiente para aguentar mais trancos da vida.

Endie: Poxa, muito obrigada, doutor. E quanto lhe devo pela consulta?

Médico: Uma canção.

E ela cantou "Somewhere only we know" com a alma meio capenga, mas com o coração renovado após se energizar com o poder da música.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

27 anos

Meu olho esquerdo vibra.
O lado direito do pescoço dói.
A mão direita desequilibra.

A respiração ofega.
Os poros umedecem.
A paciência não releva.

A insatisfação cresce.
Sonhos se vão.
Esperança esvanece.

O vento seco procura esfriar
O coração ferido que tenta buscar
Saída na umidade relativa do ar.

Ar que procuro sorver
Mas a força se faz trêmula
E renovação de energia ousa nascer.

Em minhas veias pulsam alegrias.
Tento encontrá-las a fim de dissipar
Decepções que tentam meu otimismo castrar.

Músicas são remédios para a alma
Há 27 anos empreendendo ritmos
Em sua maioria afinados, mas por vezes sem quase calma.

Salvando-me das quedas bruscas
De topadas e arranhões
Que por ventura meu brilho ofusca.

Mas o mundo não é o mesmo
A percepção cada vez mais rígida
Faz a encantadora carregar seu peso.

Quilos de intolerância com vazios
Que se multiplicam em meus caminhos
Desertos, por vezes, de samaritanismos.

O amor almejado nem quer aparecer
Apenas aquele de família
Sim, é claro, pelo qual tenho muito a agradecer.

Insatisfações tomam conta de parte do corpo
Longe de ser perfeito, mas com grande recheio de bondade
E sem qualquer moralismo torto.

A voz mais madura muitos agudos quer soltar
Solando nessa vida nunca fácil de lidar
Mas sei que ouvidos prontos para ouvi-la vou encontrar.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Solando na vida

Sabe aquela sensação de conforto, tranquilidade e bem-estar emocional que te dá um prazer enorme?

Bem, atualmente não estou me sentindo assim.

Não que esteja aperriada ou com raiva do mundo.
Paradoxalmente falando, sinto que estou muito feliz com os rumos que minha vida está tomando, inclusive com os nós na garganta que andam aparecendo semanalmente.

É incrível o poder de querer influenciar a vida alheia que existe nas pessoas. O tal do ser humano é um ser curioso.

Para cada nova situação, uma solução! E tudo parece tão simples, não é?

Conseguem resolver nossas vidas com algumas orações subordinadas.

Aliás, subordinados ficamos também, afinal, pra quê esquentar a cabeça raciocinando sobre sua própria vida se há outros fazendo isso?

A questão é que, normalmente, as soluções não são as melhores.

Quem geralmente te diz o que fazer, mesmo sem perguntá-lo a opinião, é quem menos deveria dar sugestão.

E isso tem me incomodado como uma pedrinha no dedo mínimo esquerdo.

É, os aprendizados de uma vida longe da família, dos colegas já habituados e da cidade conhecida têm sido enormes.

Aliás, têm vindo num intensivão de vida.

Mas quem menos usufrui desses "conselhos" todos é a gente.

O que nós queremos?

Quero dizer, o que EU quero?

No momento, eu quero/preciso ficar mais quieta.

Estou aprendendo a não notar a plateia pra não falar demais. Afinal, infelizmente, há algumas criaturas que se alimentam de  frustrações alheias.

Então, plateia é bom. Principalmente quando você faz o que mais ama: no meu caso, cantar.

Fora isso, é bom aprender a ser plateia. Manifestar-se de quando em quando, entretanto, só quando necessário para o bem da sua humanidade.

So, voltar-se para o EU é bom sim. É ótimo, e deve ser feito sem tantas restrições.

Pois se as pessoas se voltassem um pouquinho mais pros seus próprios umbigos notariam algumas pequenas sujeirinhas (e assim poderiam se preocupar em limpá-las antes de querer colocar os dedos em umbigos alheios).

Não que devamos esquecer os outros. Longe disso!

Só uma questão de menos falar e mais ouvir/ver.

Bom, eu quero ser mais eu.

Curtir mais, temer menos.

Liberar as cordas vocais e soltar uns agudos afinados é sempre bom, ainda mais quando se ama cantar e se canta tão bem.

Há ouvidos por aí que querem escutar-me.

Disso eu sei.

Por isso acredito que tenha chegado nesse ponto: sem mais sapos para engolir. Pois que há melhores pratos a serem digeridos.

Vou soltar as notas.

Talvez desafine, pela falta de treino de tantos e tantos anos.

Mas de que vale acertar se não se sabe quando se erra?

E lá vou eu... Solar. :)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Festival da Canção Francesa - Etapa Nacional

Dia 28 de novembro de 2011 mudou a minha vida!

Não é uma simples frase de efeito. É a mais pura verdade!

Dia 28 mudou, quase que radicalmente, a minha vida.

De uma simples sonhadora passei a ser uma cantora profissional.

Cantora profissional! Já pensou nisso?

Foram necessários alguns dias de ensaios no Rio de Janeiro (sim, Rio!!), doses diárias de inspiração na cidade, apoio incondicional da mãe e suporte de desconhecidos que se tornariam amigos meus depois para começar a minha vida.

Sim, comecei a viver de verdade a partir deste encantador momento.

De alguma maneira, sabia que 2011 seria um ano difícil e muito bom para mim.

Ao menos senti isso desde o começo dele.
Sabe quando tudo dá errado logo no começo e você pensa: se começou assim é porque deve ter uma grande coisa boa por vir (ao menos você assim deseja ser recompensada!).

Revisitar o Rio após quase 15 anos foi muito bom. Não deu tempo de curtir a terra direito.
Eram muitas horas diárias de ensaios e muita concentração, além da chuvinha fatídica diária.

Foram 4 dias. No penúltimo deles tornei-me campeã. Ganhei o primeiro lugar.

Primeiro lugar? Nossa, há quantos anos não ganho o primeiro lugar (desde a medalha da sétima série como a melhor aluna da 7ª "C")!

Mas o melhor não é o troféu, a medalha ou o prêmio para Paris (sim, esse foi o prêmio!)!
Talvez duvidem, ou não acreditem, mas o melhor de tudo foi cantar.

Ter alguém para me ouvir.

Ser ouvida é a melhor sensação do mundo! Descobri isso desde a etapa regional do Festival.

E ser ouvida e cativar é melhor ainda.

Ver, mesmo que embaçadamente (por falta dos óculos), os sorrisos na plateia é incrível!

E pisar no palco? Sentir sob os pés aquele chão que te traz apoio suficiente pra te deixar dançar, sorrir, cantar, elevar-se... o palco é minha segunda casa. Ou talvez seja a primeira. É, acho que é a primeira. As demais são apenas temporárias que me confortam enquanto não retorno ao palco.

O curioso disso tudo é que sempre soube que não pertencia a um só lugar. Nunca me vi fixada como os demais amigos e familiares. Talvez já tivesse a certeza, desde pequena, que a música me levaria a lugares mil.

O palco é o único lugar que quero sempre retornar. Semanalmente, se possível.

No Teatro Maison de France eu não apenas conquistei o primeiro lugar. Eu me conquistei. Conquistei minha autoconfiança em mim mesma. É muito pleonasmo, eu o sei, porém, é necessário para reforçar o quanto passei a me dar mais crédito - já dado pela minha mãe, minha avó e alguns amigos.

Engraçado é pensar em tudo o que se passou por trás dos bastidores naquele dia 28: a chegada ao teatro com o taxista que queria te enrolar (mas você sabiamente deixando claro que conhecia o destino - ao menos tinha olhado no Googlemaps dias antes), o reconhecer do palco (admirando cada pedacinho daquele lugar encantador), as surpresas no camarim (pequeno, porém confortável, e cheio de lembranças boas - a nossa Piaf Brasileira tinha se apresentado lá, seria um sinal?), o sanduíche/janta na lanchonete da esquina com dois colegas de Festival, a preparação (que nunca acontece 100%, pois por mais maquiagem, creme de cabelo, aquecimentos que se faça você nunca está realmente preparada para o que vem) e o friozinho na barriga (um companheiro inseparável de quem quer fazer o melhor, sabendo que pode fazê-lo, mas desconfiando disso).

Pessoas passando no corredor estreito dos bastidores. Candidatos saindo e entrando. Sorrisos nervosos. Cantoraladas. Mimimis. Zumbidos. Águas e mais águas. Maçãs!

E começa o espetáculo! Casa cheia (percebo pelo ruído das conversas)!

Um a um são chamados os 8 candidatos vindos de várias partes do país: uma do Pará, um da Bahia, eu de Pernambuco, dois do Rio de Janeiro, duas de São Paulo e um do Rio Grande do Sul.

Aliás, como disse no vídeo de agradecimento (disponível abaixo), todos pareciam velhos amigos, incrivelmente! E é verdade!

Fui a antepenúltima.

Quando estavam para me chamar tive uma sensação estranha. Nunca havia sentido isso antes. Quer dizer, aquela era a segunda vez que me apresentava num palco sozinha, digo, acompanhada de uma banda. Porém, algo parecia me dizer que não ficaria satisfeita com minha apresentação. Algo iria acontecer.

Minha garganta começou a se fechar. A respiração começou a ficar ofegante. O coração pulsava tão forte que duvidava que voltasse à frequência normal em pouco tempo.

Mas o que estava fazendo? Deveria relaxar e não estar à beira de um ataque de nervos.

Nunca havia sentido borboletas no estômago antes (é, ainda não me apaixonei de verdade... ainda, deixo claro). A sensação é de pura impotência. Afinal, como controlar as tais borboletas?

Bem, mas controladas ou não eu teria que seguir adiante. Teria que caminhar ao palco assim que ouvisse meu nome.

Endie Eloah, Les P'tits Papiers.

Eita, tinha chegado a hora.

Caminhei em direção à luz.

E lá encontrei um grande amigo, que teria um papel de suma importância naquela noite: o microfone.

A voz não estava confortável. Não conseguia respirar direito entre as frases. O apoio necessário do diafragma estava fraco. Senti que não seria minha melhor apresentação.

De repente, algo me acordou daquele leve pesadelo. Algo que poderia ter-me prejudicado, mas que acabou salvando-me: uma falha técnica (ao menos é isso que acredito ter acontecido).

No começo da segunda estrofe, se repararem no vídeo da apresentação, poderão verificar que o microfone parou de funcionar por alguns segundos. 5 ou 10 segundos extremamente importantes pra mim!

Olho fixamente (e com tom de fuzilamento) para o controlador do som. Poxa, aquilo só aconteceu comigo? Por quê? Coincidência? Não acredito em coincidência!

O que houve a partir daí foi uma sucessão estranha de acontecimentos ao mesmo tempo: enquanto cantava, pensei em parar, em começar de novo - afinal, tinha sido prejudicada.

Entretanto, algo mais forte dentro de mim (talvez) me fez acreditar que seria muito melhor seguir cantando. Parar? Não! Mostre-se forte, confiante! Afinal, não foi você quem errou!

E segui. Segui sorrindo. E a garganta finalmente se abriu. As borboletas foram embora. Ao menos saíram do estômago. Minha voz soou bem melhor do que antes.

Não foi minha melhor apresentação. Ela ainda estava por vir.

Agradeci ao público pelas palmas. Desci do palco e sentei-me na plateia. Estava acabado.

Quer dizer, não poderia fazer mais nada além de esperar o óbvio: próximo ano tento novamente!

Ao menos foi isso que passou pela minha cabeça enquanto aguardava o resultado. No máximo, se os juízes estiverem de muito bom humor, ficaria em 3º. Quer dizer, havia cantores maravilhosos ali. Seria muito difícil me escolher. Todos foram bem, alguns melhores ainda.

É, tentei me confortar ao máximo. Estava convicta de que não estaria entre os 3 primeiros.

Subimos ao palco. Relaxada como nunca. O sorriso meio fraco, apesar da tentativa de aliviar a decepção com meu empenho. Mas não podia fazer nada. Quer dizer, acreditava que tinha dado o meu melhor dentro das possibilidades.

Terceiro lugar, a paraense, radicada em São Paulo, Natália Mattos, levou-o.

Caramba, lá se ia a última esperança de ganhar naquela noite.

Segundo lugar, o baiano, Gilson Couto.

Fiquei feliz pelos dois.

Mas quem seria o primeiro?

Começava a conjecturar em minha mente. Já tinha torcida organizada. Desejei muito que um de meus companheiros de Festival ganhasse.

Mas então, algo mágico aconteceu. Foram segundos que demoraram uma eternidade!

Ao olhar para o Diretor das Alianças Francesas da América Latina tive que desviar a atenção para uma colega que havia me dito um dia antes que eu ganharia.

Ela balbuciava alguma coisa e queria minha atenção.

Ela me dizia: 'Endie, você ganhou! Você ganhou!'
Porém eu não entendia.

Quer dizer, não era possível processar essa informação! Não podia ter ganho. Talvez ela estivesse brincando.

Mas como poderia brincar naquele momento tão sério?

Então quando notei os olhares dos outros candidatos para mim percebi que aquilo começava a fazer sentido!

Foi quando escutei finalmente:'Eloah de Arruda'.

O primeiro nome escapou ao Diretor.
Talvez por isso aquele momento tenha durado tanto. Quer dizer, ele estava tentando decifrar como se diz meu nome.
Normalmente é assim que acontece.

Deveria ter suspeitado disso antes. Mas como poderia?

As borboletas voltaram.
É, vieram com tudo.
Passaram pela garganta, pelos olhos, pelo estômago e me encheram o peito.

Primeiro lugar Nacional do Festival da Canção Francesa.

 Uau!

Caramba!

Eu ganhei? É, eu ganhei! Mãe, eu ganhei!

As lágrimas vieram naturalmente.

Nunca tinha me sentido tão estupidamente bem na minha vida.

E tudo começava a fazer sentido.

O começo de ano ruim. A perda da minha preciosa amiga-irmã Laiza. Os pesarosos desafios familiares.

Tudo se encaixava. Tudo tinha me levado pra aquele momento.

Não era o fim. Não foi o fim. Foi apenas o começo. O começo da minha vida.

O que aconteceu depois foi maravilhoso.

Recebi elogios do Diretor que me estimulou a seguir em frente e nunca desistir da minha carreira, porque eu tinha muito talento.

Agradeci emocionada a todas e todos que fizeram aquele momento possível.

Cantei novamente a música que me fez reconhecer, finalmente, a cantora profissional em mim.

Abraços mil. Emoções mil.

Telefonei ao amigo que me dera a oportunidade de estar ali, Thiago Correia.

Falei com a amiga e torcedora Tânia.

E saí com minha mãe e novos amigos a um Pub Irlandês da Lapa.

Aquela noite não podia acabar tão cedo! Não podia acabar!

Na manhã seguinte retornei pra 'casa'. Ainda não conseguia acreditar no que tinha acontecido.

Mas o sonho começara. Agora, mais do que nunca.

A cantora finalmente despertara em mim.

E cá estou.

Cinco meses depois do acontecido relatando um pouco do momento mais feliz da minha vida.
Ao menos por enquanto. ;)

O meu muito e sincero obrigada a todas e todos que tornaram possível essa conquista.

Todos os que ajudaram e os que tentaram não ajudar.

Afinal, a gente cresce com todos eles.

Mês passado eu finalmente pude realizar um dos grandes sonhos, graças à conquista do Festival: conhecer Paris!

Mas essa é uma outra história. Num próximo post! :)


Endie Eloah_Les P'tits Papiers (Primeiro Lugar Festival Canção Francesa 2011)


Agradecimento e Reapresentação Endie Eloah_Festival da Canção Francesa 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

As melhores sensações - Viajar de avião

Dentro de uma semana algumas das melhores sensações do mundo, em meu singelo ponto de vista, estarão de volta.

Em sete dias voltarei a sorrir, in and outside, como uma boba.

Admito: desta vez haverá três belos e bons motivos.

1- Viajar de avião;
2-Cantar num palco com plateia e tudo;
3-Rever uma terra que há muito não via (neste caso, o Rio de Janeiro).

1-Viajar de avião

Só de imaginar já sinto o cheiro próprio do carpete, da poltrona pseudoconfortável, do banheiro com ruído sempre estranho, sinto o balançar do avião, ouço o pequeno incômodo auricular, e o barulhinho das rodas sendo guardadas.

Estou, desde o início observando tudo. Se pudesse, nem piscava os olhos já meio marejados.
A emoção do voo toma conta de meu coração que ulula em notas altas (de alegria).

Tudo começa com a espera. Esperar nem sempre é ruim.
Você olha, de quando em quando (sempre!), para a tabela com os voos.
Fica atenta à voz do aeroporto, aguardando o "Gol/Tam/Azul voo 1234 com destino a tananan. Embarque no portão A".

Nossa, é emocionante! 'Meu voo'!

Você pega a bolsa, depois de ter despachado a mala e feito o check-in há algum tempo (se for como eu estará lá 1 hora antes do embarque), e dirige-se à fila que se forma no portão 'A'.

Eu sempre olho para trás nessa hora. Como que conferindo se você é quem vai viajar desta vez - e não é quem está simplesmente tomando conta da mala.

Seus pertences na esteira passam, você segue tranquila pelo detector de metal e retorna suas posses a mão, meio geladas pelo frio rígido da sala de espera.

Atenta a qual entrada deverá seguir, procura o lugar mais próximo. Olha de relance para as pessoas que ali estão e tenta imaginar o que pensam.

Lembra-se que vai dividir espaço, serão três poltronas bem juntas.
Torce para que em nenhuma delas esteja alguém indesejável.

Ah! Principalmente cruza dos dedos para que nenhum sujeito, atrás de você, 'à vontade demais' fique chutando sua poltrona ou abrindo e fechando o compartimento para colocar sua barra de cereal (a nova 'refeição' do século XXI).

Nova fila se forma. Identidade a mão e check-in também.
Entra no "tubo" de onde soa um som meio estridente e abafado. O avião está no final dele.

Portas abertas, aeromoças sorrindo (não com o brilho de há alguns anos), e você pisa naquele carpete típico.

Avista o corredor e segue os olhos até o final dele.
Encontra seu assento, senta e trata de abrir logo a janela (afinal, eu busco viajar sempre ao lado dela).

Coloca o cinto de segurança bem antes dos avisos das aeromoças e do sinal logo acima de sua cabeça.

Parece até criança viajando pela primeira vez.

As pessoas vão entrando, entrando... esse tempo até parece interminável.

Você olha para o relógio e pensa: 'Estamos atrasados'.

Admito que não me lembro de algum dia ter partido na hora marcada. Mas nada custa esperar que aconteça.

Você dá um leve sorriso aos acompanhantes de poltrona.
Deseja, novamente, que sejam legais, ou pelo menos decentes.

O comandante começa a dar as boas-vindas com aquela voz de rádio patrulha (em meio a um zumbido meio incômodo do motor).

As aeromoças se posicionam e deslizam seus braços pelo ar a nos orientar em caso de acidente.

Olho para a 'bolsa' da poltrona da frente e pego o folheto já tão conhecido.

Gosto de revê-lo.
Como um velho companheiro de guerra que estará sempre lá.

Olho as imagens para ver se mudaram alguma coisa. Muito pouco ou nada.

Apertando os cintos, vira o rosto para a janela e abre um leve sorriso.

Damos ré e fazemos o retorno na pista. Tudo bem devagar (pode parecer rápido pra alguns, mas pra mim são os minutos mais demorados, mas que valem a pena).

Aproxima-se a hora preferida: o avião começa a correr.
Friozinho na barriga pede goma de mascar e reza (afinal, mesmo que se goste muito, nada custa pedir uma proteção).

O sorriso aumenta.

Estamos arremetendo.

Estamos no ar. Planando.

Leve zumbido aparece nos ouvidos.
Mastiga o chiclete com maior frequência.

Boceja (de sono - dependendo da hora do voo - e para aliviar a pressão do ar).

Aos poucos atingimos a altura ideal.

Linda! Como é bom nos despedirmos (ao menos por um tempo) da velha paisagem lá embaixo.

Relaxa à poltrona.

Lembra-se do livro/revista que trouxe e começa a folhear.

O tempo vai passando e de quando em quando você olha para a janela.

Admira as nuvens, o Sol (ou a Lua) e agradece muito pelos presentes naturais a que tem direito todos os dias.

Pensa nos que ficaram lá atrás.

Pensa nos que irá encontrar lá na frente.

Descansa.

Tempo depois a barra de cereal chega. Guarda-a para possível ocasião de desespero de fome (provavelmente quando estiver na rua).

Suco ou refrigerante?

No tempo da lasanha eu sempre preferia refrigerante. Era tudo tão delicioso.

Agora, vou de suco. Que tem gosto de água gelada com corante amarelo.

Vontade do banheiro aparece. Olha para ver se a luz da trava está apagada.

Livre, você entra se espremendo e o som ensurdecedor do lugar mais incômodo do avião toma conta de você. Faz e sai logo. Antes, torce para que não estejam perto de pousar e você tenha que sair dali correndo pelo corredor.

Horas/ minutos passam.

O comandante entra em contato novamente: chegamos.

Janela mais uma vez. O sorriso é maior ainda.

Vamos descendo, planando.

Paisagens admiradas. Outras nem tanto.

Lembramos da cidade do embarque.

Saudades já começam a bater a porta do peito ansioso.

Os pneus tocam saltitantes o solo. O coração se agita ainda mais.

A fila reaparece. Pessoas passam. Quase nenhuma lhe cede passagem. Mas todas vão parar no mesmo bat-lugar. Nada de correria.

Afinal, a parte menos prazerosa chegou: esperar as malas.

Curioso é que quase nunca sou uma das primeiras. Minhas malas gostam de ser gentis com as outras, como eu no avião, e deixam-nas passar (aos montes até!).

Chega a desejada. Confere o nome ou a fita de identificação que sua mãe sugeriu colocar.

Identidade novamente e bilhete.

Saímos para o saguão de desembarque.

Se houver gente esperando é melhor ainda. Os abraços, os sorrisos, a interrupção da passagem de quem vem atrás... a farofada saudável de quem sente saudades.

Se estiver sozinha, você segue imaginando quem gostaria de ali rever.

Em direção rápida ao ponto de taxi/ônibus geladinho.
Pega-o.

E ao seu novo destino (temporário ou não) você segue, possivelmente como eu, mais feliz.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Arranhando o disco aos 26 anos

Já se sentiu perdido em algum momento próximo ao seu aniversário?
Como se a agulha do tocador de LP de repente parasse e chegasse até a arranhar seu precioso Long Play?
A música parou por um instante.
Um instante crucial daquela faixa.
Talvez o mais importante para a harmonia do ambiente.

Subitamente você para a dança, o sorriso, ou pior, a cantoria.
E repara no ambiente.
A música, como uma ducha fria num dia congelante, te desperta para uma realidade distante da que você figurava enquanto vivia o sonho com o disco.

Antes que você possa voltar a por a agulha no lugar percebe que não há mais volta.
Você já não consegue tirar o olho da bagunça, da poeira, da realidade enferrujada.
Então, o ar que você exala paresse ficar escasso.
Um frio ronda o seu ventre.
A garganta entala.
A saliva se esvai.
E quando a pontada no peito chega, bem, assume a hora o desespero.

'O que eu fiz de minha realidade?' - você se intimida aos prantos vindouros.
A música fantasiava tudo tão bem que nem havia tempo para se preocupar em limpar os móveis, fechar a janela na época da chuva e evitar que papéis importantes em sua vida fossem desperdiçados.

Seria tão mais prático voltar a se concentrar no LP. Mas e o que há de concreto?
E as questões persistem em sua mente já torpe de pensamentos conflituosos.
'Por que me levei até este ponto?'
'Onde estava antes dessa bagunça?'
'Onde estão todos que pareciam estar comigo durante a música?'

Por mais difícil que seja aceitar aquele cenário é de sua responsabilidade.
É sua 'casa'.
É sua vida.

Aos poucos a claridade chega. A vista vai desembaraçando.
Porém, nada que faça tudo aquilo desaparecer. Pelo contrário, a realidade se torna tão lustrosa que você enxerga falhas há bastante tempo existentes por ali.
E compreende o valor do tempo perdido.

Não há memória que atinja o seu objetivo naquele momento: você não vai conseguir num piscar de olhos voltar e evitar o que aconteceu.

Entretanto, num súbito ar otimista que chega aos seus alvéolos, você percebe que ainda tem acesso ao tempo presente e evitar um reforço de um passado desperdiçado.

Não vai ser nada prazeroso limpar essa bagunça toda.
Ninguém disse que ter uma casa seria fácil.
Brincar de Barbie sempre será divertido.
Mas não será a sua vida.

Meu aniversário se aproxima novamente. Como há 26 anos. Muitos dos planos passados foram molhados e apagados. Não têm volta. Aqueles papéis já estão rotos demais para serem reescritos.

Separar o lixo é árduo. Chato. E meio angustiante. 'Por que os deixei se decompor?'
Foram-se.

Há outras chances, claro. Há papéis em estados melhores, ou menos piores.
E há sempre uma reserva de 'Chamequinho' e de caneta 'Compactor' (a Bic anda uma porcaria por isso a mudança necessária - tá vendo como é bom perceber certas coisas?).

Tenho saudades da música. Cantar é sempre tão mais feliz do que por as mãos na vassoura.
Aspirador de pó seria mais rápido, mas em nossas vidas não temos tanta tecnologia quando se trata de recolher momentos passados para a pasta 'Lixeira' de nosso próprio sistema operacional.

Bem, ando com ideias preguiçosas. É tão melhor metaforizar a vida do que vivê-la.
É lasca mesmo.
Então, com licença, preciso me lascar um bocado - afinal, a poeira está aumentando. E há indícios de nova chuva - caso não consiga organizar os móveis daqui até chegar à janela talvez mais papéis sejam perdidos.